A agricultura brasileira está vivenciando uma transformação tecnológica silenciosa, mas revolucionária. Os drones agrícolas, antes considerados equipamentos futuristas, agora fazem parte da realidade de milhares de produtores rurais em todo o país. Com capacidade de pulverizar mais de 100 hectares por dia e custos que variam entre R$ 100 e R$ 400 por hectare, essa tecnologia está redefinindo os conceitos de eficiência e sustentabilidade no campo.
O mercado de drones agrícolas no Brasil experimentou um crescimento exponencial, especialmente após 2022, quando foram lançados modelos com tanques de 40 litros ou mais. Essa evolução tecnológica tornou viável a pulverização de grandes áreas em um único dia, ampliando significativamente a atratividade da tecnologia para agricultores e prestadores de serviços.
Rafael Moreira Soares, pesquisador da Embrapa Soja e coautor do documento “Uso de drones agrícolas no Brasil: da pesquisa à prática”, explica que os modelos mais comuns são os multirrotores e os de asa fixa, equipados com motorização elétrica por baterias. “Eles são classificados de acordo com o peso e altura máxima de voo permitida, possuindo diversos tipos de hardware, software, câmeras e sensores”, destaca o especialista.
Investimento e retorno: a matemática do negócio
Para quem pretende ingressar no mercado de prestação de serviços com drones agrícolas, o empresário Eugênio Passos Schröder, coautor da publicação, alerta que o investimento total equivale a cerca de três vezes o valor do equipamento. “É preciso considerar não apenas o drone, mas também acessórios, veículos para operação, estrutura administrativa e capital de giro”, explica.
O custo para contratar uma aplicação com drones varia conforme diversos fatores, incluindo relevo, vegetação da área, complexidade da operação e tipo de produto aplicado. Os preços oscilam entre R$ 100 e R$ 400 por hectare, amplitude que reflete a diversidade de cenários e exigências técnicas específicas do setor.
Vantagens competitivas dos drones agrícolas
A tecnologia oferece benefícios únicos que a posicionam como uma alternativa intermediária entre pulverizadores terrestres e aviões agrícolas:
- Segurança e Saúde: remoção do operador humano da área pulverizada, reduzindo significativamente os riscos à saúde dos trabalhadores rurais.
- Preservação do Solo:ausência total de compactação do solo, problema comum em máquinas terrestres de pulverização, além de não causar amassamento das culturas.
- Eficiência Operacional: independência das condições de tráfego do solo e baixo consumo de água, fatores que aumentam a produtividade das operações.
- Rastreabilidade: registro detalhado de dados e mapeamento completo das aplicações, proporcionando maior controle e transparência nos processos.
Regulamentação
A operação de drones agrícolas no Brasil é regulamentada por múltiplas agências governamentais. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) é responsável pela homologação dos equipamentos que transmitem radiofrequência, enquanto a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) regula as atividades da aviação civil.

O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) gerencia as atividades relacionadas ao controle do espaço aéreo brasileiro, autorizando voos em áreas restritas. Complementarmente, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) estabelece regras específicas para operação de aeronaves destinadas à aplicação de agrotóxicos, fertilizantes, inoculantes e sementes.
Inovações tecnológicas em desenvolvimento
A tecnologia dos drones agrícolas está em constante evolução. Uma das principais tendências é a adoção de bicos rotativos nos principais modelos do mercado, substituindo as tradicionais pontas hidráulicas. “O bico rotativo consiste numa ponta com disco giratório de alta velocidade que oferece a opção de controlar o tamanho de gotas geradas, aumentando a uniformidade do espectro e eliminando gotas muito finas que causam deriva”, explica Soares.
Apesar dos avanços, o setor ainda enfrenta desafios significativos. Faltam dados e pesquisas para determinar parâmetros essenciais como taxa de aplicação de calda, velocidade e altura de trabalho ideais, além de estudos sobre deposição e uniformidade de gotas.
“É um trabalho incessante, pois, além da atualização das máquinas, aumenta cada vez mais a diversidade de culturas, produtos e alvos envolvidos”, avalia Soares, destacando que os equipamentos se encontram em franca evolução e se modernizam anualmente.
Lançamento Oficial no Congresso Brasileiro de Soja
A publicação “Uso de drones agrícolas no Brasil: da pesquisa à prática” será oficialmente lançada durante o Congresso Brasileiro de Soja e o Mercosoja 2025. O evento acontecerá de 21 a 24 de julho em Campinas (SP). O pesquisador Rafael Soares ministrará palestra sobre a temática no painel técnico sobre tecnologias de aplicação aérea.
Para agricultores e empreendedores interessados em ingressar no mercado de drones agrícolas, os especialistas recomendam análise criteriosa de fatores como legislação vigente, seleção adequada de equipamentos, capacitação técnica, planejamento financeiro detalhado e identificação do mercado potencial.
O estabelecimento de parcerias estratégicas com produtores rurais, cooperativas, associações de agricultores e fabricantes de drones também é fundamental para o sucesso do negócio.
A revolução dos drones agrícolas no Brasil não é apenas uma tendência tecnológica. Mas uma realidade que está transformando a agricultura nacional, oferecendo oportunidades de negócio promissoras e contribuindo para uma agricultura mais sustentável e eficiente.
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