Resumo da notícia
- Minas Gerais lança programa estadual que une ciência e tradição para aprimorar a produção de cachaça de alambique, abrangendo desde o cultivo da cana até o envelhecimento da bebida em barris de madeira.
- Pesquisas envolvem seleção de cultivares adaptadas, manejo sustentável, otimização da fermentação por microrganismos e testes com diferentes madeiras para valorizar sensorial e comercialmente a cachaça mineira.
- Programa também foca na valorização dos terroirs mineiros e na inovação tecnológica, desenvolvendo novos produtos e derivados da cana e da cachaça para diversificar o setor.
- Em 2026 será inaugurado o Alambique-Escola da Epamig Itap, que oferecerá capacitação prática aos produtores, importante diante do diagnóstico que revelou 40% dos alambiques em Minas sem assistência técnica.
A cachaça mineira, que já carrega séculos de tradição e orgulho, está prestes a ganhar um impulso científico sem precedentes. Minas Gerais, líder absoluto na produção de cachaça de alambique no Brasil, agora conta com um programa estadual dedicado exclusivamente a aperfeiçoar cada gota dessa bebida que é patrimônio cultural brasileiro.
O Programa Estadual de Pesquisa em Cana de Açúcar e Cachaça de Alambique, tocado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), promete revolucionar o setor ao integrar ciência e tradição. A iniciativa contempla desde o plantio da cana até o envelhecimento nos barris de madeira, passando pela fermentação e destilação.
“A gente propõe uma abordagem que olha pra cadeia inteira”, explica Ana Cláudia Silveira Alexandre, pesquisadora e professora da Epamig – Instituto Tecnológico de Agropecuária de Pitangui (Itap). Ela coordena trabalhos que vão do cultivo da cana-de-açúcar até a melhoria da qualidade físico-química e sensorial do produto final.
Da raiz ao copo: ciência encontra tradição
As pesquisas abrangem múltiplas frentes. No campo, os cientistas selecionam cultivares de cana adaptadas aos diversos biomas mineiros, sempre com foco na produção de cachaça e derivados. O manejo fitotécnico e ecofisiológico também recebe atenção especial, buscando maior eficiência produtiva sem abrir mão da sustentabilidade.
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Já dentro dos alambiques, a coisa fica ainda mais interessante. Os estudos incluem a bioprospecção de microrganismos – aqueles seres microscópicos responsáveis pela mágica da fermentação – e a otimização dos processos fermentativos para garantir qualidade e padronização da bebida.
O envelhecimento também entra na pauta. Pesquisadores testam diferentes madeiras, tipos de barris e tempos de armazenamento, tudo para agregar valor sensorial e comercial à cachaça mineira. E tem mais: o programa investe na identidade territorial das microrregiões de Minas, promovendo a diferenciação e valorização dos terroirs mineiros.
“Além disso, a gente vai desenvolver novos produtos e derivados da cana e da cachaça, estimulando diversificação e inovação tecnológica no setor”, destaca Ana Cláudia.
Alambique-Escola: conhecimento acessível aos produtores
Uma das iniciativas mais aguardadas é a implantação do Alambique-Escola na Epamig Itap, prevista para começar em 2026. A unidade servirá como referência para produção de cachaça de alambique e vai oferecer capacitação prática aos produtores.
A necessidade ficou evidente no Diagnóstico Perfil dos empreendimentos de cachaça de alambique do estado de Minas Gerais – 2023, realizado pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). A pesquisa ouviu 21% dos estabelecimentos registrados no estado. E revelou um dado preocupante: cerca de 40% desses estabelecimentos não recebem nenhum tipo de assistência técnica.
“Esses dados reforçam a demanda por maior orientação técnica e evidenciam a importância de uma estrutura como o Alambique-Escola”, ressalta Ana Cláudia. A iniciativa, desenvolvida junto à Emater-MG, oferecerá suporte contínuo e condições para aprimorar a qualidade da cachaça, contribuindo pro fortalecimento da cadeia produtiva.
Conhecer para fortalecer
Apesar da liderança nacional, Minas ainda carece de informações precisas sobre o setor. Dados sobre volume total de produção, classificação dos empreendimentos, mão de obra, assistência técnica e análises laboratoriais ainda são escassos. Justamente o que motivou o diagnóstico estadual.
“O estudo colhe dados relativos à produção, agroindústria, comercialização, tributação, mão de obra e plantio de cana”, explica Sandra Regina Carvalho dos Santos, diretora de Comercialização e Mercados da Seapa. “É bem completo pra conseguirmos entender a cadeia como um todo e embasar o investimento em políticas públicas que conversem com a realidade.”
A pesquisa para o Diagnóstico de 2025 já está disponível e pode ser respondida pelos produtores, garantindo que as políticas públicas reflitam as reais necessidades do setor.
Com tradição centenária e agora armada de ciência de ponta, a cachaça mineira se prepara para consolidar ainda mais sua posição de destaque no cenário nacional. E, quem sabe, conquistar novos mercados internacionais. Afinal, qualidade e tradição nunca saem de moda.