A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lança oficialmente a cultivar BRS 54 Lumiar, uma nova variedade de uva branca de mesa sem sementes, desenvolvida para o Semiárido brasileiro. A cultivar promete reduzir em até 50% os custos com mão de obra no manejo, um dos principais desafios da viticultura na região.
A BRS 54 Lumiar é resultado do programa de melhoramento genético “Uvas do Brasil”, coordenado pela Embrapa. Ela será apresentada ao público durante as comemorações do 52º aniversário da instituição, em solenidade marcada para hoje, 7 de maio, em Brasília (DF).
Segundo o pesquisador João Dimas Garcia Maia, da Embrapa Semiárido, a nova cultivar atende a uma demanda histórica por uma variedade de uva branca sem sementes, com menor necessidade de intervenções manuais, como o raleio de cachos. “As cultivares estrangeiras demandam pelo menos 50% a mais de mão de obra para essa prática. Além de imporem o pagamento de royalties por quilo produzido”, explica o pesquisador.

Por se tratar de cultivar nacional, os produtores que optarem pela BRS 54 Lumiar precisam pagar apenas pelas mudas, sem encargos adicionais por produtividade. Essa condição reduz consideravelmente o custo de produção e pode ampliar o acesso à cultivar por pequenos agricultores.
Atributos sensoriais valorizados
Com alto potencial comercial, a BRS 54 Lumiar se destaca também por atributos sensoriais valorizados pelo mercado: bagas grandes e elípticas, textura crocante e macia, alto teor de açúcares, acidez equilibrada e ausência de adstringência na película. As bagas possuem coloração amarelo-clara com tons esverdeados, lembrando o brilho da lua cheia que inspirou o nome da cultivar.
De acordo com o chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, Adeliano Cargnin, a nova cultivar é uma entrega relevante para o setor produtivo: “A BRS 54 Lumiar atende a todos os perfis de produtores, dos familiares aos grandes. A redução da mão de obra no manejo dos cachos impacta diretamente no custo de produção e pode resultar em maior lucro e preço mais competitivo para o consumidor”.

O viticultor e consultor Newton Matsumoto, que participou da validação da cultivar no Vale do São Francisco, destaca a produtividade, o sabor e a aparência da nova uva como fatores decisivos para sua adoção. “A cultivar entrega produtividade, sabor e aparência. É uma uva com grande potencial de mercado, que deve agradar tanto produtores quanto consumidores”, afirma.
A equipe da Embrapa testou a cultivar em diversas regiões, mas até o momento recomenda seu cultivo no Vale do Submédio São Francisco, onde o clima e a irrigação favorecem a produção de uvas de mesa ao longo de todo o ano.
Desenvolvimento
A equipe da Embrapa Uva e Vinho realizou, em 2010, um cruzamento genético na Estação Experimental de Viticultura Tropical, em Jales (SP), que deu origem à BRS 54 Lumiar. Em 2019, os pesquisadores implantaram as primeiras unidades de validação no Vale do São Francisco, em parceria com 12 empresas da região.
Para garantir o acesso ao material genético, a Embrapa realiza a distribuição das mudas exclusivamente por meio de viveiristas licenciados. A lista desses fornecedores está disponível no site da Empresa. Viveiristas interessados em adquirir o material básico da cultivar podem participar do edital de oferta pública da Estação Experimental de Canoinhas (SC).
O programa “Uvas do Brasil”, iniciado na década de 1970, é responsável pelo desenvolvimento de cultivares adaptadas às condições brasileiras. O polo do Vale do São Francisco é o maior produtor nacional de uvas de mesa finas e sem sementes. São cerca de 16 mil hectares cultivados, segundo o Hortifruti/Cepea (Esalq/USP).
Cultivares
Entre as cultivares já consolidadas na região estão a BRS Vitória (uva preta sem sementes), BRS Isis (uva vermelha sem sementes), BRS Núbia (uva preta com sementes) e BRS Melodia (uva vermelha sem sementes). A chegada da BRS 54 Lumiar amplia esse portfólio. E reforça o protagonismo da pesquisa nacional no desenvolvimento de soluções para a fruticultura irrigada no Semiárido.
O desenvolvimento da cultivar de uva branca contou com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). E com colaboração do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) nas análises de compostos funcionais.
Leia mais:
+ Agro em Campo: Palhoça oferta áreas aquícolas para pescadores e maricultores
+ Agro em Campo: Capim-elefante se revela alternativa sustentável na produção de energia