Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) desenvolveram um suplemento alimentar experimental para abelhas nativas sem ferrão da espécie mandaçaia (Melipona quadrifasciata). O objetivo é garantir a sobrevivência desses polinizadores durante períodos de escassez de recursos naturais. O estudo foi publicado na revista científica Agriculture e representa um avanço importante para a conservação das abelhas, essenciais à manutenção dos ecossistemas brasileiros.
A pesquisa foi conduzida por Patrícia Miranda Pinto, ex-aluna do programa de pós-graduação em Biotecnologia da Unifesp. E teve orientação da professora Michelle Manfrini Morais. Além da colaboração de especialistas da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo (Semil) e da Universidade de São Paulo (EACH-USP). O objetivo foi criar um alimento que simulasse as propriedades nutricionais do pólen fermentado. Ele é fundamental para o desenvolvimento das colônias de mandaçaia, espécie amplamente encontrada na Mata Atlântica e no Cerrado, especialmente nas regiões Sul e Sudeste do país.
O desmatamento e o uso intensivo de agrotóxicos têm ameaçado a sobrevivência das abelhas nativas, reduzindo a oferta de pólen, néctar e habitats adequados. Para enfrentar esse desafio, os pesquisadores analisaram a microbiota do “saburá”. Ele é um pólen fermentado consumido naturalmente pelas abelhas sem ferrão. E formularam um suplemento à base de farelo proteico e xarope de açúcar. Testes laboratoriais indicaram que o novo alimento foi bem aceito pelas abelhas e apresentou composição nutricional semelhante ao alimento natural, tornando-se uma alternativa viável para períodos críticos.
Motivo do sucesso
Segundo a professora Michelle Manfrini Morais, o sucesso do suplemento dependeu não só da escolha criteriosa dos ingredientes, como albumina em pó, farinha de arroz e levedura de cerveja. Mas também de um processo de fermentação que respeitou as necessidades específicas das abelhas. “Selecionamos ingredientes que oferecem um perfil nutricional completo, aliados a fontes energéticas como o açúcar. A fermentação com microrganismos presentes no pólen fermentado foi essencial para aproximar a formulação do alimento natural, respeitando a microbiota e as necessidades nutricionais das abelhas”, explica Morais.
Além de suprir a alimentação em períodos de escassez, a pesquisa contribui para práticas sustentáveis de manejo e conservação das abelhas nativas. “Nosso trabalho amplia o conhecimento sobre a alimentação das abelhas e propõe intervenções conscientes para preservar espécies essenciais aos ecossistemas brasileiros”, destaca Patrícia Miranda Pinto.
A iniciativa reforça a importância de soluções inovadoras para proteger polinizadores ameaçados, fundamentais para a produção agrícola e a biodiversidade do país.
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