Enquanto o Brasil finaliza a colheita da safra 2023/24 de soja, o mercado global já mira o próximo ciclo (2025/26), marcado por incertezas. Dados preliminares do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) revelam um cenário de transição: a área de soja nos EUA pode encolher 3,4%, passando de 35,2 milhões para 34 milhões de hectares, enquanto o milho mantém estabilidade em 38 milhões de hectares. A mudança reflete custos competitivos do milho e preços desfavoráveis da soja, mas a produtividade e fatores climáticos ainda são wildcards para o mercado.
Mudança no padrão de plantio: milho avança, soja recua
O relatório do USDA destaca que a relação de preços entre milho e soja está direcionando escolhas dos produtores americanos. Com custos de produção menores e demanda estável por milho (especialmente para etanol e ração), a cultura ganha vantagem. Para a soja, a pressão vem de estoques globais robustos e preços em Chicago em território baixo – reflexo da expectativa de safra recorde na América do Sul.
Produtividade: o grande ponto de interrogação
Apesar da projeção de estoques menores de soja nos EUA (8,71 milhões de toneladas), o USDA mantém otimismo sobre a produtividade. Especialistas, porém, alertam para riscos:
- El Niño/La Niña: padrões climáticos em transição podem afetar plantio e desenvolvimento das lavouras.
- Custos de insumos: volatilidade em fertilizantes e energia impactam margens.
“Historicamente, as projeções iniciais do USDA são ajustadas. A janela crítica será o segundo semestre de 2025, quando definiremos se a produtividade validará ou não o cenário atual”, afirma Felipe Jordy, gerente de inteligência da Biond Agro.
Estoques e oferta global: pressão sobre os preços
A safra sul-americana é peça-chave para a continuidade da oferta abundante. O USDA projeta preços médios da soja em queda (US$ 11,20 por bushel), pressionados pela expectativa de alta produção no Brasil, Argentina e Paraguai. Enquanto isso, a China, maior importadora global, reforça dependência do grão brasileiro – hoje responsável por 70% das compras chinesas.
Dados chave:
- Concorrência Internacional: produção de canola (Europa) e girassol (Mar Negro) avança, ampliando oferta de óleos vegetais e farelo.
- Preços Futuros: contratos na Bolsa de Chicago (CBOT) operam em baixa, com traders precificando risco de superprodução global.
Brasil como player chave: oportunidades e riscos
O país consolida-se como maior exportador global de soja, mas a dependência da China e a concorrência exigem estratégias ágeis. “Nossa competitividade logística e produtiva sustenta as exportações, mas variações na demanda chinesa ou conflitos geopolíticos podem derrubar preços”, ressalta Jordy.
Alertas para 2025/26:
- Clima: Fenômenos como secas no Cerrado ou excesso de chuvas no Sul podem alterar projeções.
- Logística: Custos de frete e gargalos em portos exigem atenção.
Diante de cenário volátil, especialistas recomendam:
- Diversificação de culturas: Alternar entre soja, milho e algodão para equilibrar riscos.
- Contratos futuros: Travar preços em períodos de alta volatilidade.
- Monitoramento climático: Parcerias com plataformas de previsão para antecipar decisões.
“A safra 2025/26 será definida por quem souber ler dados em tempo real. Ajustes do USDA até março trarão mais clareza, mas o mercado exige preparo para reviravoltas”, conclui Jordy.
Leia mais:
+ Agro em Campo: Rio Grande do Sul celebra safra histórica de uvas em 2025
+ Agro em Campo: Apicultura em Minas Gerais cresce 30% em 2024