O agronegócio brasileiro pode perder até US$ 5,8 bilhões por ano com as tarifas impostas pelos Estados Unidos. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) alerta que a medida entrará em vigor a partir de agosto. Em geral, as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros podem reduzir pela metade o valor exportado em 2024.
Segundo a CNA, alguns setores sentirão mais os impactos. O suco de laranja, por exemplo, pode ter as exportações para os EUA reduzidas a zero. Além disso, a carne bovina deve cair 47% e o sebo bovino, 50%. Ao mesmo tempo, produtos de madeira podem ter queda entre 25% e 100%, conforme cálculos da entidade.
O café verde deve sofrer menos. A oferta global do grão caiu nos últimos anos, o que dificulta substituições. Ainda assim, a CNA estima recuo de 25% nas vendas aos Estados Unidos.
A confederação analisou exportações de US$ 12,1 bilhões para os EUA em 2024. O estudo considerou a elasticidade das importações, que mede como o volume reage a mudanças nos preços. Segundo a entidade, o aumento das tarifas será repassado integralmente aos preços finais, elevando-os também em 50%.
O levantamento usou dados de comércio norte-americano dos últimos cinco anos. “A maioria dos produtos do agro exportados tem elasticidade menor que –1, o que indica alta sensibilidade ao preço”, explica a CNA. Com isso, a estimativa é de queda de 48% no valor total pago pelas importações.
Setores mais afetados
O suco de laranja paga hoje tarifas entre 5,26% e 6,13%. Em 2024, as exportações alcançaram 1 milhão de toneladas e US$ 795 milhões em receita. Com as novas taxas, que chegarão a mais de 55%, as vendas devem ser inviabilizadas.
O café verde não paga tarifas atualmente. Em 2024, as exportações renderam US$ 1,9 bilhão com 439 mil toneladas. Com o tarifaço, a CNA prevê redução para 329 mil toneladas e faturamento de US$ 1,4 bilhão.
Para o açúcar, a queda prevista é de 74% no volume exportado. Em 2024, foram 1,035 milhão de toneladas. Com as novas tarifas, devem cair para 266 mil toneladas. A receita deve recuar de US$ 1,8 bilhão para US$ 1,2 bilhão. Hoje, o açúcar já paga 40,6% de tarifa. Com a taxa extra, chegará a 90,6%.
A carne bovina paga atualmente até 26,4% de tarifa. Em 2024, o Brasil exportou 183 mil toneladas e faturou US$ 1,9 bilhão. Com as novas alíquotas, que podem chegar a 76,4%, as vendas cairão para 97 mil toneladas. O faturamento deve ficar em US$ 1,2 bilhão.
O sebo bovino, ovino ou caprino paga hoje 0,3% de tarifa. Em 2024, foram 334 mil toneladas embarcadas. Em geral, a CNA estima redução de 50% no volume e no faturamento, que cairá para US$ 176 milhões.
Produtos de madeira também terão forte impacto. Portas podem ter redução de 93%, soleiras 77% e pasta química 25%. Para o álcool etílico, a queda prevista é de 71% no volume e no valor exportado.
Leia mais:
+ Agro em Campo: Boi e suíno registram quedas, mas cenário é distinto
+ Agro em Campo: Tarifa dos EUA ameaça exportação de café brasileiro