Resumo da notícia
- A noz-pecã tem uma história de 8.000 anos, usada por nativos americanos como alimento, remédio e moeda, mas só ganhou destaque comercial no século 19, principalmente nos EUA, que hoje produzem 80% do total mundial.
- A técnica de enxertia desenvolvida por Antoine, um homem escravizado na Louisiana, criou a primeira variedade aprimorada da pecã, fundamental para o cultivo moderno e reconhecida na Exposição do Centenário de 1876.
- Durante guerras e crises, a noz-pecã se tornou uma fonte vital de nutrição, substituindo a carne escassa, sendo incorporada até na merenda escolar e na alimentação dos astronautas da Apollo.
- A noz-pecã conquistou a culinária americana, especialmente em doces como a torta de pecã, que virou símbolo das festas de Ação de Graças e Natal, e hoje é consumida em várias formas, do cereal ao leite vegetal.
A noz-pecã é muito mais que um ingrediente para torta. Ela carrega consigo uma história profunda de 8.000 anos, praticamente uma biografia com direito a indígenas, presidentes, guerra e uma viagem ao espaço. Hoje, os Estados Unidos produzem 80% de toda a pecã do mundo, mas a jornada até o topo dos ingredientes natalinos foi cheia de reviravoltas.
Nativos americanos já usavam a “pakani”, uma “noz muito dura para quebrar com a mão”, como alimento, remédio e moeda de troca milênios atrás. Mas por muito tempo, os colonos simplesmente ignoraram as árvores que cresciam fartamente pelo sul do país. Afinal, elas produziam sozinhas, sem precisar de cuidado nenhum.
A corrida do ouro marrom e o balão de ar quente
Foi só no final do século 19 que o potencial comercial da noz-pecã explodiu. A demanda gerou uma verdadeira corrido, com colheitas competitivas e até casos de roubo. A criatividade para colher as nozes altas chegou a extremos: histórias contam que uma menina subiu num balão de ar quente para sacudir os galhos mais altos das árvores.
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A virada para o cultivo em escala veio de uma figura crucial: um homem escravizado chamado Antoine, na Louisiana. Por volta de 1846, ele dominou a complexa técnica da enxertia, juntando galhos de árvores de alta qualidade a troncos comuns. O resultado? Nozes-pecã maiores e com cascas mais finas, a primeira variedade “melhorada” do mercado.
Sua criação, batizada de “Centennial”, roubou a cena na Exposição do Centenário da Filadélfia, em 1876, mesma feira que apresentou o telefone e o ketchup Heinz. A técnica de Antoine basicamente fundou a base da pecã moderna que a gente conhece.
Guerra, praliné e a torta que conquistou o país
Na cozinha, a pecã já era estrela desde o século 18, graças aos imigrantes franceses na Louisiana. Eles adaptaram sua receita de praliné, trocando as amêndoas europeias pela noz nativa americana, e criaram um clássico.
Mas foram os períodos de crise que solidificaram o lugar da pecã no cardápio nacional. Durante a Guerra Civil e as Guerras Mundiais, a carne ficou cara e escassa. A noz-pecã, rica em proteínas e gorduras, virou uma alternativa vital e nutritiva para a população.
O governo federal até precisou intervir para gerenciar a produção. Em uma jogada de marketing involuntária, comprou os excedentes e incluiu a pecã no Programa Nacional de Merenda Escolar. Mais tarde, sua longa duração e valor nutricional garantiram até um lugar na merenda dos astronautas da Apollo.
A combinação de sabor, textura e praticidade fez da noz-pecã uma favorita para receitas doces. A torta de nozes-pecã, então, se tornou sinônimo de celebração e conforto, a rainha absoluta das mesas de Ação de Graças e Natal.
Hoje, consumimos a pecã em tudo: pura, no cereal, no leite vegetal e, claro, na sua torta icônica. Uma história de resistência, inovação e sabor que, literalmente, já dura milênios. E tudo começou com uma única árvore nativa e uma noz muito, muito dura.