Pesquisa da Embrapa em parceria com Banco Mundial comprova que ILPF e SAFs são mais rentáveis que métodos tradicionais e ainda preservam o meio ambiente
Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa

Um estudo pioneiro conduzido pela Embrapa em parceria com o Banco Mundial acaba de comprovar o que muitos especialistas já suspeitavam: os sistemas sustentáveis de produção não apenas preservam o meio ambiente, como também são significativamente mais lucrativos que os métodos tradicionais.

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A pesquisa analisou a viabilidade econômica dos sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) na Amazônia e no Cerrado, revelando ganhos impressionantes em produtividade e rentabilidade.

Os números apresentados no estudo são surpreendentes. No Cerrado, o sistema ILPF-C demonstrou ser 41 vezes mais lucrativo que a pecuária extensiva tradicional e 13 vezes mais rentável que a agricultura convencional. Para cada dólar investido, o retorno chegou a US$ 1,36, enquanto a pecuária extensiva gerou apenas dois centavos de lucro por dólar aplicado.

“Os sistemas de ILPF são mais resilientes, reduzem os custos unitários de produção e promovem o uso mais eficiente dos recursos ambientais”, explica Júlio César dos Reis, pesquisador da Embrapa Cerrados e responsável pelo trabalho.

SAFs: a alternativa perfeita para agricultura familiar

Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) se mostraram especialmente adequados para a agricultura familiar, apresentando retornos de até US$ 9,20 para cada dólar investido. O estudo analisou quatro modelos diferentes em Rondônia e Pará, todos capazes de cobrir os custos de produção nos períodos avaliados.

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Arte: Wellington Cavalcanti/Embrapa

Os SAFs com cultivos de maior valor agregado, como açaí e cacau, apresentaram os melhores resultados financeiros. Em Tomé-Açu (PA), um dos sistemas avaliados gerou lucro anual de mais de US$ 1.800 por hectare, demonstrando o potencial desses modelos para transformar a realidade dos pequenos produtores.

Benefícios além do lucro

Além dos ganhos financeiros, os sistemas sustentáveis oferecem múltiplos benefícios:

  • Segurança alimentar: Diversificação da produção reduz riscos
  • Conservação ambiental: Menor necessidade de abertura de novas áreas
  • Resiliência climática: Sistemas mais resistentes a variações climáticas
  • Geração de empregos: Maior demanda por mão de obra especializada

“Se em um ano uma lavoura apresenta um preço ruim, há um segundo produto que pode ter um preço melhor. Isso aumenta a resiliência do produtor”, destaca Judson Valentim, pesquisador da Embrapa Acre.

Apesar dos resultados positivos, apenas 7% da área ocupada pela agropecuária brasileira utiliza sistemas de ILPF. O estudo identificou diversas barreiras que impedem uma adoção mais ampla:

Financeiras:

  • Políticas de crédito focadas em resultados anuais
  • Necessidade de períodos de carência mais longos para SAFs

Técnicas:

  • Falta de assistência técnica especializada
  • Disponibilidade limitada de mão de obra qualificada

Infraestrutura:

  • Ausência de infraestrutura em regiões distantes
  • Necessidade de investimentos em ferrovias e hidrovias

Impacto nas políticas públicas

Leonardo Bichara Rocha, economista agrícola sênior do Banco Mundial em Brasília, enfatiza a importância do estudo para orientar políticas públicas: “O trabalho traz evidências importantes para instrumentos financeiros que promovam o uso mais inclusivo, intensivo e ambientalmente sustentável da terra”.

As informações coletadas servirão de subsídio para políticas do Banco Mundial e podem contribuir para a inclusão desses sistemas nas políticas nacionais de crédito, como o Plano Safra da Agricultura Familiar.

O futuro da agricultura brasileira

Com 60% do território nacional localizado na Amazônia, o potencial de expansão dos sistemas sustentáveis é imenso. No entanto, os pesquisadores alertam para a necessidade de mais estudos e dados sistematizados.

“Conseguimos avaliar cinco sistemas que possuíam dados sistematizados, mas isso representa apenas uma pequena amostra da diversidade ambiental, social e econômica da Amazônia”, observa Valentim.

O estudo representa um marco importante na colaboração entre Embrapa e Banco Mundial, assinada em 2024, e aponta para um futuro em que sustentabilidade e rentabilidade caminham juntas no agronegócio brasileiro.

Os pesquisadores esperam que esta síntese estimule uma agenda de pesquisa mais ampla, levando à construção de um banco de dados robusto sobre sistemas sustentáveis no Brasil. O objetivo é fornecer bases sólidas para a implementação de políticas públicas de crédito rural, especialmente voltadas para a produção familiar na Amazônia.

A mensagem é clara: o futuro da agricultura brasileira está nos sistemas sustentáveis, que oferecem a combinação perfeita entre prosperidade econômica e preservação ambiental.