A produção brasileira de algodão deve atingir 3,95 milhões de toneladas na safra 2024/2025, impulsionada pelo aumento de 10,3% na área plantada. A projeção foi apresentada pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) durante a 78ª reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em Brasília. O encontro também debateu o cenário econômico global, os impactos da guerra comercial entre Estados Unidos e China e as condições climáticas que podem afetar a safra.
Além da expansão na produção e nas exportações, o consumo da indústria nacional pode crescer até 20 mil toneladas. Em 2023, a demanda interna fechou em 750 mil toneladas. O Brasil também tem ampliado sua presença no mercado internacional, com novos compradores no Egito, Paquistão e Índia. A próxima reunião da Câmara Setorial está prevista para 30 de junho.
Clima e produtividade do algodão sob observação
A área plantada com algodão deve superar a projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra passada, que foi de 3,70 milhões de toneladas. No entanto, a produtividade média esperada é de 1.842 quilos por hectare, uma redução de 3,2% em relação ao ciclo anterior. O fenômeno climático veranico já preocupa produtores em regiões da Bahia e de Goiás.
O presidente da Abrapa, Gustavo Piccoli, que comandou a reunião pela primeira vez após suceder Alexandre Schenkel, destacou que os números ainda são preliminares. “Até o momento, tudo segue dentro da normalidade, mas há preocupações com o clima. Algumas regiões já enfrentam estiagem, embora tenhamos recebido informações de chuvas na Bahia. Ainda é cedo para previsões definitivas, então adotamos uma postura conservadora”, afirmou.
Guerra comercial entre EUA e China impacta mercado do algodão
A disputa tarifária entre Estados Unidos e China dominou as discussões, superando até mesmo o impacto do clima. Segundo Marcelo Duarte, diretor de Relações Internacionais da Abrapa, essa nova fase da guerra comercial afeta diretamente o algodão brasileiro. O cenário favorece o Brasil em alguns pontos, como a valorização do basis na Ásia, maior competitividade no mercado chinês e possível aumento das exportações no curto prazo.
No entanto, o setor enfrenta desafios. A queda nas cotações da Bolsa de Nova York e a maior concorrência em mercados alternativos são preocupações. “O Brasil já ampliou significativamente sua participação na China, o que reduz espaço para novos ganhos expressivos. Além disso, como grande parte do algodão importado pela China é usada na exportação de produtos têxteis, a taxação sobre esses bens pode limitar a demanda”, explicou Duarte.
Com as novas tarifas previstas para 2025, os EUA podem perder ainda mais participação no mercado chinês. O Brasil tende a se consolidar como principal fornecedor, mas sem o mesmo impacto da primeira fase da guerra comercial, iniciada em 2018.
Fim da isenção fiscal nos EUA pode influenciar consumo global
Outro fator que pode alterar o mercado é o fim da isenção fiscal “De Minimis” nos Estados Unidos. Essa regra permitia importações de até US$ 800 sem tributação. Com a mudança, a competitividade dos produtos têxteis chineses à base de poliéster pode cair, favorecendo a demanda por algodão. “Isso pode reduzir a importação de produtos sintéticos de baixa qualidade via correios e estimular a compra de itens de algodão por canais convencionais de importação”, avaliou Duarte.
Exportações e concorrência global
De julho de 2024 a março de 2025, o Brasil já embarcou 2,2 milhões de toneladas de algodão. No último ano comercial, o volume total exportado foi de 2,58 milhões de toneladas. O presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Miguel Faus, destacou que o mercado global enfrenta preços pressionados devido à demanda enfraquecida, influenciada pela inflação e pelas baixas taxas de juros.
A China continua sendo o principal destino do algodão brasileiro, mas a concorrência dos Estados Unidos pode aumentar em mercados estratégicos. “Os EUA negociam um acordo de livre comércio com a Índia para isentar 60 mil toneladas de algodão da tarifa de importação. Isso pode afetar a participação brasileira nesse mercado”, alertou Faus.
Logística favorece escoamento da safra
A infraestrutura logística tem sido um diferencial para o Brasil manter o ritmo das exportações. “Se houver disponibilidade de navios, contêineres e rotas de transporte, não teremos grandes problemas. Atualmente, cerca de 50% da safra já foi vendida”, afirmou Faus. Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil continua sendo o maior exportador mundial de algodão.
O mercado segue ajustando preços, já que a produção global ainda supera o consumo. Isso limita valorizações expressivas, mas cria um efeito regulador: quando os preços caem, a demanda tende a crescer, ajudando a equilibrar as cotações.
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