O presidente americano Donald Trump anunciou hoje, 9 de julho de 2025, uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, com implementação prevista para 1º de agosto Plano Safra 2025/2026 — Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar. No caso do Brasil, a tarifa de 50% é a mais alta já anunciada contra o país, superando as taxas aplicadas a outros parceiros comerciais nesta semana.
A medida tem motivações declaradamente políticas e comerciais, sendo parcialmente em retaliação ao julgamento em curso do ex-presidente Jair Bolsonaro. Porém, a justificativa são questões relacionadas ao déficit comercial bilateral.
A reação dos mercados foi imediata. A ameaça de Trump de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros fez a moeda do país despencar, mas cenários externo e interno são desafiadores para o setor, demonstrando a nervosismo dos investidores diante da medida.
Consequências para o agronegócio brasileiro
A nova tarifa tende a afetar o agronegócio, a indústria e a pauta de exportações como um todo, aumentando o custo dos produtos brasileiros nos EUA e dificultando o acesso ao principal mercado do hemisfério norte. Portanto, o aumento de 50% nos preços tornará os produtos agrícolas brasileiros significativamente menos competitivos no mercado americano.
O agronegócio brasileiro, que tem os Estados Unidos como um dos principais destinos de exportação, será particularmente afetado. Os principais produtos afetados devem ser:
- Café
- Soja e derivados
- Carne bovina e suína
- Açúcar e etanol
- Produtos florestais
Assim, todos esses setores enfrentarão uma barreira tarifária sem precedentes, o que pode resultar em redução significativa dos volumes exportados para os EUA.
Um exemplo concreto do desequilíbrio tarifário já existente pode ser observado no setor de etanol. A tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%. Mesmo assim, o Brasil cobra das exportações de etanol dos EUA uma tarifa de 18%. Como resultado, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto os EUA exportaram apenas US$ 52 milhões em etanol para o Brasil. A nova tarifa de 50% deve ampliar drasticamente essa disparidade.
A relação comercial entre Brasil e EUA já apresentava assimetrias. 48% das exportações norte-americanas para o Brasil entram sem tarifas. Cerca de 15% dos produtos importados dos Estados Unidos estão sujeitos a alíquotas de no máximo 2%, demonstrando uma abertura significativa do mercado brasileiro aos produtos americanos.
O agronegócio brasileiro precisará acelerar a diversificação de mercados, buscando alternativas na Ásia, Europa e outros parceiros comerciais. A China, já um grande importador de produtos agrícolas brasileiros, pode se tornar ainda mais estratégica.
Negociações diplomáticas
O governo brasileiro costuma buscar a mesa de negociações, como já demonstrou em outras situações. Esse deve ser o caminho. O diálogo diplomático será crucial para amenizar os impactos da medida.
A nova tarifa entra em vigor no dia 1º de agosto e tem potencial para afetar diretamente setores fundamentais da economia brasileira, como o agronegócio, a indústria de base e os bens de consumo. Considerando que o agronegócio brasileiro registrou exportações de US$ 166,55 bilhões em 2023, uma redução nas vendas para os EUA pode impactar significativamente a balança comercial do setor.
A tarifa de 50% anunciada por Trump representa um dos maiores desafios comerciais enfrentados pelo agronegócio brasileiro em décadas. A medida anunciada por Trump é, antes de tudo, um gesto político, mas suas consequências econômicas serão tangíveis e imediatas.
O setor precisará se adaptar rapidamente através da diversificação de mercados, otimização de custos e intensificação das negociações diplomáticas. A capacidade de resposta do Brasil a essa crise determinará não apenas o futuro das relações comerciais bilaterais, mas também a competitividade do agronegócio brasileiro no cenário global.
Reações dos exportadores
Os exportadores de café, representados pelo Cecafé, foram um dos primeiros setores a se manifestar. Como o Brasil lidera a produção e a exportação mundial, o setor prevê impactos significativos.
O diretor geral do Cecafé, Marcos Matos acredita em negociação. “O Cecafé, o Conselho de exportadores de Café do Brasil, acompanha com atenção a discussão das tarifas nos EUA. É importante mencionar que os Estados Unidos é o país mais importante em termos de consumo de café, ao redor de 24 milhões de sacas. E o Brasil é o principal fornecedor nesse mercado, com mais de 30% de market share. É sabido, sobre as tarifas de café até então, que nós tínhamos 20% no Vietnã, portanto havia caído dos 40% inicialmente anunciado para 20%, nós temos Indonésia com 30%, Nicaragua com 18%, e todos os demais países concorrentes do Brasil com 10%, e o país estava nessa faixa de 10%.”
Apoio do setor nos Estados Unidos
O Cecafé e seus parceiros já começaram a negociação com apoio dos parceiros. Lembrando que durante o evento, mais de 40 países estiveram presentes com representantes no Brasil, o que mostra o poder do setor e da entidade. “E agora, com essa faixa de 50%, estamos fazendo um trabalho de agenda positiva, junto com nossos parceiros, como a National Coffee Association, junto a administração Trump. É importante lembrar que o café gera muita riqueza nos EUAS. Eles importam café e agregam valor na industrialização. Para cada um dólar de café importado, são gerados quarenta e três dólares na economia americana. São 2.2 milhões de empregos e 1,2% do PIB norte americano, uma vez que são gerados 343 bilhões de dólares na economia.”
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Matos finaliza de forma otimista sua fala. “Setenta e seis por cento dos americanos tomam café. Nós temos esperança que o bom senso prevaleça. Portanto estamos numa agenda positiva esperançosos que nós tenhamos uma condição muito mais apropriada no comércio de café para os Estados Unidos.”
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