Resumo da notícia
- Estudo da Embrapa e Banco Mundial comprova que sistemas sustentáveis como ILPF e SAFs são mais lucrativos e ambientalmente benéficos, superando métodos tradicionais na Amazônia e Cerrado.
- ILPF no Cerrado é até 41 vezes mais lucrativo que pecuária extensiva, com retorno de US$ 1,36 por dólar investido, enquanto SAFs são ideais para agricultura familiar, oferecendo até US$ 9,20 por dólar investido.
- Além do lucro, esses sistemas promovem segurança alimentar, conservação ambiental, resiliência climática e geração de empregos, diversificando a produção e reduzindo riscos para os produtores.
- A adoção é baixa (7%) devido a barreiras financeiras, técnicas e de infraestrutura, como falta de crédito adequado, assistência técnica e investimentos em logística para regiões remotas.
Um estudo pioneiro conduzido pela Embrapa em parceria com o Banco Mundial acaba de comprovar o que muitos especialistas já suspeitavam: os sistemas sustentáveis de produção não apenas preservam o meio ambiente, como também são significativamente mais lucrativos que os métodos tradicionais.
A pesquisa analisou a viabilidade econômica dos sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) na Amazônia e no Cerrado, revelando ganhos impressionantes em produtividade e rentabilidade.
Os números apresentados no estudo são surpreendentes. No Cerrado, o sistema ILPF-C demonstrou ser 41 vezes mais lucrativo que a pecuária extensiva tradicional e 13 vezes mais rentável que a agricultura convencional. Para cada dólar investido, o retorno chegou a US$ 1,36, enquanto a pecuária extensiva gerou apenas dois centavos de lucro por dólar aplicado.
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“Os sistemas de ILPF são mais resilientes, reduzem os custos unitários de produção e promovem o uso mais eficiente dos recursos ambientais”, explica Júlio César dos Reis, pesquisador da Embrapa Cerrados e responsável pelo trabalho.
SAFs: a alternativa perfeita para agricultura familiar
Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) se mostraram especialmente adequados para a agricultura familiar, apresentando retornos de até US$ 9,20 para cada dólar investido. O estudo analisou quatro modelos diferentes em Rondônia e Pará, todos capazes de cobrir os custos de produção nos períodos avaliados.

Os SAFs com cultivos de maior valor agregado, como açaí e cacau, apresentaram os melhores resultados financeiros. Em Tomé-Açu (PA), um dos sistemas avaliados gerou lucro anual de mais de US$ 1.800 por hectare, demonstrando o potencial desses modelos para transformar a realidade dos pequenos produtores.
Benefícios além do lucro
Além dos ganhos financeiros, os sistemas sustentáveis oferecem múltiplos benefícios:
- Segurança alimentar: Diversificação da produção reduz riscos
- Conservação ambiental: Menor necessidade de abertura de novas áreas
- Resiliência climática: Sistemas mais resistentes a variações climáticas
- Geração de empregos: Maior demanda por mão de obra especializada
“Se em um ano uma lavoura apresenta um preço ruim, há um segundo produto que pode ter um preço melhor. Isso aumenta a resiliência do produtor”, destaca Judson Valentim, pesquisador da Embrapa Acre.
Apesar dos resultados positivos, apenas 7% da área ocupada pela agropecuária brasileira utiliza sistemas de ILPF. O estudo identificou diversas barreiras que impedem uma adoção mais ampla:
Financeiras:
- Políticas de crédito focadas em resultados anuais
- Necessidade de períodos de carência mais longos para SAFs
Técnicas:
- Falta de assistência técnica especializada
- Disponibilidade limitada de mão de obra qualificada
Infraestrutura:
- Ausência de infraestrutura em regiões distantes
- Necessidade de investimentos em ferrovias e hidrovias
Impacto nas políticas públicas
Leonardo Bichara Rocha, economista agrícola sênior do Banco Mundial em Brasília, enfatiza a importância do estudo para orientar políticas públicas: “O trabalho traz evidências importantes para instrumentos financeiros que promovam o uso mais inclusivo, intensivo e ambientalmente sustentável da terra”.
As informações coletadas servirão de subsídio para políticas do Banco Mundial e podem contribuir para a inclusão desses sistemas nas políticas nacionais de crédito, como o Plano Safra da Agricultura Familiar.
O futuro da agricultura brasileira
Com 60% do território nacional localizado na Amazônia, o potencial de expansão dos sistemas sustentáveis é imenso. No entanto, os pesquisadores alertam para a necessidade de mais estudos e dados sistematizados.
“Conseguimos avaliar cinco sistemas que possuíam dados sistematizados, mas isso representa apenas uma pequena amostra da diversidade ambiental, social e econômica da Amazônia”, observa Valentim.
O estudo representa um marco importante na colaboração entre Embrapa e Banco Mundial, assinada em 2024, e aponta para um futuro em que sustentabilidade e rentabilidade caminham juntas no agronegócio brasileiro.
Os pesquisadores esperam que esta síntese estimule uma agenda de pesquisa mais ampla, levando à construção de um banco de dados robusto sobre sistemas sustentáveis no Brasil. O objetivo é fornecer bases sólidas para a implementação de políticas públicas de crédito rural, especialmente voltadas para a produção familiar na Amazônia.
A mensagem é clara: o futuro da agricultura brasileira está nos sistemas sustentáveis, que oferecem a combinação perfeita entre prosperidade econômica e preservação ambiental.