Resumo da notícia
- O mercado global de Fusões e Aquisições no agronegócio movimentou US$ 76 bilhões em 2024, com o Brasil apresentando crescimento de 140% no setor agropecuário em relação a 2023, destacando sua importância estratégica.
- Estudos mostram que incertezas econômicas reduzem o valor médio das aquisições, mas ativos com alto potencial de crescimento, como o agro brasileiro, mantêm valuations atrativos e geram oportunidades para investidores de médio e longo prazo.
- Em 2024, o segmento de fertilizantes liderou as operações agro, com transações relevantes como a compra de 50% da Mantiqueira Brasil pela JBS por R$ 1,9 bilhão, evidenciando o fortalecimento das fusões no setor de grãos e etanol.
- O setor de tecnologia agrícola (Agtech) cresce na América Latina, entrando pela primeira vez no ranking das dez principais verticais tecnológicas em 2024, mostrando inovação e potencial de expansão no agronegócio regional.
O mercado global de Fusões e Aquisições (M&A) no agronegócio movimentou US$ 76 bilhões em 2024, com o Brasil registrando um crescimento expressivo de 140% no segmento agropecuário em relação a 2023. Esta alta reforça o papel estratégico do setor agro na economia nacional e global, mesmo diante de cenários de incerteza econômica que afetam decisões de investidores.
Um estudo realizado por Ronaldo Rodrigues, senior associate da Zaxo Group, analisou mais de 20 mil transações entre 1990 e 2023 em 18 países. E identificou que períodos de alta incerteza sobre políticas econômicas tendem a reduzir o valor médio das aquisições em cerca de 6,7%. Contudo, quando os ativos apresentam forte potencial de crescimento, essa redução cai para menos de 1%, criando um ambiente propício para negociações competitivas e estratégicas.
Rodrigues destaca que o agronegócio brasileiro possui uma característica única: a produção não para e a demanda global se mantém constante, o que oferece valuations atrativos para investidores focados no médio e longo prazo. “O agro brasileiro oferece segurança e robustez, permitindo que investidores aproveitem oportunidades mesmo em tempos de instabilidade”, afirma.
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Dados da GlobalData confirmam este cenário, mostrando 977 operações de M&A agropecuárias no mundo em 2024. A Capstone Partners projeta que a receita bruta global da agricultura pode alcançar US$ 4,8 trilhões em 2025. Com os Estados Unidos respondendo por US$ 587 bilhões. No Brasil, entre janeiro e maio de 2025, foram registradas 596 operações de M&A, observando crescimento de 15% em comparação ao mesmo período de 2024, conforme relatório da PwC Brasil.
Agronegócio
Especificamente no agronegócio, apesar do crescimento recorde de 12 operações em 2024, houve desaceleração no primeiro semestre de 2025 com cinco transações, queda de 28,6% em comparação ao mesmo período do ano anterior, aponta a KPMG. Essa oscilação revela a resiliência do setor, porém expõe a sensibilidade a fatores conjunturais que exigem estratégias focadas no médio e longo prazo, segundo Ronaldo Rodrigues.
O segmento de fertilizantes liderou o setor, com nove transações em 2024. Das operações agro, cinco envolveram empresas brasileiras entre si. Outras três foram aquisições de empresas brasileiras por estrangeiros, três de brasileiros comprando ativos estrangeiro. E uma transação ocorreu entre dois grupos internacionais com atuação no Brasil.
Destaques como a compra de 50% da Mantiqueira Brasil, uma das maiores produtoras mundiais de ovos, pela JBS, avaliada em R$ 1,9 bilhão, e o controle do Grupo Safras adquirido por fundo da AM Agro marcam o fortalecimento das operações estratégicas no setor de grãos e etanol.
Além do crescimento de fusões e aquisições tradicionais, o setor de tecnologia agrícola (Agtech) surge com força na América Latina. Em 2024, o Agtech entrou pela primeira vez no ranking das dez principais verticais tecnológicas que mais atraíram investimentos, ocupando a oitava colocação. O segmento captou US$ 119 milhões em 37 rodadas de aporte, superando setores como logística, CRM e cleantech, segundo a LAVCA.
Vetor de inovação
Esse movimento consolida o agronegócio não apenas como motor econômico, mas também como vetor de inovação. Startups de agricultura de precisão, Internet das Coisas (IoT) no campo, inteligência artificial para manejo de safras e automação protagonizam a transformação tecnológica do setor. Especialistas associam o avanço do Agtech à crescente demanda por produtividade, sustentabilidade e eficiência, fatores que atraem investidores estratégicos para operações de M&A.
Jefferson Nesello, sócio-fundador da Zaxo, compara o ciclo de M&A ao ciclo produtivo da terra. “Momentos de instabilidade econômica podem ser ideais para preparar o terreno para aquisições estratégicas, garantindo colheitas mais ricas no futuro.” Leonardo Grisotto, também sócio-fundador, reforça que ativos agrícolas mantêm valorização constante e geram caixa mesmo em cenários adversos, propiciando negociações inteligentes em períodos de volatilidade.
A pesquisa destaca que, para cada 1% adicional em oportunidades de crescimento (growth options) durante turbulências, o valor dos negócios pode aumentar até 16%, chegando a 19% em mercados competitivos. Segundo Rodrigues, a volatilidade pode transformar-se em vantagem para players do agronegócio que dominam o ciclo do setor e o valor da terra.
Este estudo integra a tese de doutorado de Ronaldo Rodrigues na Universidade Federal do Paraná, sob orientação do professor Cláudio Marcelo Edwards. E oferece importantes insights para investidores e gestores que atuam em ambientes com incerteza macroeconômica.