Estação das flores promete revolucionar safras com mudanças climáticas estratégicas para produtores rurais
Foto: Fernando Dias/Seapi

A chegada da primavera 2025, iniciada nesta segunda-feira (22) às 15h19, marca um divisor de águas para a agricultura brasileira. Conhecida como a estação das flores, a primavera marca transição entre o inverno seco e o verão chuvoso no Brasil, trazendo oportunidades e desafios únicos para diferentes regiões produtoras do país.

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No Espírito Santo, a transição promete ser especialmente significativa. Após um inverno caracterizado por tempo seco e temperaturas amenas, a Coordenação de Meteorologia do Incaper projeta cenário otimista com aumento gradual das temperaturas e retomada das chuvas, principalmente a partir de outubro.

“Este é o momento de os agricultores se prepararem para essa estação. Independentemente do volume de chuvas, é essencial revisar equipamentos, planejar o uso eficiente da água e adotar boas práticas de manejo”, destaca o secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli.

A cafeicultura arábica capixaba, cultivada em regiões de altitude, enfrenta momento crucial. A irregularidade das chuvas no início da primavera pode comprometer a uniformidade da florada – fator determinante para a produtividade futura. Produtores devem intensificar práticas que reduzam impactos de períodos curtos de estiagem.

No cultivo do conilon, predominante no Norte e áreas de baixada no Sul do estado, a irrigação eficiente torna-se essencial. Com temperaturas mais altas previstas, o manejo hídrico adequado garantirá boa frutificação e evitará perdas significativas.

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Culturas tropicais demandam atenção redobrada

O mamão, cultivado principalmente no Norte capixaba, pode enfrentar maior susceptibilidade à antracnose e mosca-das-frutas com o aumento da umidade. A pimenta-do-reino está mais vulnerável à fusariose, demandando manejo fitossanitário rigoroso. O cacau requer atenção especial contra a vassoura-de-bruxa, enquanto a banana necessita monitoramento constante contra sigatoka-negra e nematoides.

Para a pecuária de corte e leite, a primavera apresenta cenário duplo. Enquanto as condições favorecem o crescimento das pastagens, melhorando a oferta de alimento, o calor acima da média pode gerar estresse térmico nos animais, reduzindo produtividade leiteira e comprometendo ganho de peso.

O Incaper recomenda reforçar acesso dos animais à água de qualidade, disponibilizar áreas de sombra e adotar suplementação mineral adequada.

Rio Grande do Sul: normalidade com variações sazonais

No Rio Grande do Sul, a primavera 2025 tende a seguir padrão próximo da normalidade, segundo Flávio Varone, coordenador do Simagro-RS. “A primavera vai começar com condição bem típica da estação, com passagem de sistemas meteorológicos que provocam chuva regular e grande amplitude térmica”, explica.

A previsão indica outubro úmido, com chuvas dentro ou acima da média na metade Norte do estado, seguido por novembro mais seco. As temperaturas devem apresentar grande amplitude térmica no início, com noites frias e tardes quentes, evoluindo para temperaturas mais elevadas em novembro e dezembro.

Norte do Brasil: protagonismo na bioeconomia nacional

A região Norte, responsável por significativa parcela da produção agrícola nacional, enfrenta cenários específicos durante a primavera. A primavera 2024 traz temperaturas acima da média e secas intensas, especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste, demandando estratégias adaptadas para cultivos regionais.

O Estado comemora, por exemplo, a liderança na produção de açaí e dendê, respondendo por 90% do volume nacional. O Pará mantém posição de destaque, com 95% da produção do açaí se concentra no estado do Pará. A primavera representa período crucial para a safra, exigindo monitoramento constante das condições hídricas.

A produção de 100% da área nacional de guaraná, 75% de açaí, 24% de cacau e 56% do dendê estão dentro do Bioma amazônico. R$ 24,4 bilhões (20,5%) foram gerados pela produção de açaí, mandioca, café, cacau, banana, cana, dendê, abacaxi, arroz, feijão e outros produtos da região, segundo estudos da Fundação Getúlio Vargas.

Desafios climáticos regionais

No entanto, em áreas do Matopiba, a expectativa de precipitação abaixo da média eleva o risco de dificuldades para a implantação da soja, conforme previsões do Inmet. A região Norte deve enfrentar chuvas irregulares e abaixo da média, dificultando o abastecimento hídrico e pressionando setores como agricultura e geração de energia.

O Inmet afirma que o período é de “transição entre as estações seca e chuvosa no setor central do Brasil”, marcado pela convergência de umidade vinda da Amazônia. A ausência de influência significativa dos fenômenos El Niño ou La Niña mantém cenário de neutralidade climática, mas com variações regionais importantes.

Temperaturas e precipitações previstas

No Espírito Santo, as temperaturas máximas médias devem variar entre 24°C e 26°C na Região Serrana e entre 28°C e 30°C nas demais regiões. As mínimas ficam entre 15°C e 16°C na Serrana e cerca de 19°C nas outras áreas. O volume de precipitação deve ultrapassar 400mm no Caparaó, Grande Vitória e leste da Região Serrana.

Hugo Ramos, coordenador de Meteorologia do Incaper, enfatiza: “O produtor rural deve adotar estratégias de manejo hídrico eficiente, intensificar o monitoramento fitossanitário e investir em práticas de bem-estar animal”.

A primavera 2025 exige planejamento estratégico, aproveitando oportunidades de crescimento das lavouras e recuperação de pastagens, enquanto minimiza riscos de doenças, pragas e estresse térmico.