Nas manhãs frias da Serra da Mantiqueira, a névoa cobre o pasto. O gado está quieto. E lá vem ele. O cão que se tornou símbolo do campo: o Pastor da Mantiqueira.

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Nasceu entre Minas, São Paulo e Rio. Aliás, nasceu no sobe-desce das encostas. No tilintar das cercas. Na rotina dos tropeiros. Ao mesmo tempo, carrega em si a mistura de pastores europeus — ibéricos e belgas — com cães que já sabiam lidar com a vida dura do interior. Assim, o resultado é simples e surpreendente: um cão único. De trabalho. De vigília. E, sobretudo, de uma lealdade que parece antiga.

Reconhecido em 2022 pela Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC). Foi quando deixou de ser “o cão da serra” para virar raça oficial. Ainda assim, seu olhar permanece o mesmo: atento. Esperto. Calmo, mas alerta.

Criadores da Associação Brasileira do Cão Pastor da Mantiqueira (ABRAPAM) dizem que não era para menos. “A associação nasceu em 2015 para proteger, desenvolver e difundir o Pastor da Mantiqueira, porque entendemos que ele é patrimônio cultural e zootécnico da região”, afirma o documento da entidade. E completam: “Nosso objetivo é manter o tipo funcional que sempre trabalhou na serra.”

Características do Pastor da Mantiqueira

Ele tem porte médio. Pesando entre 18-25 kg. Altura de 50-60 cm. Pelagem que varia – curta, média ou longa. Cor “azulego” preferida: dourado acinzentado à luz fria da manhã na montanha. Mas também há pretos, brancos, castanhos, dourados. Cada exemplar com sua marca. Cada exemplar com sua história.

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Foto: Império da Mantiqueira

Ele trabalha. Surge no pasto antes do homem. Entende. Sente. Age. Não faz alarde — simplesmente está lá. No campo, com o gado. Em casa, vira companheiro que segue o dono até o portão. Dorme no quintal. Ou ao lado da cama. Depende. Mas não repousa se não tiver função.

Ele se move com agilidade, sobe, desce terrenos que assustariam muitos cavalos. No frio, no vento, sob a neblina — sem hesitar. E, ainda assim, mantém aquela postura serena que só ele tem. Porque, quando o trabalho chama, ele não vacila.

Ele representa o Brasil que resiste — o Brasil rural. Afinal, é o Brasil que conhece o cheiro da terra, o mugido do gado, o som das cercas se abrindo. E, por isso, sua presença diz muito mais do que qualquer descrição. O cão é parte da paisagem. Por outro lado, não se confunde com ela: se destaca. Sente a neblina, identifica o perigo, protege o rebanho e, ao mesmo tempo, observa o dono com olhar que diz “que bom estar contigo”. No fim das contas, ele é exatamente isso — instinto, parceria e silêncio que entende tudo.

E, enquanto houver gado nas encostas e manhãs de neblina na serra, ele estará lá. Firme. Leal. De olhos atentos. De coração tranquilo. Um pedaço vivo da cultura do campo brasileiro.