Tecnologia mapeia pragas e pode evitar prejuízos milionários na cultura da noz premium
Foto: Leonardo Moriya/Embrapa

A produção brasileira de macadâmia acaba de ganhar uma arma poderosa contra pragas e doenças. A Embrapa Meio Ambiente (SP) desenvolveu o InsetoNutWeb, um sistema digital gratuito que reúne informações inéditas sobre insetos e ácaros que afetam plantações de macadâmia no Brasil e em 20 países produtores.

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O sistema web, acessível por computadores e tablets iOS e Android, representa um marco para o setor. Pela primeira vez, o Brasil conta com uma ferramenta tecnológica específica para mapear a entomofauna e acarofauna da macadâmia – conjunto de insetos e ácaros que podem ser tanto pragas quanto inimigos naturais.

“Trata-se de um sistema inovador, uma vez que não existe no País tecnologia semelhante com foco nessa noz”, explica a pesquisadora Jeanne Prado, líder do projeto InsetoNut.

A iniciativa nasceu de um acordo de cooperação técnica entre Embrapa e QueenNut Indústria e Comércio de Alimentos, executado entre setembro de 2019 e setembro de 2024. O projeto mapeou tanto espécies já presentes no Brasil quanto pragas exóticas identificadas em países como Austrália, África do Sul, China, Estados Unidos e Nova Zelândia.

Sistema InsetoNutWeb identifica 18 espécies quarentenárias que ameaçam cultivos brasileiros e oferece informações estratégicas para produtores. Foto: Leonardo Moriya/Embrapa

O trabalho de campo se concentrou principalmente em Dois Córregos (SP), importante polo produtor nacional, onde foram coletados ramos, folhas e frutos das cultivares IAC 4-12B e HAES 333 entre 2020 e 2025.

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18 pragas quarentenárias ameaçam cultivos nacionais

Uma das descobertas mais alarmantes do estudo foi a identificação de 18 espécies exóticas sinalizadas pelo Ministério da Agricultura como Pragas Quarentenárias Ausentes (PQA) para o Brasil. Essas pragas representam risco iminente de entrada no País com potencial para causar prejuízos não apenas à macadâmia, mas a diversos outros cultivos nacionais.

Flores e frutos da macadâmia. Foto: Leonardo Moriya

“Muitas são as espécies de pragas relatadas no exterior e com possibilidade de ingresso no país, sendo necessário conhecê-las para realizar prevenção e monitoramento apropriados”, alerta a pesquisadora Maria Conceição Pessoa.

Sistema oferece interface interativa para produtores

O InsetoNutWeb se destaca pela interface interativa que permite buscas detalhadas sobre espécies identificadas. Os usuários podem consultar:

  • Hábitos alimentares de insetos e ácaros
  • Localização das pragas nas plantas
  • Fotografias das espécies coletadas
  • Informações para Manejo Integrado de Pragas (MIP)

Mercado da macadâmia cresce 55% globalmente

O timing do lançamento é estratégico. Dados do International Nut & Dried Fruit Council mostram que o consumo de castanhas e nozes cresceu 55% entre 2008 e 2018 em países de economia alta e média, categoria na qual o Brasil se insere.

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Atualmente, o País possui plantações comerciais em nove estados: Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo – este último responsável por 50% da produção nacional.

Apesar do potencial, o setor enfrenta obstáculos importantes. A produção brasileira despencou cerca de 30% em 2025, caindo de picos de 8.500 toneladas em 2019 para menos de 4 mil toneladas. A queda é atribuída principalmente a condições climáticas adversas, como seca e calor excessivo durante a floração.

Investimento alto, mas rentabilidade atrativa

O cultivo da macadâmia exige:

  • Investimento inicial: R$ 15 mil por hectare
  • Custos operacionais anuais: até R$ 25 mil por hectare
  • Receita potencial: R$ 50 mil por hectare em safras favoráveis
  • Preço no mercado interno: até R$ 180 por quilo beneficiada

Brasil busca posição no mercado global

Embora esteja entre os dez maiores produtores mundiais, o Brasil representa menos de 3% da produção global. No entanto, o mercado mundial cresce mais de 8% ao ano, tornando a macadâmia a oleaginosa de maior valorização atualmente.

O engenheiro agrônomo Leonardo Moriya, da QueenNut, destaca que o sistema tem potencial para apoiar planos oficiais de emergência contra pragas quarentenárias, fortalecendo a defesa fitossanitária nacional.

Tecnologia fortalece “minor crops” brasileiras

O InsetoNutWeb representa um avanço importante para as chamadas Culturas com Suporte Fitossanitário Insuficiente (CSFI), conhecidas como “minor crops”. A macadâmia está incluída no Grupo 1B (frutas com casca não comestível), junto com mamão e manga.

“A continuidade do monitoramento permitirá à cadeia produtiva brasileira se preparar melhor para os riscos fitossanitários”, enfatizam os pesquisadores Prado e Moriya.

Para consolidar a posição brasileira no mercado global da macadâmia, especialistas apontam a necessidade de:

  • Investimentos em genética e mecanização
  • Desenvolvimento de cultivares adaptadas ao clima tropical
  • Diversificação através de consórcios com outras culturas
  • Estratégias comerciais mais eficientes

O sistema InsetoNutWeb está disponível gratuitamente e representa um exemplo de como ciência aplicada e tecnologia podem impulsionar culturas agrícolas estratégicas, fortalecendo a segurança fitossanitária do País.

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