Pesquisa da Unesp mostra redução de 25% nos fertilizantes e aumento de 5,2% na produtividade
Foto: Fernando Galindo/Jornal da Unesp

Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) desenvolveram uma técnica inovadora que promete transformar o cultivo do milho no Brasil. O uso combinado de duas bactérias específicas reduziu em 25% a necessidade de fertilizantes nitrogenados, mantendo – e até aumentando – a produtividade das lavouras.

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O nitrogênio é um dos três macronutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas, ao lado do potássio e do fósforo (NPK). Entre eles, é o mais caro e exigido pelas culturas.

“O nitrogênio é fundamental para o crescimento vegetal, desenvolvimento das raízes e fotossíntese”, explica o engenheiro agrônomo Fernando Shintate Galindo, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Tecnológicas (FCAT) da Unesp.

Contudo, os fertilizantes nitrogenados apresentam problemas sérios. Sua eficiência raramente supera 50% devido a perdas por lixiviação, volatilização e desnitrificação.

Impactos ambientais preocupantes

O uso excessivo desses fertilizantes gera consequências ambientais graves. A aplicação libera óxido nitroso, um gás 265 vezes mais poluente que o dióxido de carbono.

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Este gás permanece na atmosfera por mais de cem anos e contribui para a destruição da camada de ozônio. No solo, o excesso de nitrogênio pode contaminar corpos d’água, causando eutrofização de rios e lagos.

Brasil: pioneiro em soluções sustentáveis

O Brasil se destaca mundalmente na redução de fertilizantes nitrogenados em cultivos de leguminosas como a soja. Esta expertise começou nos anos 60, com pesquisadoras pioneiras como Johanna Döbereiner e Mariangela Hungria.

Hungria foi laureada em maio de 2025 com o Prêmio Mundial da Alimentação, considerado o “Nobel da Agricultura”. A revista Frontiers in Microbiology reconheceu o sucesso brasileiro como um dos 14 exemplos mundiais de uso eficiente de microrganismos na agricultura.

Durante dois anos, a equipe de Galindo testou a combinação de duas bactérias no cultivo do milho: Azospirillum brasilense e Bacillus subtilis. A primeira é conhecida pela fixação de nitrogênio e estímulo ao crescimento. A segunda promove o desenvolvimento radicular e oferece resistência a pragas e doenças.

Processo de aplicação de inoculante contendo dois tipos de bactérias nas sementes do milho. Foto: Fernando Galindo/Jornal da Unesp

O experimento, apoiado pela Fapesp, envolveu testes em três localidades diferentes com quatro configurações de plantio.

Resultados surpreendentes

A pesquisa confirmou que o consórcio das duas bactérias, combinado com doses ideais de nitrogênio, melhorou significativamente a eficiência do macronutriente.

Os benefícios incluíram:

  • Melhor crescimento aéreo e radicular
  • Aumento na captação de CO2
  • Maior eficiência no uso da água
  • Redução do estresse oxidativo

“A inoculação complementa a adubação nitrogenada com excelentes resultados, mas não a substitui”, esclarece Galindo.

Economia bilionária

Os resultados mostraram que a taxa ótima de nitrogênio pode ser reduzida de 240 kg N/ha para 175 kg N/ha. Esta redução mantém a produtividade e ainda a aumenta em 5,2%.

A economia para o produtor seria de aproximadamente R$ 130 por hectare. Considerando os 22 milhões de hectares de milho no Brasil, a economia total chegaria a R$ 2,86 bilhões anuais.

Além da economia financeira, a técnica reduziria a emissão de dióxido de carbono em 682,5 kg CO2e/ha.

“Isso é o visível, aquilo que conseguimos mensurar. Existem ainda questões ambientais e climáticas que não conseguimos mensurar tão bem, mas que precisam ser consideradas”, conclui o pesquisador.

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