Em meio aos crescentes impactos das mudanças climáticas na agricultura brasileira, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) sinalizou nesta sexta-feira (31) mudanças urgentes no Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). As alterações, previstas para o próximo Plano Safra (2024/2025), buscam ampliar a proteção dos produtores e equilibrar a cobertura entre regiões e culturas. O anúncio foi feito durante o workshop “Seguro Rural e Mudanças Climáticas”, realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (iCS).
Guilherme Campos, secretário de Política Agrícola do MAPA, destacou que o PSR está desequilibrado: 90% dos recursos concentram-se no Sul do país e nas culturas de soja e milho, deixando outras regiões e produtos vulneráveis. “Estamos desenvolvendo uma proposta moderna para o PSR, com foco em coberturas mais abrangentes e adaptadas aos novos riscos climáticos”, afirmou. O novo modelo deve ser anunciado em junho, junto ao Plano Safra, que define as linhas de crédito e subsídios para o agro.
Brasil x EUA: a lacuna na proteção agrícola
Enquanto os EUA destinam US$ 10 bilhões anuais ao seguro rural como política de Estado, o Brasil enfrenta desafios crônicos. Dados da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) revelam que apenas 16% da área agrícola nacional está segurada. “Somos o maior produtor de alimentos do mundo, mas a falta de previsibilidade orçamentária do PSR desestimula os produtores”, criticou Guilherme Rios, assessor técnico da CNA.
Mercado em crise: seguradoras recuam após eventos extremos
O setor de seguros rurais vive um paradoxo. Embora tenha saltado de 2 para 18 seguradoras na última década, eventos como a seca histórica no Centro-Sul (2021-2022) reduziram o número de empresas ativas para 12 a 14. “Precisamos de políticas estruturadas para atrair resseguradores e capital de risco. Garantindo sustentabilidade ao modelo”, defendeu Glaucio Toyama, presidente da Comissão de Seguro Rural da FenSeg.
Especialistas apontaram caminhos para modernizar a gestão de riscos:
- Seguro paramétrico: Cobertura baseada em índices climáticos (ex.: volume de chuvas), agilizando indenizações;
- Banco de dados unificado: Integração de informações sobre clima, solo e produtividade para calibrar apólices;
- Fundo Catástrofe: Projeto de Lei 2.951/2024, da senadora Tereza Cristina (PP-MS), propõe criar um fundo emergencial para desastres naturais.
Toyama alertou que, para o agricultor, o seguro ainda é “o último item no planejamento anual”. “Precisamos de produtos mais acessíveis e políticas públicas que garantam preços justos, aliando rentabilidade e sustentabilidade”, reforçou.
O MAPA promete detalhar as mudanças do PSR nas próximas semanas. Enquanto isso, o workshop reuniu nomes como Maria Netto (iCS), Eduardo Assad (FGV Agro), Paulo Artaxo (USP) e representantes da Embrapa, IRB Brasil RE e Syngenta, reforçando a necessidade de colaboração entre setor público, privado e academia.
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