Pouca gente sabe, mas o socol, embutido típico de Venda Nova do Imigrante (ES), tem origem direta no ossocollo, um salume italiano feito com carne do pescoço do porco. Contudo, ao chegar ao Brasil, essa receita precisou ser adaptada. Por aqui, os imigrantes italianos optaram por substituir essa parte mais gordurosa pelo lombo suíno, que é mais magro, mais acessível e muito mais aceito pelo paladar local.
Apesar dessa mudança, os produtores preservaram quase integralmente a técnica artesanal de cura. Na prática, isso significa que o socol mantém não só a essência do sabor italiano, como também carrega as características únicas do terroir capixaba — influenciado diretamente pelo clima, pela altitude e, sobretudo, pelos fungos naturais da região.
Por que só pode ser feito no frio? Entenda o segredo do socol
O que poucos imaginam é que o socol não pode ser produzido o ano inteiro. Isso porque ele depende diretamente de condições climáticas específicas. A fabricação ocorre exclusivamente entre maio e outubro, período marcado por temperaturas mais baixas e clima seco na serra capixaba.
Essas condições são essenciais, já que favorecem o desenvolvimento de um fungo verde natural, responsável por proteger a peça e, ao mesmo tempo, intensificar aroma, sabor e textura. Durante a cura, que pode durar de três a seis meses, a carne chega a perder até 50% do seu peso. Assim, os sabores se concentram, e o resultado é um embutido de qualidade excepcional.
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Selo de qualidade: o socol que tem Indicação Geográfica
Todo esse processo artesanal e rigoroso não passou despercebido. Tanto que, em 2018, o socol de Venda Nova do Imigrante recebeu o selo de Indicação Geográfica (IG), concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Esse reconhecimento garante que somente os produtores da região, que seguem rigorosamente os métodos tradicionais, podem utilizar a denominação oficial “Socol de Venda Nova do Imigrante”.
Atualmente, apenas sete famílias estão habilitadas a produzir o verdadeiro socol com IG. Elas se concentram em localidades específicas, como Alto Bananeiras e Lavrinhas, onde o microclima — somado aos fungos locais — desempenha um papel crucial no sucesso do produto final.
Como consumir e onde comprar o verdadeiro socol
Na hora de consumir, o socol se revela extremamente versátil. Fatiado bem fino, como é tradicional na cultura dos salames italianos, ele harmoniza perfeitamente com pães artesanais, queijos curados, vinhos e até cervejas especiais. Além disso, muitos chefs e consumidores costumam incorporar o socol em diversas receitas, como bruschettas, risotos e até hambúrgueres gourmet.
Quem deseja experimentar essa iguaria encontra o socol em empórios e lojas especializadas de Venda Nova do Imigrante. Além disso, vários mercados selecionados de São Paulo também oferecem o produto. Por fim, diversos sites especializados de venda online oferecem o socol com facilidade. O preço gira em torno de R$ 125 por quilo, refletindo não só a qualidade, mas também o valor cultural e artesanal embutido em cada peça.

Festa do Socol: turismo, cultura e gastronomia no Espírito Santo
Por trás desse embutido há muito mais do que sabor — existe uma cultura viva. Todos os anos, Venda Nova do Imigrante realiza a tradicional Festa do Socol, um evento que vai muito além da gastronomia. Nele, turistas de várias partes do país participam de degustações, oficinas, leilões, shows e visitas guiadas às propriedades dos produtores.
Durante o evento, é possível conhecer de perto a rotina das famílias que mantêm viva essa tradição. Locais como o Sítio Lorenção e o Café Tio Vé recebem visitantes que, além de aprenderem sobre o processo, podem adquirir produtos diretamente dos fabricantes.
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