Pesquisadores da Unesp em Botucatu descreveram uma nova espécie de bagre no bioma amazônico, especificamente na bacia do rio Xingu, no norte do Mato Grosso. Eles utilizaram a taxonomia integrativa, método que combina análises físicas e genéticas, para identificar o Imparfinis arceae, um pequeno bagre endêmico dessa região.
Os bagres, conhecidos popularmente como “peixe gato” devido aos seus característicos bigodes, destacam-se pela enorme diversidade: existem mais de 4.200 espécies espalhadas pelo mundo. Elas variam bastante em tamanho — desde indivíduos minúsculos, com poucos milímetros, até exemplares gigantes como o Pangasianodon gigas, um dos maiores peixes de água doce.
Essa diversidade de habitats faz com que muitas espécies permaneçam desconhecidas. O gênero Imparfinis reúne bagres que vivem em rios de água doce de toda a América do Sul, da Costa Rica até a Argentina, incluindo o Brasil. No rio Xingu, o grupo da Unesp coletou 20 indivíduos que apresentavam características distintas, o que levou à investigação detalhada.
O estudo, intitulado “Integrative Taxonomy Reveals a New Species of Imparfinis (Siluriformes: Heptapteridae) from the Upper Xingu River Basin”, foi publicado em abril de 2025 na revista científica Ichthyology & Herpetology. Os pesquisadores descreveram as diferenças morfológicas e genéticas do novo bagre e seu grau de parentesco com outras espécies do gênero.
Característica
A principal característica visual que chamou atenção foi uma faixa preta larga presente na lateral do peixe. “Algumas espécies de bagres têm uma faixa lateral escura, mas nenhuma tão ampla quanto esta, o que despertou nossa suspeita”, explica Gabriel de Souza da Costa e Silva, líder do estudo e pós-doutorando no IB-Unesp.
O ictiólogo destaca que a busca por novas espécies exige observação minuciosa. “O primeiro passo sempre são as características físicas: padrões de coloração, forma da cauda, detalhes que destoam do comum. A partir disso, aprofundamos a investigação”, afirma.

Na taxonomia, campo responsável pela classificação dos seres vivos, os pesquisadores mediram padrões de coloração, número de vértebras, tamanho da cabeça e dos olhos dos espécimes. Compararam essas informações com as espécies já conhecidas, como a Imparfinis hasemani, que também possui faixa lateral escura, mas diferente.
A nova espécie tem 39 vértebras, enquanto a I. hasemani tem 40. Além disso, apresenta olhos menores e cabeça maior, diferenças que confirmam sua singularidade.
Junto aos dados morfológicos, os cientistas sequenciaram um trecho do DNA dos peixes para comparação genética. “O sequenciamento mostrou mais de 6% de divergência em relação às outras espécies do gênero Imparfinis”, relata Gabriel. Esse índice comprova que o peixe pertence a uma nova espécie.
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