Resumo da notícia
- O Ibama lançou na COP30 um programa integrado para resgatar, reabilitar e proteger peixes-boi na Amazônia, atuando no Pará com instituições públicas, universidades e ONGs para fortalecer habitats naturais e aumentar solturas.
- O aumento de encalhes, especialmente de filhotes, em 2023 e 2025 reflete a degradação ambiental e mudanças climáticas, intensificando a necessidade de ações de conservação e monitoramento da espécie ameaçada.
- O programa planeja expandir suas atividades para os estados do Amazonas e Amapá, incluindo a criação de novos recintos de aclimatação para facilitar a soltura dos peixes-boi e garantir maior abrangência territorial.
- Parcerias com órgãos como ICMBio, universidades e setor privado fortalecem a iniciativa, que também conta com infraestrutura viabilizada por licenciamento ambiental, incluindo centros de reabilitação e unidades de estabilização na região.
O Ibama apresentou durante a COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas realizada em 2025, um programa de conservação que reúne instituições públicas, universidades e organizações da sociedade civil para proteger os peixes-boi na Amazônia. A iniciativa desenvolvida no Pará resgata, reabilita e solta esses mamíferos aquáticos enquanto fortalece a proteção de seus habitats naturais.
O superintendente do Ibama no Pará, Alex Lacerda de Souza, explicou que o programa atua em múltiplas frentes. As equipes resgatam peixes-boi encalhados, reabilitam os animais e preparam indivíduos aptos para retornarem à natureza. O trabalho inclui campanhas de conscientização, treinamentos em primeiros socorros e transferência dos animais para recintos de readaptação em ambiente natural.
Encalhes aumentam e refletem crise ambiental
Os registros de encalhes cresceram nos últimos anos, principalmente de filhotes. “Enquanto anos anteriores registraram ocorrências pontuais, 2023 e 2025 apresentaram picos significativos”, afirmou Alex. Segundo o superintendente, o aumento reflete a degradação de habitats, os efeitos das mudanças climáticas e pressões históricas sobre a espécie.
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O programa estabelece como metas o fortalecimento das solturas, o monitoramento dos indivíduos na natureza e a expansão territorial. “A ideia prevê que o programa alcance inicialmente o Amazonas e o Amapá. Em breve, inauguraremos mais recintos de aclimatação para viabilizar a soltura desses animais”, declarou Alex.
Rede de parceiros amplia resultados
A iniciativa conta com diversos parceiros: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Universidade Federal do Pará (UFPA), Zoounama e Instituto Bicho D’Água. Recentemente, o Grupamento Aéreo de Segurança Pública do Pará (GRAESP), o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (IDEFLOR-Bio) e a Prefeitura de Soure aderiram ao programa.

Alex destacou que a cooperação com ONGs e empresas privadas potencializa os resultados. “Felizmente, o Pará possui parceiros excelentes e de longa data. A iniciativa privada contribui significativamente por meio de apoio, doações e recursos”, declarou. O Centro de Triagem de Animais Silvestres de Benevides, inaugurado em outubro com apoio da ONG Proteção Animal Mundial, exemplifica essa colaboração bem-sucedida.
O Licenciamento Ambiental do Ibama também contribui para o programa. Uma condicionante da licença concedida à empresa TGS para pesquisa sísmica marítima resultou na estruturação de um Centro de Reabilitação de Peixes-boi em Castanhal, uma Unidade de Estabilização de Animais Marinhos em Soure e um recinto de aclimatação pré-soltura em Soure, inaugurado em 3 de novembro.
O “jardineiro da Amazônia”
O Trichechus inunguis, peixe-boi-da-Amazônia, é um mamífero aquático herbívoro endêmico da bacia amazônica e o menor entre os três tipos de peixe-boi existentes. Conhecido como “jardineiro da Amazônia”, o animal controla a proliferação de plantas aquáticas e dispersa sementes entre áreas de várzea e igapós, favorecendo a regeneração dos ecossistemas.
O peixe-boi também mantém a navegabilidade dos cursos d’água. Cada animal consome entre 40 e 60 quilos de plantas aquáticas diariamente, o equivalente a cerca de 10% de seu peso corporal. Esse consumo evita a obstrução natural de canais e permite o fluxo hídrico em áreas mais estreitas.