UFSCar lidera pesquisa que mapeia futuro da espécie nos próximos 100 anos
Foto: Mariana Breziski/Jornal da Unesp

Pesquisadores brasileiros e internacionais descobriram um problema crítico na conservação do mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus). A espécie, que existe apenas em São Paulo, pode perder diversidade genética essencial nas próximas duas décadas.

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O grupo científico analisou populações da espécie mantidas em cativeiro no Brasil e exterior. Os resultados mostram cenários preocupantes para a sobrevivência do primata nos próximos 100 anos.

“Uma população menos diversa geneticamente será mais sensível a qualquer fator externo”, explica Laurence Culot, pesquisadora do Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro. A cientista integrou o estudo publicado na revista PLOS ONE.

O mico-leão-preto enfrenta ameaças desde o século passado. Entre 1900 e 1970, especialistas consideravam a espécie extinta. Apenas em 1973, programas de reprodução em cativeiro começaram a reverter esse quadro.

O sucesso do mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) inspirou essas estratégias. Esta espécie saltou de 200 indivíduos em 1970 para 4.800 exemplares em 2023, segundo dados da Associação Mico-Leão-Dourado.

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Metodologia revela cenários críticos

Nathalia Bulhões Javarotti conduziu a pesquisa durante seu mestrado na UFSCar. A orientação ficou a cargo de Patrícia Domingues de Freitas, do Departamento de Genética e Evolução.

Os pesquisadores criaram projeções baseadas em dados genéticos das populações em cativeiro. Também incluíram informações da população selvagem do Morro do Diabo, origem dos primeiros animais levados para reprodução ex-situ.

As projeções mostram dois cenários distintos. No primeiro, eventos críticos como doenças reduziriam a população. Neste caso, a diversidade genética duraria apenas 10 a 15 anos.

O segundo cenário, sem eventos extremos, também preocupa. A expectativa indica perda significativa da diversidade genética após 20 anos.

Solução passa por animais selvagens

Os pesquisadores propõem uma estratégia específica para reverter o quadro. A inserção de micos-leões-pretos selvagens nas populações de cativeiro representa a principal alternativa.

“Geralmente nós não queremos tirar um indivíduo de vida livre para colocar no cativeiro”, admite Culot. “Mas, quando isso ocorre, é ‘sangue novo’, é um indivíduo que pode ter material genético diferente dos outros.”

A diversidade genética funciona como proteção natural da espécie. Populações diversas resistem melhor a doenças e mudanças ambientais.

Quando todos os indivíduos compartilham características genéticas similares, qualquer ameaça externa afeta toda a população igualmente. Isso reduz drasticamente as chances de sobrevivência da espécie.

Manejo demanda planejamento urgente

As pesquisadoras enfatizam a necessidade de ações imediatas. O planejamento de medidas de manejo deve começar agora para evitar os cenários projetados.

O intercâmbio entre instituições conservacionistas já acontece atualmente. Porém, essa prática precisa incluir animais selvagens para garantir maior variabilidade genética.

A criação em cativeiro representa uma das principais ferramentas de conservação para espécies criticamente ameaçadas. O regime ex-situ permite manter populações estáveis enquanto os habitats naturais se recuperam.

No caso do mico-leão-preto, essa estratégia tem funcionado desde os anos 1970. Contudo, o sucesso a longo prazo depende do monitoramento genético constante.

Próximos passos da pesquisa

O estudo publicado na PLOS ONE estabelece bases científicas para futuras decisões de manejo. Os dados genéticos coletados orientarão estratégias de conservação nas próximas décadas.

A equipe continua monitorando as populações para acompanhar mudanças na diversidade genética. Essas informações são fundamentais para ajustar as estratégias conforme necessário.

O trabalho demonstra como a ciência pode guiar ações de conservação eficazes. No caso do mico-leão-preto, decisões tomadas hoje determinarão o futuro da espécie nos próximos 100 anos.

Leia a reportagem completa no Jornal da Unesp.