O crédito digital vem ganhando espaço no agronegócio brasileiro, facilitando o acesso a recursos financeiros. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP), o setor representou 21,8% do PIB nacional em 2024, reforçando sua relevância econômica. Ou seja, em um cenário de inadimplência crescente, que atingiu 7,3% no primeiro trimestre de 2024, o financiamento digital se tornou essencial para produtores rurais.
A Nagro Crédito Agro, fintech especializada em crédito 100% digital, realizou um estudo para traçar o perfil dos produtores que buscaram financiamento privado entre 2022 e 2024. Em resumo, a pesquisa, baseada em dados de mais de 78 mil produtores, analisou idade, tempo de atividade, cultura predominante e tamanho da propriedade.
Faixa etária e tempo de atividade no setor
Os produtores entre 30 e 49 anos lideram os pedidos de financiamento digital, representando 53% dos solicitantes. Já os produtores acima de 60 anos correspondem a 14% das solicitações. Segundo Gustavo Alves, CEO da Nagro, os dados revelam a presença de herdeiros que continuam a gestão familiar e de uma nova geração de empreendedores que vê no agronegócio uma oportunidade de inovação.
Além disso, o levantamento também apontou que 46% dos solicitantes possuem entre um e dez anos de atividade no setor. Outros 21% têm entre 11 e 15 anos de experiência. Já os produtores com mais de 20 anos representam apenas 6% dos pedidos, refletindo a estabilidade de suas operações.
Pecuária lidera solicitações de crédito
A pecuária é a atividade predominante entre os solicitantes de crédito digital. O setor de leite e corte responde por 49% das operações. Na agricultura, as culturas de soja, milho e café representam 26% dos financiamentos, enquanto outros segmentos agrícolas somam 25%.
A análise considerou o cadastro CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) dos produtores, registrado no Sintegra (Sistema Integrado de Informações sobre Operações Interestaduais com Mercadorias e Serviços). Apesar de muitos produtores desenvolverem atividades secundárias, a pesquisa focou na principal cultura trabalhada.
Distribuição geográfica dos financiamentos
Minas Gerais lidera as solicitações, com 24% das operações, reflexo da origem mineira da fintech. O Rio Grande do Sul aparece em seguida, com 11%. A região Sul, impulsionada pela pecuária, responde por quase 30% dos pedidos. São Paulo representa 6,4% das solicitações, enquanto Roraima lidera no Norte, com 5,9%.
Os estados do Centro-Oeste, tradicionalmente fortes na agropecuária, somam apenas 21% dos pedidos. Os produtores da região ainda apresentam maior resistência ao crédito digital em comparação aos estados do Sul.
Pequenas propriedades dominam os pedidos
A maioria dos solicitantes possui propriedades pequenas. Cerca de 51% das áreas financiadas variam entre 1 e 20 hectares, reforçando a predominância da pecuária de leite e corte, que exige menor espaço. Já produtores com mais de 100 hectares representam pouco mais de 23% das solicitações.
Participação feminina no agronegócio
O levantamento confirmou que os homens ainda lideram os pedidos de financiamento, com 70% das operações. No entanto, a presença feminina vem crescendo. O Censo Agropecuário de 2017 do IBGE apontou que 19% dos estabelecimentos rurais no Brasil são administrados por mulheres, contra 13% em 2007. Estudos do Ministério da Agricultura e Pecuária, Embrapa e IBGE indicam que as mulheres já participam da gestão de mais de 30 milhões de hectares agropecuários.
O estudo da Nagro reforça as transformações no agronegócio brasileiro e o impacto do crédito digital na modernização do setor.
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