A quantidade de pedidos de recuperação judicial no agro praticamente explodiu em 2024. Foram quase 1.300 solicitações no ano, mais que o dobro do registrado em 2023. O dado expõe uma realidade incômoda: a vulnerabilidade financeira do setor segue alta, e a urgência por proteção estratégica nunca foi tão clara. Entre as principais saídas, o seguro rural se consolida como ferramenta essencial para mitigar riscos e evitar prejuízos que podem comprometer toda uma operação.
Apesar de o seguro rural ter sido criado, por lei, em 2003, sua adesão ainda é muito baixa. Apenas cerca de 10% da área agrícola brasileira é segurada, em contraste com uma fatia de 80% nos Estados Unidos. A ferramenta é essencial para protegero produtor, o sistema financeiro, a cadeia de insumos e as finanças públicas, especialmente diante das mudanças climáticas e instabilidades de mercado. Além disso, globalmente, movimentos como o “tarifaço”, nos Estados Unidos, também aumentam as oscilações nos preços das commodities, encarecendo insumos essenciais para as operações no campo.
Mudanças climáticas
E é claro, não podemos esquecer das mudanças climáticas. Uma das pautas mais importantes em todo o mundo na atualidade, esses eventos extremos promovem várias imprevisibilidades para o agro, não apenas travando entregas, mas também prejudicando a cadeia produtiva como um todo do dia para a noite.
As enchentes que impactaram o Rio Grande do Sul em 2024 são exemplos disso. Não à toa, o Comitê Gestor Interministerial do Seguro Rural alterou a distribuição do orçamento de mais de R$ 1 bilhão do PSR (Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural), disponibilizando R$ 210 milhões para auxiliar os produtores do estado, segundo o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária).
O alto custo é um obstáculo, agravado pela falta de subsídios suficientes do governo para o prêmio do seguro. Por isso, iniciativas como o projeto de lei 2951/2024, que busca estruturar um fundo de catástrofe, são vistas como um avanço importante para o futuro do agronegócio brasileiro.
Isso reforça que o seguro rural é um mecanismo essencial de proteção para cobrir perdas. Só esse fator já traria mais previsibilidade de receita para as empresas, uma vez que a continuidade das operações estaria garantida. No entanto, a estabilidade na produção e no abastecimento é fortalecida por outras diversas vantagens, que ajudam as empresas a planejar uma jornada de crescimento sem surpresas negativas.
É o caso da facilidade de obtenção de crédito, por exemplo. Instituições financeiras enxergam com bons olhos os recursos que asseguram a confiabilidade das atividades dos produtores, confiando que os recursos disponibilizados trarão um bom retorno. Ou ainda podemos citar o próprio fortalecimento da cadeia de suprimentos, uma vez que reduz o risco de calote a fornecedores.
Por que a adesão ao seguro rural ainda é baixa no Brasil?
Apesar das suas inúmeras vantagens, o seguro rural ainda não foi abraçado como poderia no território brasileiro. O principal motivo disso é a assimetria de informações. Instituições financeiras têm dificuldades em obter dados básicos e atualizados sobre as propriedades rurais, como tipo de cultura, datas de plantio e aderência ao ZARC (Zoneamento Agrícola de Risco Climático).
Isso sem entrar no mérito de outros agravantes, como as grandes distâncias físicas entre centros financeiros e áreas rurais, que impõe custos elevados e baixa capilaridade. Ou até mesmo a própria ineficiência da regulação de sinistros, que exige presença em campo e processos manuais.
A tecnologia como resposta
Hoje, já existem soluções digitais que podem sanar as dores dos seguros rurais tradicionais, conectando todos os elos da cadeia em uma plataforma integrada e com base em informações confiáveis, automatizadas e auditáveis. Basicamente, isso funciona como uma lente permanente sobre o campo, mostrando em poucos cliques os caminhos para trazer mais eficiência à operação.
A subscrição, por exemplo, passa a ser muito mais segura e personalizada com a tecnologia. Além disso, dados georreferenciados são capazes de avaliar riscos com maior precisão, permitindo a liberação de apólices com base em critérios técnicos. Já o monitoramento remoto e contínuo por satélite ajuda a prever adversidades — como tempestades e secas —, de forma que o produtor possa atuar preventivamente. Nesse sentido, o acesso a imagens e informações históricas de uma determinada região também promove controle automatizado e à distância de sinistros, apoiando e facilitando o trabalho dos peritos.
Menos burocracia
A própria contratação do seguro também passa a ser menos burocrática, uma vez que a digitalização acelera o processo e reduz a dependência de visitas in loco, inclusive com facilidades para liberação de subvenções.
Ou seja, todos os desafios operacionais, logísticos e informacionais que impedem a adoção dessa ferramenta em larga escala são solucionados. A longo prazo, isso não só protege o negócio, mas também alavanca o crescimento sustentável do setor.
Com o apoio da tecnologia, o seguro rural tem tudo para se tornar uma infraestrutura essencial para o agro brasileiro. O futuro do segmento já chegou, só precisa ser compreendido e colocado em prática por completo.

*Sergio Rocha é CEO da Agrotools. Com mais de 30 anos de experiência em áreas como commodities agrícolas, serviços financeiros, tecnologia, comércio internacional, dados e geotecnologia.
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