Em um cenário marcado pela profunda crise das economias regionais, a cooperativa de laticínios SanCor, outrora líder no setor argentino, trava uma batalha jurídica e financeira para evitar seu colapso final. Recentemente, a empresa conseguiu impedir o leilão de mais de 436 mil quilos de queijo.
O fundo de investimento credor, IIG Structured Trade Finance, promoveria o leilão graças a uma ordem do juiz Guillermo Adrián Vales. Essa medida suspendeu as ações judiciais contra a SanCor, impedindo que qualquer credor se beneficie individualmente.
No entanto, essa não é a primeira tentativa do fundo estrangeiro de impor garantias. Em julho de 2024, a SanCor já havia evitado um leilão semelhante de 700.000 quilos de queijo, avaliados em 5 milhões de dólares, após chegar a um acordo com o mesmo credor. Portanto, a crise da SanCor persiste, refletindo a gravidade da situação econômica regional.
Gigante do setor
A SanCor, que no seu auge processava mais de 1,2 milhões de litros de leite diariamente, hoje mal chega aos 70 mil litros, um mínimo histórico que evidencia o impacto sobre os produtores da bacia leiteira.
Além disso, a empresa acumula uma dívida de quase 400 milhões de dólares com fornecedores, bancos e autoridades fiscais provinciais e nacionais. Desde 2017, as autoridades da cooperativa tentam reestruturar essa dívida, mas os anúncios de planos de resgate nunca se concretizaram.
Em 14 de fevereiro, o Juiz Vales declarou formalmente a SanCor em falência, classificando-a como “Grande Falência – Categoria A”. Entre as medidas adotadas, destacam-se a instituição de uma Curadoria Plural, a suspensão de processos judiciais contra a empresa e a criação de um Comitê Provisório de Credores. Além disso, foi definido o dia 29 de maio de 2025 como prazo final para envio de solicitações de verificação de crédito e 1º de julho de 2025 para quaisquer contestações.
Em declaração dirigida às comunidades de Santa Fé e Córdoba, o Juiz Vales explicou que o objetivo do concurso preventivo é evitar a falência da empresa. Sendo assim, espera proteger os interesses dos credores e manter a operação da empresa para preservar as fontes de trabalho. “Tentaremos encontrar soluções em conjunto com os credores para liquidar as dívidas e permitir que a empresa se recupere desta crise”, disse o comunicado do tribunal.
Crise além da financeira
No entanto, a crise da SanCor não se limita à sua situação financeira; também gerou fortes tensões internas. Nas últimas semanas, surgiram acusações entre ex-funcionários provinciais, membros do Conselho de Laticínios de Santa Fé e do sindicato ATILRA. Ou seja, os grupos se responsabilizam mutuamente pelo declínio da empresa.
Pedro Morini, ex-secretário da Santa Fe Dairy, acusou o sindicato ATILRA de tentar assumir o controle da empresa. Por sua vez, o sindicato, liderado por Etín Ponce, rejeitou as acusações e qualificou as declarações de Morini de “absoluta ignorância”. Em um comunicado, a ATILRA disse que “diagnósticos ruins levaram a decisões terríveis” na SanCor.
Embora a SanCor tenha conseguido recentemente que os tribunais interviessem para restaurar o serviço de eletricidade interrompido no início de fevereiro, seu futuro continua incerto. Com uma dívida multimilionária, uma capacidade operacional reduzida e um ambiente marcado por tensões internas, a cooperativa enfrenta um desafio particular para evitar seu desaparecimento.
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