Resumo da notícia
- A confirmação do retorno do La Niña pela NOAA preocupa o setor agrícola argentino, que já sofre com secas severas e enfrenta risco de redução na produção de soja e milho até março de 2026.
- O fenômeno causa resfriamento no Pacífico equatorial, reduzindo as chuvas na América do Sul e ameaçando a produtividade das lavouras argentinas, especialmente na safra de verão de 2025.
- A redução da área plantada e perdas bilionárias na Argentina impactam as exportações, elevando o risco de escassez e aumento dos preços internacionais de soja e milho.
- O Brasil, principal importador das commodities argentinas, pode sofrer alta nos custos de alimentos e insumos agropecuários, agravada pelos desafios climáticos locais causados pela La Niña.
A volta do fenômeno climático La Niña está causando preocupação no setor agrícola da Argentina. Especialmente após anos consecutivos de secas severas que afetaram drasticamente a produção de grãos no país vizinho. A confirmação oficial pela NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos) trouxe um cenário de incerteza para uma das principais regiões produtoras de alimentos da América do Sul.
O fenômeno caracteriza-se pelo resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico equatorial, alterando padrões climáticos globais. E particularmente na América do Sul, provocando reduções significativas nas precipitações.
Para a Argentina, que enfrentou secas devastadoras nos últimos anos, o retorno do fenômeno representa um desafio adicional. As projeções indicam que o evento deve persistir até março de 2026, com maior intensidade prevista para o verão austral de 2025. Justamente no período crítico para as culturas de soja e milho.
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A Bolsa de Comércio de Rosário, uma das principais referências do setor agrícola argentino, alertou que, embora o milho plantado precocemente possa ter condições favoráveis durante a primavera de 2024, a soja de primeira safra enfrenta riscos elevados a partir de janeiro de 2025, quando os efeitos da La Niña devem se intensificar.
Histórico de perdas e vulnerabilidade agrícola
A agricultura argentina já vinha sofrendo com sucessivos anos de condições climáticas adversas. As secas anteriores causaram perdas bilionárias e reduziram drasticamente a produção de grãos, comprometendo as exportações e a entrada de divisas no país. A área plantada de milho, por exemplo, caiu de aproximadamente 2 milhões de hectares em 2023 para 1,3 milhão de hectares, refletindo a cautela dos produtores diante da instabilidade climática.
Especialistas advertem que, dependendo da intensidade do fenômeno, pode haver deficit de umidade nos solos até março de 2025, afetando diretamente a produtividade das lavouras em um momento crucial do desenvolvimento das plantas.
Impactos nos preços e na economia brasileira
Para o Brasil, a situação climática na Argentina tem implicações diretas nos preços dos alimentos e na economia doméstica. A Argentina é um dos principais exportadores mundiais de soja e milho, commodities fundamentais para a cadeia produtiva de alimentos. Qualquer redução na oferta argentina tende a pressionar os preços internacionais desses grãos.
Com a possibilidade de quebra de safra no país vizinho, especialistas do setor apontam que os preços da soja e do milho podem sofrer elevações no mercado internacional. Isso impacta diretamente os custos de produção de carnes, ovos, leite e outros derivados no Brasil, já que esses grãos são a base da alimentação animal.
A conjuntura é especialmente preocupante porque o Brasil também enfrenta seus próprios desafios climáticos com a La Niña. No Sul do país, região responsável por parcela significativa da produção nacional de grãos, as previsões indicam redução das chuvas, o que pode comprometer a produtividade das lavouras brasileiras.
Analistas de mercado estimam que, caso haja queda simultânea na produção argentina e brasileira, os preços dos alimentos podem sofrer pressão inflacionária considerável no país. A soja, por exemplo, que já enfrenta volatilidade nos mercados internacionais, pode ver seus preços impactados pela menor oferta sul-americana.
Monitoramento climático
Apesar das preocupações, alguns fatores podem amenizar os impactos. O Dipolo do Índico, outro fenômeno climático que influencia as chuvas na América do Sul, está evoluindo de forma favorável. E pode compensar parcialmente os efeitos da La Niña na Argentina.
Além disso, há expectativa de que o evento seja de intensidade fraca a moderada e de curta duração. Com possível retorno a condições neutras entre março e abril de 2025. Essa janela de tempo mais curta poderia limitar os danos às culturas, desde que as chuvas retornem no momento adequado.
O monitoramento constante das condições climáticas por parte dos órgãos oficiais, tanto na Argentina quanto no Brasil, será fundamental para orientar as decisões dos produtores e permitir ajustes nas estratégias de plantio e comercialização.
O retorno da La Niña representa um desafio significativo para o setor agrícola da América do Sul. Especialmente para a Argentina, que ainda se recupera de anos de secas severas. Os reflexos desse cenário climático adverso inevitavelmente chegarão aos consumidores brasileiros por meio dos preços dos alimentos, tornando essencial o acompanhamento atento da evolução do fenômeno nos próximos meses.
A integração dos mercados agrícolas sul-americanos faz com que os problemas climáticos em um país rapidamente se transformem em questões econômicas regionais. Portanto, reforçando a importância de políticas de mitigação de riscos e diversificação da produção agrícola.