BRS Jacundá promete revolucionar cultivo de mandioca com resistência a pragas e polpa amarela tradicional
Foto: Sara Rangel /Embrapa

Agricultores do Amazonas ganham, a partir de 9 de outubro, acesso a uma variedade de mandioca que pode transformar a produção estadual. A Embrapa Amazônia Ocidental desenvolveu a BRS Jacundá, cultivar que apresenta produtividade superior a 30 mil quilos por hectare, mais de 300% acima da média estadual de 10.560 kg/ha.

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A nova mandioca reúne características que os produtores procuram: polpa amarela, resistência a pragas e doenças, além de alto teor de amido. A cultivar atende especialmente à preferência local pela farinha de mandioca brava com coloração amarela.

Embrapa apresenta nova cultivar em evento para produtores

A Embrapa realiza um dia de campo na próxima quarta-feira, 9 de outubro, em sua sede em Manaus. O evento reunirá produtores rurais, técnicos de extensão rural, fornecedores de maniva-semente, representantes da agroindústria e parceiros institucionais.

Os pesquisadores vão compartilhar dados compilados de agricultores que já testaram a BRS Jacundá em suas propriedades. A iniciativa busca acelerar a adoção da nova variedade no estado.

O pesquisador Ferdinando Barreto, da Embrapa, destaca que a cultivar se adapta bem ao ambiente de terra firme. “Com manejo adequado, as características qualitativas de raiz e a tolerância às principais pragas e doenças favorecem a adoção da nova cultivar, especialmente em regiões de terra firme. Ela deve contribuir para a segurança alimentar e para o fortalecimento da cadeia produtiva da mandioca no Amazonas”, afirma.

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A microrregião do Médio Solimões, que abrange Tefé, Uarini e Alvarães, concentra atualmente seus plantios em praticamente uma única variedade: a “Catombo”. Barreto explica que a BRS Jacundá tem potencial para fortalecer a cadeia produtiva da mandioca, especialmente nessas regiões onde a cultura sustenta a economia agrícola.

Mandioca garante segurança alimentar na região

A mandioca desempenha papel estratégico na vida de milhares de agricultores amazonenses. Consumida in natura ou como farinha, a raiz fornece carboidratos principalmente à população rural de menor renda. A cultura gera trabalho e renda pela comercialização do produto e seus derivados.

Foto: Maria José Tupinambá/Embrapa

A Embrapa Amazônia Ocidental desenvolve pesquisas em melhoramento genético de mandioca em parceria com a Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA). Os estudos buscam identificar materiais genéticos com características agronômicas superiores às variedades tradicionais.

Polpa amarela atende preferência local

Os amazonenses preferem consumir farinha de mandioca brava com polpa de coloração amarela. A BRS Jacundá atende a esse critério definido pelos próprios agricultores, principalmente para o processamento de farinha e tucupi.

Os pesquisadores acreditam que a polpa amarela, aliada à alta produtividade de raízes, alta disponibilidade de manivas-sementes e alto teor de amido, deve favorecer a ampla adoção da cultivar no estado.

A concentração em uma única variedade expõe os cultivos permanentemente a estresses bióticos (pragas e doenças) e abióticos (calor, seca, chuvas). Essa situação indica que as variedades de mandioca passam por processo de erosão genética — a perda gradual da diversidade de genes de uma espécie.

Duas décadas de pesquisa e melhoramento

A Embrapa iniciou o desenvolvimento da BRS Jacundá há mais de 20 anos, com a coleta de germoplasma no município de Uarini em 1997. Desde então, a variedade passou por rigorosos testes de rendimento, resistência e estabilidade.

Os agricultores da época indicaram que o material genético apresentava ciclo precoce e havia sido selecionado em ambiente de terra firme. A equipe incorporou esse material ao Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de Mandioca da Embrapa Amazônia Ocidental em 1997.

Os pesquisadores aplicaram o método de seleção massal no melhoramento da cultivar. As plantas em campo passaram por caracterização e avaliação no BAG da Embrapa em Manaus, utilizando descritores padronizados para manejo de recursos genéticos da mandioca.

As pesquisas em campo começaram em 1998 e se repetiram por vários ciclos de produção. Nos anos seguintes, a BRS Jacundá participou de diversas avaliações em provas de rendimento agronômico e testes específicos de resistência a pragas e doenças. A variedade também passou por testes de distinguibilidade, homogeneidade e estabilidade (DHE) em ambiente de terra firme de diferentes regiões do Amazonas.

Orientações para o plantio

Os agricultores devem adotar o espaçamento de 1 metro x 1 metro em sistemas de plantio solteiro na terra firme, para uma densidade de 10 mil plantas por hectare. Os pesquisadores recomendam essa configuração também para plantios mecanizados.

A Embrapa orienta evitar plantios sucessivos em uma mesma área, devido ao aumento de podridões de raízes. A cultura da mandioca tem crescimento inicial lento. Quando consorciada, a cultura consorte deve ter crescimento rápido, protegendo o solo enquanto a mandioca desenvolve sua copa.

A produção em sistema de monocultivo por mais de dois anos na mesma área provoca degradação física, química e biológica do solo, diminuindo a produtividade. A rotação utiliza outras espécies de plantas na área antes ocupada pela mandioca, evitando a incorporação de novas áreas ao processo produtivo.

Os especialistas recomendam as gramíneas milho e sorgo para rotação, além das leguminosas feijão-caupi, mucuna, tephrosia e flemingia.

O plantio da BRS Jacundá deve ocorrer no início do período chuvoso, entre novembro e dezembro. Se necessário, os produtores podem estender o plantio a outros meses, exceto àqueles de menor precipitação pluviométrica.

O período ideal de colheita varia de oito a dez meses após o plantio. A colheita pode se estender até 12 meses, se necessário.