Neste 18 de julho de 2025, o Paraná relembra os 50 anos da Geada Negra, um dos eventos climáticos mais marcantes de sua história. O fenômeno, registrado em 1975, destruiu cerca de 60% dos cafezais do estado — na época, o maior produtor de café do Brasil — e acelerou uma profunda mudança no perfil agrícola regional. A data, símbolo do fim do ciclo do café paranaense, também representa o início de um novo capítulo marcado pela diversificação produtiva e pela modernização do agronegócio paranaense.
Na madrugada de 18 de julho de 1975, temperaturas negativas surpreenderam agricultores e autoridades. Segundo relatos de Eugênio Stefanelo, então diretor do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, a catástrofe já era prevista na véspera por causa da queda abrupta nas temperaturas. O saldo da geada foi devastador: cerca de 1,1 milhão de hectares dos 1,8 milhão de hectares plantados de café foram perdidos. O Paraná, que atingira 21,3 milhões de sacas e tinha 64% da produção nacional de café, perderia rapidamente protagonismo no setor.

Em 1975, a produção estadual chegou a 10,2 milhões de sacas, metade da safra nacional na época. O efeito negativo, porém, se consolidou nos anos seguintes. A participação paranaense foi caindo sucessivamente, para menos de 10% nos anos 1990, 5% nos anos 2000 e apenas 3% na década seguinte.
Diversificação e novos caminhos para a agricultura paranaense
O fim da hegemonia cafeeira levou o Paraná a se reinventar. A partir da catástrofe climática, agricultores se viram forçados a diversificar a produção. Os campos deram lugar à soja e outros grãos, o setor de hortifruticultura se fortaleceu e cadeias de proteína animal, como avicultura e suinocultura, cresceram significativamente. Segundo Stefanelo, o processo de diversificação permanece até hoje, inclusive com cafeicultores remanescentes focados na produção de cafés especiais.
Atualmente, a safra de café paranaense é de cerca de 718 mil sacas (43,1 mil toneladas) em uma área de 25,4 mil hectares, apenas 1% da colheita nacional. O Valor Bruto de Produção (VBP) do café no Paraná somou R$ 1,13 bilhão em 2024, equivalente a 0,6% da renda agropecuária estadual.
A principal região produtora do estado é o Norte Pioneiro, com duas indicações geográficas (IG): Café do Norte Pioneiro do Paraná e Café de Mandaguari, reconhecidos nacionalmente pela qualidade. O município de Carlópolis destaca-se, sendo responsável por 25% da produção estadual. De acordo com o Deral, cerca de 30% da produção paranaense já se encaixa na categoria de cafés especiais em safras favoráveis.
Evolução do café paranaense: qualidade, exportação e inclusão
O Paraná também investiu em diferenciação de mercado. O Concurso Café Qualidade Paraná, que chega à 22ª edição em 2025, apoia a excelência do produto local. Ainda há o incentivo à participação feminina, com projetos como o “Mulheres do Café” do IDR-Paraná, que promovem não só a produção, mas também agregação de valor e turismo rural.
Nas exportações, o Paraná enviou 21,8 mil toneladas de café verde e 33 mil toneladas de café solúvel ao exterior em 2024, o que gerou US$ 433 milhões. O desempenho segue positivo em 2025, apesar das preocupações com tarifas americanas.
Geada Negra e mudanças climáticas
Fenômenos de geada negra — fruto de massas polares secas que queimam as plantas pelo frio extremo — não são exclusivos do passado. O Paraná segue sujeito a eventos climáticos extremos e investe em monitoramento e tecnologia para minimizar os impactos. Em 2021, por exemplo, outra sequência de geadas prejudicou culturas como o milho e o café, lembrando a fragilidade da agricultura diante das mudanças climáticas.
Cinquenta anos depois, a Geada Negra segue como marco na memória coletiva dos agricultores e inspiração para estratégias de enfrentamento de desafios ambientais.
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