No miolo do estado de São Paulo, onde o Rio Tietê desliza preguiçoso entre matas e turbinas, uma visitante inusitada roubou a cena na última semana: uma sucuri gigante resolveu dar o ar da graça na eclusa da Usina Hidrelétrica de Barra Bonita, deixando boquiabertos turistas, moradores e estudantes em excursão.
A aparição não foi só um susto, foi uma aula. Com o sol refletindo nas águas e os celulares a postos, o que era pra ser só mais um passeio virou um encontro direto com o selvagem. Professores aproveitaram o momento para explicar, ali mesmo, a importância da coexistência com a fauna brasileira.
O réptil, que pode ultrapassar 6 metros e pesar mais de 100 quilos, surgiu enrolado, deslizando lentamente como se soubesse que era estrela do dia. A sucuri gigante, normalmente avessa a encontros humanos, se apresentou no palco menos provável. Mesmo sendo um animal típico de áreas mais afastadas, a sucuri encontrou ali um ponto de passagem.
A eclusa, com seus 148 metros de comprimento e 12 de largura, foi projetada para permitir que embarcações superem o desnível de 26 metros do rio em apenas 12 minutos. Inaugurada em 1973, a estrutura é usada, por exemplo, tanto para navegação como para fins turísticos — sendo a primeira da América do Sul a receber visitantes com esse objetivo.
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O Rio imponente
O Tietê, esse velho conhecido dos paulistas, nasce em Salesópolis, na Serra do Mar, e corta o estado por 1.136 quilômetros até desaguar no Paraná. Por séculos, serviu de caminho aos bandeirantes. Hoje, ainda sofre — e muito — com a poluição nas regiões mais urbanizadas. Mas em Barra Bonita, onde o rio reencontra um pouco da dignidade perdida, ainda é possível pescar, remar e até esbarrar com uma sucuri.
O episódio portanto não passou despercebido pelos operadores da usina, que reforçaram a importância de manter o equilíbrio entre o progresso e a preservação.

A eclusa, que já era símbolo da inteligência humana para driblar os obstáculos da natureza, agora carrega um novo significado: o de que, mesmo cercada por máquinas, a vida insiste. E aparece. Grande, molhada e silenciosa. Como um poema escorregadio, que nos lembra que, por mais concreto que se derrame, o bicho ainda mora logo ali.
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