Fenômeno climático que se forma no fim de 2025 traz riscos de estiagem para grãos no Sul do país e excesso de umidade para culturas no Sudeste e Centro-Oeste
Foto: Divulgação Inmet

O fenômeno La Niña deve começar a se formar no último trimestre de 2025 e possui potencial para se estender até o início de 2026, com impactos significativos no clima e na produção agrícola do Brasil e do mundo. É o que aponta o Relatório Trimestral de Perspectivas para Commodities da StoneX.

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A analista de Inteligência de Mercado da StoneX, Carolina Jaramillo Giraldo, baseia-se em dados de instituições como a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e a NOAA. Ela destaca que as anomalias de temperatura no Oceano Pacífico já mostram o resfriamento típico do fenômeno. A previsão mais consolidada indica uma La Niña de intensidade fraca, mas não se descarta um retorno à neutralidade durante o verão no Hemisfério Sul.

O relatório traça um cenário de contrastes para o Brasil. Enquanto o Sul do país enfrenta alto risco de seca, regiões como o Centro-Oeste e Sudeste podem registrar chuvas acima da média. Este padrão divide os riscos para o agronegócio: a estiagem prejudica culturas como soja e milho no Paraná, Rio Grande do Sul e Uruguai, enquanto o excesso de umidade no Cerrado e Sudeste beneficia plantios, mas também eleva a incidência de doenças fúngicas e atrapalha a colheita da cana-de-açúcar.

Riscos ampliados para as safras de verão

A interação da La Niña com a Oscilação de Madden-Julian (MJO) preocupa os especialistas. Essa combinação pode intensificar um padrão de bloqueio atmosférico, impedindo a entrada de frentes frias e prolongando períodos de calor e seca exatamente no Sul do Brasil, Paraguai e Argentina. Este é o período crítico para o desenvolvimento da soja e do milho de primeira safra.

“Esse fenômeno desloca os ventos para latitudes mais ao sul, reduzindo a entrada de frentes frias. O resultado é um aumento de seca e calor em regiões como o Sul do Brasil, justamente durante a primavera e o verão”, detalha Carolina Giraldo.

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Projeções de temperatura e chuva

Os modelos climáticos também projetam variações importantes de temperatura para os próximos meses:

  • Outubro de 2025: áreas do leste de Mato Grosso, oeste da Bahia e nordeste de Goiás podem ter temperaturas até 1°C acima da média, acelerando a germinação da soja, mas aumentando o risco se as chuvas atrasarem.
  • Novembro/Dezembro 2025: o Sudeste, principalmente Espírito Santo e Minas Gerais, pode enfrentar calor acima do normal, elevando a evapotranspiração em lavouras e cafezais.
  • Verão 2025/2026: o Centro-Sul deve ter temperaturas médias, o que é bom para o enchimento de grãos, desde que as chuvas se distribuam bem.

A formação da La Niña, portanto, coloca o setor agrícola em alerta. O fenômeno deve ditar os rumos do clima nos próximos meses, demandando planejamento e gestão de riscos dos produtores para mitigar perdas nas principais commodities do país.