Resumo da notícia
- A tradição das Jack O'Lanterns tem origem no festival celta de Samhain, quando se acreditava que espíritos cruzavam entre os mundos e se esculpiam vegetais para afastá-los, antes do uso das abóboras.
- A lenda de Stingy Jack conta que um ferreiro trapaceiro enganou o Diabo e, ao morrer, foi condenado a vagar entre os mundos com uma lanterna feita de um nabo com brasa para iluminar seu caminho.
- Jack O'Lantern surgiu como símbolo de advertência contra a vida de mentiras e manipulação, refletindo a história irlandesa e a crença na proteção contra espíritos malignos durante o Samhain.
- Com a imigração irlandesa para os EUA, a tradição mudou do nabo para a abóbora, mais abundante e fácil de esculpir, consolidando o símbolo icônico do Halloween que conhecemos hoje.
As icônicas abóboras esculpidas com rostos assustadores, conhecidas como Jack O’Lantern, são um dos símbolos mais reconhecíveis do Halloween em todo o mundo. Mas poucos sabem que essa tradição milenar não começou com abóboras e tem suas raízes profundas no folclore irlandês e nas antigas tradições celtas.
A história das lanternas de Halloween remonta ao festival celta de Samhain, celebrado em 1º de novembro. Os celtas acreditavam que nesta data o véu entre o mundo dos vivos e dos mortos se tornava mais fino, permitindo que espíritos atravessassem entre os dois mundos. Para afastar entidades malignas, as pessoas esculpiam rostos assustadores em vegetais abundantes da época, como nabos, batatas e beterrabas, colocando-os nas janelas e portas de suas casas.
A lenda de Stingy Jack
O nome “Jack O’Lantern” origina-se de uma antiga lenda irlandesa sobre um homem conhecido como Stingy Jack, ou “Jack, o Avarento”. Segundo o folclore popular, Jack era um ferreiro trapaceiro e manipulador que conseguiu enganar o Diabo em múltiplas ocasiões.
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A narrativa mais conhecida conta que Jack convidou o Diabo para beber e, não querendo pagar sua parte da conta, convenceu-o a se transformar em uma moeda. Quando o Diabo aceitou, Jack rapidamente colocou a moeda no bolso junto a um crucifixo de prata, impedindo que ele voltasse à sua forma original. Jack só libertou o Diabo mediante um acordo: ele não poderia incomodá-lo por um ano e, quando Jack morresse, não levaria sua alma.
No ano seguinte, Jack enganou o Diabo novamente, pedindo que subisse em uma árvore para pegar frutas. Com o Diabo no topo, Jack esculpiu uma cruz no tronco, fazendo-o prometer não perturbá-lo por dez anos.
O destino de Jack e a criação da lanterna
Quando Jack morreu, devido à sua natureza pecaminosa, Deus não o aceitou no céu. O Diabo, ainda ressentido pelos truques e preso por sua promessa, também recusou sua entrada no inferno. Condenado a vagar eternamente entre os dois mundos, o Diabo teve pena de Jack e lhe deu uma brasa de carvão em chamas para iluminar seu caminho na escuridão.

Jack colocou o carvão dentro de um nabo esculpido, criando uma lanterna para guiá-lo enquanto vagava pela eternidade. Assim nasceu o “Jack of the Lantern”, que posteriormente se contraiu para “Jack O’Lantern”. A história tornou-se um conto de advertência moral na Irlanda, alertando sobre as consequências de uma vida de mentiras e manipulação.
A transição dos nabos para as abóboras
Na Irlanda e na Escócia, as pessoas mantiveram a tradição de esculpir rostos assustadores em nabos e raízes, acreditando que isso ajudaria a manter Jack e outros espíritos malignos afastados durante a noite de Samhain. O Museu Nacional da Irlanda exibe moldes de gesso dessas antigas lanternas de nabo, que eram verdadeiramente assustadoras, com dentes irregulares e fendas sinistras nos olhos.
Com a grande imigração irlandesa para os Estados Unidos nos séculos XIX e XX, a tradição atravessou o Atlântico. Ao chegarem à América, os imigrantes descobriram que as abóboras, nativas do continente americano, eram muito mais abundantes, maiores e mais fáceis de esculpir do que os nabos europeus. Rapidamente, a abóbora substituiu o nabo como o vegetal oficial para criar as Jack O’Lanterns.
A tradição ganhou força na cultura americana especialmente durante a época da colheita de outono, coincidindo com o Dia de Ação de Graças e o Halloween. Escritores como Washington Irving, em “A Lenda de Sleepy Hollow” (1820), e Nathaniel Hawthorne ajudaram a consolidar a associação entre abóboras e o terror festivo na imaginação popular.
Acredita-se que a lenda do Jack O’Lantern foi associada oficialmente ao Halloween por volta de 1860, aproximadamente 30 anos após surgir na América do Norte. Desde então, as lanternas de abóbora tornaram-se a decoração mais clássica do Halloween, iluminando varandas e quintais como um convite para a celebração e símbolo de comunidade.
O mercado de abóboras no Brasil
Embora o Halloween seja uma tradição relativamente recente no Brasil, o país tem uma sólida produção de abóboras que movimenta milhões de reais anualmente e representa uma importante fonte de renda para milhares de agricultores familiares em diversas regiões.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através do Censo Agropecuário, a produção nacional de abóboras e morangas maduras alcança aproximadamente 385 mil toneladas por ano, cultivadas em uma área estimada de 88.150 hectares. Quando somadas as abobrinhas verdes, o volume anual pode ultrapassar 560 mil toneladas.

