Resumo da notícia
- Pesquisadores da Unesp desenvolveram técnica que reduz em 25% o uso de fertilizantes nitrogenados no milho, mantendo produtividade.
- Uso excessivo de fertilizantes nitrogenados libera óxido nitroso, gás 265 vezes mais poluente que CO2, agravando a crise ambiental.
- Combinação das bactérias Azospirillum brasilense e Bacillus subtilis melhora crescimento, eficiência do nitrogênio e resistência do milho.
- Brasil é referência mundial em agricultura sustentável, com avanços pioneiros na redução do uso de fertilizantes nitrogenados.
Resumo gerado pela redação.
Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) desenvolveram uma técnica inovadora que promete transformar o cultivo do milho no Brasil. O uso combinado de duas bactérias específicas reduziu em 25% a necessidade de fertilizantes nitrogenados, mantendo – e até aumentando – a produtividade das lavouras.
O nitrogênio é um dos três macronutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas, ao lado do potássio e do fósforo (NPK). Entre eles, é o mais caro e exigido pelas culturas.
“O nitrogênio é fundamental para o crescimento vegetal, desenvolvimento das raízes e fotossíntese”, explica o engenheiro agrônomo Fernando Shintate Galindo, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas (FCAT) da Unesp.
Contudo, os fertilizantes nitrogenados apresentam problemas sérios. Sua eficiência raramente supera 50% devido a perdas por lixiviação, volatilização e desnitrificação.
Impactos ambientais preocupantes
O uso excessivo desses fertilizantes gera consequências ambientais graves. A aplicação libera óxido nitroso, um gás 265 vezes mais poluente que o dióxido de carbono.
Este gás permanece na atmosfera por mais de cem anos e contribui para a destruição da camada de ozônio. No solo, o excesso de nitrogênio pode contaminar corpos d’água, causando eutrofização de rios e lagos.
Brasil: pioneiro em soluções sustentáveis
O Brasil se destaca mundalmente na redução de fertilizantes nitrogenados em cultivos de leguminosas como a soja. Esta expertise começou nos anos 60, com pesquisadoras pioneiras como Johanna Döbereiner e Mariangela Hungria.
Hungria foi laureada em maio de 2025 com o Prêmio Mundial da Alimentação, considerado o “Nobel da Agricultura”. A revista Frontiers in Microbiology reconheceu o sucesso brasileiro como um dos 14 exemplos mundiais de uso eficiente de microrganismos na agricultura.
Durante dois anos, a equipe de Galindo testou a combinação de duas bactérias no cultivo do milho: Azospirillum brasilense e Bacillus subtilis. A primeira é conhecida pela fixação de nitrogênio e estímulo ao crescimento. A segunda promove o desenvolvimento radicular e oferece resistência a pragas e doenças.

O experimento, apoiado pela Fapesp, envolveu testes em três localidades diferentes com quatro configurações de plantio.
Resultados surpreendentes
A pesquisa confirmou que o consórcio das duas bactérias, combinado com doses ideais de nitrogênio, melhorou significativamente a eficiência do macronutriente.
Os benefícios incluíram:
- Melhor crescimento aéreo e radicular
- Aumento na captação de CO2
- Maior eficiência no uso da água
- Redução do estresse oxidativo
“A inoculação complementa a adubação nitrogenada com excelentes resultados, mas não a substitui”, esclarece Galindo.
Economia bilionária
Os resultados mostraram que a taxa ótima de nitrogênio pode ser reduzida de 240 kg N/ha para 175 kg N/ha. Esta redução mantém a produtividade e ainda a aumenta em 5,2%.
A economia para o produtor seria de aproximadamente R$ 130 por hectare. Considerando os 22 milhões de hectares de milho no Brasil, a economia total chegaria a R$ 2,86 bilhões anuais.
Além da economia financeira, a técnica reduziria a emissão de dióxido de carbono em 682,5 kg CO2e/ha.
“Isso é o visível, aquilo que conseguimos mensurar. Existem ainda questões ambientais e climáticas que não conseguimos mensurar tão bem, mas que precisam ser consideradas”, conclui o pesquisador.
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