Com a elevação da taxa Selic para 14,25% ao ano, anunciada pelo Banco Central na quarta-feira (19), e a aprovação do Orçamento Federal de R$ 5,8 trilhões para 2025, os produtores rurais enfrentam um cenário de crédito mais caro e restritivo. Especialistas alertam para a necessidade de gestão rigorosa de custos e riscos na safra 2025/26, especialmente para pequenos e médios agricultores.
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic ao maior patamar desde 2016, impactando diretamente os custos de empréstimos e financiamentos. Para Enilson Nogueira, especialista de Mercado de Grãos da Céleres Consultoria, “o acesso ao crédito se torna cada vez mais difícil, principalmente para quem depende de financiamentos para custear a safra”.
Os riscos se ampliam com o aumento da inadimplência no setor: dados do Serasa apontam crescimento no terceiro trimestre de 2024. “As instituições bancárias estão exigindo mais garantias”, reforça Vinícius Paiva, especialista em fusões e aquisições da Céleres.
A expectativa de colheita de 170 milhões de toneladas de soja em 2024/25 – 17 milhões a mais que na temporada anterior – pode recompor parte das perdas do ciclo passado. No entanto, Nogueira ressalva: “Há desafios de logística e armazenamento que não podem ser ignorados”.
Barter surge como alternativa ao crédito tradicional
Em meio à burocracia financeira, a troca de insumos por produção, conhecida como Barter, ganha força. “Essa modalidade gera segurança para quem financia o agro em um cenário de alto risco”, explica Paiva. A prática, comum entre agricultores e distribuidores, evita gastos elevados de capital inicial.
A cotação do dólar, em torno de R$ 5,70, tem compensado pressões externas. Tem produtor recebendo de R$ 15 a R$ 20 a mais por saca de soja”, destaca Nogueira. Já o milho apresenta cenário mais firme, com demanda aquecida por etanol e ração animal.
Recomendações para os próximos ciclos
Diante da instabilidade, a Céleres orienta:
- Controle rigoroso do caixa: usar crédito de terceiros apenas em emergências.
- Cortes de despesas: manter custos sob monitoramento constante.
- Postura conservadora em investimentos: adiar projetos de expansão sem planejamento detalhado.
- Diversificação de crédito: buscar múltiplas fontes de financiamento.
- Aproveitar o câmbio: usar o dólar como alavanca nas margens.
Especialistas projetam estabilização do agro a partir de 2026, mas até lá, fatores climáticos e a trajetória da Selic exigirão atenção redobrada. “O produtor precisa focar em eficiência técnica e econômica”, conclui Nogueira.
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