Ricardo Martins chegou à aldeia Yanomami e ouviu palavras que marcaram sua trajetória. “É, seu Ricardo, seu nome ecoou pela floresta e chegou aos nossos corações”, disseram os indígenas ao fotógrafo e documentarista.
O encontro resultou em “Os Últimos Filhos da Floresta”, 15º livro do autor. A obra retrata o cotidiano de um dos maiores povos indígenas do Brasil. O lançamento acontece no dia 30 de julho, às 19h, no Teatro Municipal Pedro Paulo Teixeira Pinto, em Ubatuba.

Ricardo planejou chegar à aldeia em oito horas. A viagem levou três dias. O fotógrafo dormiu na mata e viveu o dia a dia da comunidade. Ele acompanhou rituais, caçadas e rotinas dos indígenas.
“Quando conseguimos essa permissão, preparamos a expedição para chegar na aldeia em oito horas, mas a viagem levou, na verdade, três dias”, conta Ricardo. “Apesar disso, o acesso que tivemos, sem restrições, e toda a receptividade foram únicos.”
A expedição contou com o apoio de Regiane, indígena que já havia pertencido à aldeia. Ela facilitou o contato com o fotógrafo. Após mais de um ano e meio de negociações, o líder Maciel recebeu Ricardo na comunidade.
Povo milenar enfrenta ameaças
Os Yanomami são um dos maiores povos indígenas relativamente isolados do mundo. Sua origem remonta a mais de mil anos nas terras altas da atual Venezuela. Desde então, vivem profundamente integrados à floresta amazônica.
O povo se distribui entre Brasil e Venezuela. São tradicionalmente caçadores, agricultores e coletores. Desde a década de 1980, enfrentam ameaças crescentes: invasões, garimpo ilegal, desmatamento e doenças trazidas de fora.

“O projeto nasceu enquanto eu sobrevoava a Amazônia e assistia a um documentário que mencionava os Yanomami como os últimos filhos da floresta”, explica Ricardo. “Aquilo me tocou profundamente. Percebi que era hora de registrar essa história de forma visual, humana e respeitosa.”
O livro inclui QR codes para acesso a vídeos exclusivos. Os vídeos revelam os bastidores das fotos. Ricardo também produziu sua 5ª série documental, “Aventura Fotográfica Yanomami”.
A produção será lançada pela RM Produções em conjunto com o livro. Deve chegar em breve a plataformas de streaming. No dia do lançamento, será exibido um compilado de 20 minutos do documentário.
Escola como contrapartida
Ricardo construirá uma escola na aldeia Hemare Pi Wei como contrapartida. O pedido partiu diretamente das lideranças para o autor.
“Nossos jovens precisam se orgulhar da nossa cultura e dos nossos costumes”, afirmou Maciel, uma das lideranças. “Precisam ter orgulho de serem indígenas. Também precisam aprender a língua e a cultura do Napo (homem branco), pois isso será a defesa deles.”

“Convivendo com os Yanomami, vi um modo de vida conectado à terra, onde tudo é respeitado”, afirma Ricardo. “Enquanto os povos originários existirem, a floresta estará em pé.”
Parte da verba arrecadada com a venda dos livros financia a construção da escola. Uma coleção de FineArt foi criada para ampliar a arrecadação. Está disponível em www.ricardomartins.org/fineart. Uma “vaquinha” virtual também pode ser acessada pelo link ajud.ar/escola.
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