Estrutura de pesquisa aposta em ciência colaborativa e inovação para conter a principal ameaça aos pomares brasileiros
Foto: divulgação - Fundecitrus

O setor citrícola brasileiro avança em uma nova frente científica para combater o greening, considerada a doença mais devastadora da citricultura mundial. A criação do Centro de Pesquisa Aplicada em Inovação e Sustentabilidade da Citricultura (CPA), sediado na Esalq-USP, marca um novo capítulo na defesa dos pomares.

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O Fundecitrus, a Fapesp e outras instituições públicas e privadas vão investir R$ 90 milhões em pesquisas nos próximos cinco anos. O objetivo é desenvolver soluções tecnológicas e sustentáveis para controlar o greening e reduzir suas perdas crescentes. Segundo o diretor-executivo do Fundecitrus, Juliano Ayres, a experiência com o sequenciamento do genoma da Xylella fastidiosa, causadora da CVC, orienta os novos estudos. Ele afirma que o mesmo modelo de cooperação científica usado no passado agora servirá para enfrentar o novo desafio.

Greening causa prejuízos bilionários ao setor

Nos últimos cinco anos, a doença provocou a queda de 97 milhões de caixas de laranja, gerando US$ 972 milhões em prejuízos. Neste ano, o greening atingiu 47,63% dos pés de laranja no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro.

O índice representa um aumento de 7,4% em relação a 2023, segundo o levantamento anual do Fundecitrus.
Ayres compara o impacto do greening a uma pandemia para a citricultura. Ele lembra que o Brasil já investiu entre US$ 100 milhões e US$ 150 milhões no combate à doença. Nos Estados Unidos, os investimentos superam US$ 200 milhões, após perdas severas na Flórida.

Pesquisa une Brasil e centros internacionais

A nova rede de pesquisa reúne mais de 70 cientistas e integra instituições como USP, Esalq, Unicamp, Unesp, IAC e Embrapa. Também participam centros internacionais da França, Estados Unidos, Inglaterra, Austrália e Portugal, reforçando a troca global de conhecimento. A pesquisadora Lilian Amorim, da Esalq, será a diretora do centro.
Ela vai coordenar os trabalhos com foco em controle biológico, genética e sustentabilidade na produção de citros. Ayres destaca que metade do plantio de laranja já migrou para fora de São Paulo por causa do greening.
“Queremos manter a citricultura no Estado, que emprega 200 mil pessoas e está presente em 360 municípios”, afirma.

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Experiência com a Xylella inspira novos caminhos

A história do combate ao amarelinho (CVC) serve de exemplo para os novos desafios. Em 1997, o Fundecitrus participou da escolha da Xylella fastidiosa como alvo do primeiro sequenciamento genômico brasileiro, realizado com apoio da Fapesp. Na época, a doença ameaçava dizimar os pomares paulistas e chegou a ser confundida com o greening.

O fitopatologista francês Joseph Maria Bové, referência mundial em doenças de citros, ajudou a identificar o novo patógeno. O trabalho levou à criação de uma rede científica nacional que conseguiu controlar a CVC e salvar a produção paulista.

Ayres lembra que o sequenciamento da Xylella não eliminou a doença, mas permitiu desenvolver métodos eficazes de manejo e prevenção. “Conseguimos reduzir os casos a níveis mínimos. Agora, queremos repetir essa vitória contra o greening”, diz o diretor.

Fapesp reforça papel da ciência a longo prazo

O presidente da Fapesp, Marco Antonio Zago, também participou do projeto pioneiro da Xylella.
Ele afirma que a pesquisa em rede colocou o Brasil no mapa global da ciência e consolidou a capacidade nacional de inovação. “Quando há um problema sério, a ciência precisa responder. A Fapesp investe recursos públicos em soluções de longo prazo”, diz Zago.

A Fapesp recebe 1% dos tributos paulistas, o que representa R$ 2,9 bilhões em orçamento anual. Desse total, 95% são aplicados diretamente em pesquisas e apenas 5% em estrutura administrativa.
Com a criação do CPA, o Brasil aposta mais uma vez na ciência e na cooperação internacional para garantir o futuro da citricultura. O objetivo é transformar conhecimento em inovação e proteger uma das cadeias mais importantes do agronegócio nacional.