Resumo da notícia
- O fenômeno La Niña, confirmado para os próximos meses, já altera padrões de chuva e temperatura no Brasil, criando incertezas para o agronegócio e exigindo manejo hídrico mais técnico para preservar a produtividade.
- O impacto da La Niña varia regionalmente: Norte e Nordeste têm mais chuvas, o Sul enfrenta estiagem e calor, e Centro-Oeste e Sudeste apresentam irregularidades, aumentando riscos e a necessidade de atenção na irrigação.
- Apesar da La Niña ser associada ao resfriamento do Pacífico, o Brasil teve o verão mais quente desde 1961, elevando a demanda por água nas culturas, o que pressiona recursos hídricos e torna a agricultura mais vulnerável.
- A adoção de tecnologias de monitoramento e irrigação automatizada, com sensores que medem umidade e evapotranspiração, é fundamental para uma gestão hídrica eficiente e adaptada às condições climáticas imprevisíveis.
Confirmado para os próximos meses, o fenômeno La Niña, mesmo de intensidade fraca a moderada, já altera os mapas de chuva e temperatura no Brasil, reforçando um cenário de incertezas climáticas para o agronegócio. A instabilidade exige dos produtores rurais um manejo hídrico mais técnico e previsível para não comprometer a produtividade.
De acordo com Danilo Silva, gerente agronômico da Netafim, a confirmação do fenômeno, em um ano que começou com expectativa de neutralidade, acende um sinal de alerta. “Temos observado uma La Niña de intensidade leve, mas que já provoca alterações perceptíveis”, explica.
Contrastes regionais e imprevisibilidade
O efeito do fenômeno não é uniforme em todo o país. Enquanto o Norte e Nordeste registram aumento de chuvas, o Sul enfrenta períodos mais secos e o Centro-Oeste e Sudeste têm um comportamento irregular.
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“Mesmo uma La Niña considerada fraca pode intensificar contrastes regionais. No Sul, a combinação de temperaturas elevadas e estiagem exige atenção redobrada na irrigação. Já no Nordeste, há municípios com veranicos superiores a 60 dias, um comportamento atípico, enquanto em outras áreas o excesso de chuvas preocupa”, detalha Silva.
Essa instabilidade pode facilitar a ocorrência de eventos climáticos extremos, como o tornado recente no Paraná. O especialista ressalta que, embora não haja ligação direta com a La Niña, o episódio evidencia a crescente variabilidade atmosférica.
Verão mais quente da história pressiona recursos hídricos
Um dos paradoxos destacados pelo especialista é que, apesar de a La Niña estar associada ao resfriamento do Pacífico, o Brasil registrou o verão mais quente desde 1961 no ciclo 2024/2025, justamente sob sua influência.
“Essa elevação térmica pressiona a demanda hídrica das culturas. Onde há irrigação, o sistema é mais utilizado. Onde não há, a dependência do clima aumenta e a produtividade fica mais vulnerável”, alerta Silva.
Tecnologia e monitoramento como estratégia
Para enfrentar a imprevisibilidade, a antecipação e o uso de dados tornam-se essenciais. Silva defende a correlação de informações de diferentes sensores para uma gestão precisa.
“Uma estação meteorológica bem instalada permite calcular a evapotranspiração com precisão. Quando combinamos esses dados com sensores de umidade do solo, entendemos quanto de água o solo retém e qual volume precisa ser reposto”, explica.
Na prática, essa integração é viabilizada por controladores de irrigação, como os da linha GrowSphere™, que automatizam bombas e válvulas, permitindo operação remota e adaptada a cada ambiente.
Não existe receita pronta
Diante da irregularidade, o especialista é categórico: não existe fórmula única. Em situações de demanda hídrica muito elevada, algumas propriedades podem precisar ajustar os turnos de rega, considerando tipo de solo, estágio da cultura e metas de produtividade.
“É uma construção conjunta entre produtor, consultor e agrônomo. No fim do dia, entender a dinâmica clima-solo-planta-atmosfera é fundamental para enfrentar essas incertezas”, conclui Silva.