Resumo da notícia
- A valorização da mandioca na Tailândia estimula produtores a migrarem da cana-de-açúcar para a raiz, podendo impactar a oferta global de açúcar na safra 2026/27.
- A demanda chinesa pela mandioca tailandesa cresceu em 2025, impulsionada pela substituição do milho pela mandioca na indústria de ração e etanol, elevando os preços da raiz no mercado local.
- Até julho de 2025, as exportações de mandioca e derivados somaram 4,9 milhões de toneladas, quase igualando o total de 2024, com expectativa de manutenção da recuperação até 2026.
- A queda do preço do açúcar pressiona o governo tailandês a reduzir o preço mínimo da cana, fortalecendo a migração para a mandioca, o que pode limitar a produção de açúcar e alterar o mercado global.
A Tailândia, maior exportadora mundial de mandioca, enfrenta uma mudança importante no perfil agrícola que pode impactar diretamente o mercado global de açúcar na safra 2026/27. A valorização da mandioca estimula produtores a migrarem da cana-de-açúcar para a raiz, influenciando a oferta internacional do adoçante.
Com um PIB previsto em US$ 1,9 trilhão para 2025, a Tailândia destaca-se como potência agrícola, especialmente na produção de arroz, borracha, açúcar e mandioca. Nos últimos anos, a queda dos preços da mandioca e a maior rentabilidade da cana provocaram a redução da área plantada da raiz em 10% na safra 2022/23. Porém, essa tendência começa a reverter.
A demanda chinesa pela mandioca tailandesa cresceu em 2025, após um recuo significativo nos dois anos anteriores. Enquanto a China importou 7,1 milhões de toneladas em 2022 e apenas 2,5 milhões em 2024, voltou a adquirir 4 milhões de toneladas entre março e julho de 2025, com 80% desse volume vindo da Tailândia, segundo dados da StoneX.
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O aumento dos preços do milho na China levou a indústria local de ração e etanol a buscar substituir o grão pela mandioca. Essa mudança elevou os preços da mandioca bruta na Tailândia para 1.700 baht por tonelada (US$ 51,85) em julho e agosto, acima dos 1.400 baht/t (US$ 42,70) registrados em junho — nível mais baixo desde 2017.
Demanda chinesa
Marcelo Di Bonifácio, analista da StoneX, observa que “a recuperação da demanda chinesa pode redefinir a rentabilidade das culturas na Tailândia. A mandioca ressurge como opção viável, principalmente se os preços do açúcar continuarem em queda”.
Até julho, as exportações de mandioca e derivados alcançaram 4,9 milhões de toneladas, quase igualando o total de 5,2 milhões de 2024. A expectativa é de manutenção da recuperação até 2026. Reacendendo a competição com a cana nas regiões Norte e Nordeste, onde produtores costumam alternar culturas conforme a rentabilidade.
O preço do açúcar cotado abaixo de 16 centavos de dólar por libra pressiona o governo a reduzir o preço mínimo da cana, fortalecendo a migração para a mandioca. Segundo cálculos da StoneX com base no Escritório de Economia Agrícola da Tailândia, a mandioca precisaria atingir preços entre 2.000 e 2.300 baht por tonelada para superar a cana, caso esta caia para menos de 1.000 baht/t.
Mudança inevitável
Di Bonifácio destaca: “Se a cana perder rentabilidade e a mandioca alcançar 2.300 baht/t, a mudança será inevitável. Podendo impactar a oferta global de açúcar já na safra 2026/27”.
Essa substituição ocorre num momento crítico para o açúcar, que enfrenta superávit projetado para 2025/26 e pressão baixista após três safras seguidas em alta. Como responsável por cerca de 10% da exportação global do adoçante, a Tailândia tem papel decisivo nesse cenário.
Mesmo uma redução parcial da área plantada de cana no país pode limitar a produção de açúcar e interromper o ciclo de crescimento iniciado em 2022, amenizando o excesso de oferta mundial.
“A Tailândia é elo estratégico para açúcar e mandioca. Qualquer alteração em sua produção afeta os fluxos comerciais asiáticos e o equilíbrio global das commodities agrícolas”, afirma Di Bonifácio.
No curto prazo, a retomada da demanda chinesa traz nova competitividade para a mandioca. No médio prazo, esse rearranjo pode redesenhar a dinâmica de dois mercados agrícolas fundamentais para a economia global.