Exportadores e usuários de carga pressionam por certame aberto e alertam para risco de judicialização
Porto de Santos
Foto: divulgação Porto de Santos

O leilão do novo terminal de contêineres no Porto de Santos (Tecon Santos 10) está no centro de uma disputa que pode custar bilhões ao Brasil. Entidades representativas de exportadores e importadores cobram a realização de um certame aberto e sem restrições, alertando que o formato proposto pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) é ilegal e pode resultar em judicialização do processo.

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Em relatório de 203 páginas, a Unidade de Auditoria Especializada em Infraestrutura Portuária e Ferroviária (AudPortoFerrovia) do Tribunal de Contas da União classificou como “ilegal” o modelo de leilão em duas fases proposto pela ANTAQ, que veta a participação de operadores já atuantes no Porto de Santos.

A análise técnica do TCU rejeitou os argumentos do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) e da ANTAQ, considerando-os “poucos argumentos novos” e “incapazes de alterar o encaminhamento sugerido”. Segundo o relatório, a decisão da agência reguladora desrespeita princípios constitucionais da ampla concorrência e proporcionalidade, baseando-se em “riscos e premissas hipotéticas”.

Setores produtivos alertam para prejuízos bilionários

O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) e a Associação Logística Brasil manifestaram publicamente apoio à instrução do TCU. As entidades representam diversos segmentos do agronegócio que dependem da logística portuária, incluindo exportadores de café, açúcar, algodão e celulose.

“Esse é um tema de interesse de todos os exportadores brasileiros que precisam de logística eficiente e infraestrutura adequada para destravar o Porto de Santos”, afirma Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé. Ele destaca que o esgotamento da infraestrutura portuária já causa prejuízos acumulados aos embarcadores.

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Restrições podem reduzir arrecadação em R$ 1 bilhão

André de Seixas, diretor-presidente da Associação Logística Brasil, questiona a lógica econômica das restrições propostas. “O que notamos é a sanha para se ter um leilão custando cerca de R$ 1 bilhão a menos, a partir do momento em que se excluiu empresas que têm apetite de competir”, critica.

Para Seixas, o processo sofreu “diversos atropelos procedimentais” dentro da ANTAQ, com interferência política sobrepondo-se aos aspectos técnicos. “O que não se pode aceitar é a política interferir na parte técnica, criando um ambiente conflituoso”, alerta.

Risco de judicialização e mais atrasos

As entidades temem que a manutenção do formato restritivo leve à judicialização do leilão, postergando ainda mais a ampliação da capacidade portuária. O certame já deveria ter ocorrido, mas foi adiado devido a questionamentos sobre o modelo proposto.

“Já vislumbramos atrasos e mais prejuízos aos usuários e à sociedade, a partir do iminente risco de judicialização deste leilão, algo totalmente desnecessário”, conclui Seixas.

CADE já afastou premissas da ANTAQ

O relatório do TCU reforça que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) já afastou, em inquéritos administrativos, muitas das premissas hipotéticas utilizadas pela ANTAQ para justificar as restrições. Segundo a auditoria, “a adoção de medidas restritivas deve estar ancorada em um juízo de razoável certeza sobre sua efetividade e não apenas em cenários hipotéticos ou especulativos”.

Eduardo Heron, do Cecafé, contesta a narrativa de “defesa do interesse público” utilizada para justificar as restrições. “As transações comerciais geradas pelo comércio exterior brasileiro também são de interesse do país, pois geram riqueza, renda e emprego em todos os setores da economia”, argumenta.

O executivo questiona: “Por que a autoridade pública se propõe a restringir a participação no leilão de empresas experientes e interessadas no certame, renunciando o grande potencial arrecadatório, quando se busca aumentar as arrecadações do país?”

Investimentos da Autoridade Portuária são reconhecidos

Apesar das críticas ao modelo de leilão, o Cecafé reconhece os esforços da Autoridade Portuária de Santos (APS) em outros projetos, como a contratação para aprofundamento do calado, a proposta de terceira via de descida da Rodovia dos Imigrantes e a implementação da segunda alça de acesso ao embarcadouro.

As entidades defendem a realização do leilão do Tecon Santos 10 ainda em 2025, em formato irrestrito e em fase única, conforme recomendação da Unidade Técnica do TCU. A expectativa é que operadores portuários experientes, incluindo grandes empresas internacionais, possam participar livremente do certame, garantindo maior competitividade e investimentos robustos no Porto de Santos.