Dados mais recentes da Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (ABCSEM) estimam a produção brasileira em 726 mil toneladas anuais somente de abóboras japonesas (cabotiá ou tetsukabuto) e 551 mil toneladas de abobrinhas. Esses números colocam as abóboras entre as cinco principais hortaliças produzidas no Brasil.
A produtividade média brasileira é estimada em 4,37 toneladas por hectare, valor considerado baixo em relação ao potencial da cultura, principalmente devido ao nível tecnológico ainda básico adotado em algumas propriedades. No entanto, com o uso de tecnologias modernas e manejo adequado, é possível atingir produtividades entre 8 e 20 toneladas por hectare, e produtores com técnicas avançadas já alcançaram recordes de até 33 toneladas por hectare.
Principais estados produtores
De acordo com pesquisas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), os maiores produtores de abóbora no país são: Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Bahia, Paraná e Santa Catarina. Esses seis estados representam juntos impressionantes 84% do total comercializado no mercado nacional.
Minas Gerais se destaca como o maior estado produtor. Especialmente da variedade cabotiá (tetsukabuto), com aproximadamente 36 mil toneladas anuais e produtividade média de 15 toneladas por hectare. O estado lidera a produção tanto em volume quanto em inovação tecnológica no cultivo.
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O retorno sobre o investimento no cultivo de abóboras é considerado elevado devido à alta demanda no mercado interno. E ao fato de a abóbora fazer parte dos produtos agrícolas de exportação brasileira, com destinos principalmente para países europeus. As abóboras brasileiras são amplamente empregadas em várias áreas, incluindo indústria alimentícia, alimentação in natura e medicina.
Um diferencial importante das abóboras é seu longo período pós-colheita. Os frutos podem ser armazenados por até aproximadamente três meses em locais sombreados e secos, o que facilita a logística e reduz perdas. Essa característica confere maior competitividade à produção local, especialmente em áreas rurais, onde os custos de transporte são reduzidos.
Variedades em destaque
A abóbora cabotiá (também conhecida como tetsukabuto ou abóbora japonesa) domina o mercado brasileiro devido às suas qualidades agronômicas superiores. Trata-se de um híbrido resultado do cruzamento entre linhagens de moranga e abóbora, que apresenta maior rusticidade, níveis superiores de produtividade, precocidade, uniformidade, textura, sabor e conservação pós-colheita.

Variedades comerciais como Takayama F1 e Furusato têm se destacado no mercado. Sendo reconhecidas por sua adaptabilidade às condições climáticas brasileiras, facilidade de produção e excelente qualidade pós-colheita. Com peso unitário variando de 2,0 a 2,5 quilos e diâmetro de 18 a 20 centímetros, essas abóboras atendem perfeitamente às demandas do consumidor brasileiro.
Valor nutricional e sustentabilidade
Além do valor econômico, as abóboras representam um alimento de alto valor nutricional para a população brasileira. São importantes fontes de sais minerais (ferro, cálcio, magnésio e potássio) e vitaminas, com destaque para o betacaroteno (pró-vitamina A), um poderoso antioxidante. A cabotiá é particularmente rica em betacaroteno, além de fibras e vitaminas do complexo B e C.
O cultivo de abóboras pode ser realizado durante todo o ano no Brasil, sendo uma excelente alternativa para rotação de culturas e agricultura sustentável. Com os cuidados apropriados, a abóbora se adapta bem a diversos tipos de solo, contribuindo para a diversificação da produção agrícola e a segurança alimentar.
O mercado brasileiro de abóboras mostra perspectivas positivas de crescimento, impulsionado tanto pela demanda interna crescente quanto pelas exportações. A adoção de tecnologias modernas, sementes de qualidade e manejo profissional tem permitido que produtores brasileiros alcancem produtividades comparáveis às melhores do mundo.
Com a popularização gradual do Halloween no Brasil e o aumento da demanda por abóboras decorativas em outubro, abre-se também uma nova janela de oportunidades para os produtores nacionais. Que podem diversificar sua produção para atender tanto o mercado alimentício quanto o decorativo, maximizando a rentabilidade da cultura.
