Técnica de plantio a pleno sol substitui modelo tradicional da cabruca
Foto: Letícia Fagundes/Agência MG

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O Norte de Minas transformou suas características climáticas adversas em oportunidade de negócio. A região, conhecida pelo clima seco, altas temperaturas e baixo índice pluviométrico, agora abriga um dos polos emergentes de cultivo de cacau no país.

Pesquisadores da Universidade Estadual de Minas Gerais (Unimontes) desenvolveram um método que viabiliza a produção do fruto em áreas não tradicionais. O projeto recebe apoio do Governo de Minas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), e já projeta resultados expressivos.

Área plantada cresce 525% em dois anos

O engenheiro agrônomo Victor Martins Maia, especialista em fitotecnia da Unimontes, lidera as pesquisas. Os dados atuais registram 480 hectares ocupados com plantações de cacau em Minas Gerais. Para 2026, as projeções apontam crescimento para três mil hectares plantados.

“A indústria mundial busca locais que ofereçam estabilidade e capacidade de fornecimento de cacau. O Brasil tem a possibilidade de crescer com produtividade e tecnologia para atender a demanda mundial”, afirma Maia.

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O pesquisador coordena o Centro Tecnológico para Cacauicultura em Regiões Não Tradicionais (CTCRNT). A Fapemig destinou aproximadamente R$ 3,5 milhões ao centro, que desenvolve estudos sobre consumo de água irrigada, tipos de mudas e adubação nas plantações.

Técnica a pleno sol substitui modelo da cabruca

O método desenvolvido pela Unimontes permite o plantio de cacau a pleno sol, em consórcio com lavouras tradicionais de banana que já possuem sistema de irrigação. A técnica contrasta com o cultivo “na cabruca”, modelo tradicional que produz o fruto em meio à Mata Atlântica raleada.

Foto: Letícia Fagundes/Agência MG

No sistema inovador, os produtores cultivam clones de cacau mais resistentes à sombra das bananeiras. As mudas crescem durante dois anos, passam por podas sucessivas e se preparam para suportar a produção em condições climáticas desafiadoras.

Consórcio garante renda ao produtor

A associação entre cacau e banana traz vantagens econômicas imediatas aos produtores. “Do ponto de vista econômico, o modelo garante renda constante ao produtor. Enquanto aguarda o cacau começar a produzir, ele mantém a comercialização de banana”, explica Victor Maia.

O centro também aplica visão computacional na predição da produção e estuda sistemas agroflorestais que consorciam o cacau com macadâmia ou abacaxi.

Trajetória de pesquisa supera desafios climáticos

A pesquisa começou em 2011, quando a equipe analisou o cultivo de clones adaptados em Janaúba. Anos seguidos de seca severa comprometeram os primeiros experimentos. Os clones plantados na fazenda experimental, sem irrigação, não resistiram ao período de estiagem.

A equipe reformulou a estratégia e identificou clones trazidos da Bahia mais adaptados à região. Em 2017, o projeto recebeu novo apoio da Fapemig para experimentos em campo. Naquele ano, os pesquisadores promoveram os primeiros eventos técnicos de extensão, que levaram os resultados aos produtores locais. Desde então, a Unimontes realiza eventos específicos sobre cultivo de cacau no semiárido mineiro a cada dois anos.

Terroir do sertão: próximo passo da cacauicultura mineira

O CTCRNT desenvolve atualmente um projeto em parceria com a Universidade Federal de Lavras (Ufla) sobre fermentação do cacau para produção de chocolate. A iniciativa pode resultar no nascimento de um “terroir do sertão”, com cacau que apresenta características únicas da região.

“Esse é apenas o começo da cacauicultura em Minas”, conclui o pesquisador Victor Maia.