A Embrapa Agrossilvipastoril acaba de lançar o Sistema Bacaeri – BoiTeca, uma inovação que promete revolucionar a produção rural no Mato Grosso ao integrar a pecuária de corte com o cultivo de teca (Tectona grandis), madeira nobre de alto valor no mercado internacional. O modelo, que combina pecuária e silvicultura em um mesmo espaço, surge como alternativa para diversificar a renda dos produtores, aumentar a sustentabilidade e ainda sequestrar carbono — tudo isso sem abrir mão da produtividade.
De acordo com o pesquisador Maurel Behling, da Embrapa, o segredo está no efeito bordadura: as árvores plantadas em linhas entre as pastagens crescem mais rápido do que em monocultivos, já que recebem mais luz e enfrentam menos competição por água e nutrientes. “O gado só precisa ser retirado nos primeiros 10 a 18 meses, quando ainda é possível fazer integração com agricultura ou recuperar a pastagem. Depois disso, a sombra das árvores melhora o conforto térmico dos animais, aumentando o ganho de peso e até a produção de hormônios sexuais nos bovinos”, explica Behling.
Da Ásia ao Cerrado: como a teca virou oportunidade para pecuaristas
A teca, originária do Sudeste Asiático, encontrou no clima quente do Mato Grosso condições ideais para se desenvolver. Os primeiros experimentos com sistemas silvipastoris no estado começaram em 2000, na fazenda do produtor Arno Schneider, em Nossa Senhora do Livramento. Mas foi em 2008, na Fazenda Bacaeri, em Alta Floresta, que a técnica ganhou escala comercial com o uso de mudas clonais.

“Ter o sistema batizado com o nome da nossa propriedade é um reconhecimento de que acertamos na aposta”, comemora Antônio Passos, dono da Bacaeri e pioneiro no método. Hoje, Mato Grosso concentra 80% dos 84 mil hectares de teca plantados no Brasil, segundo o Imea, e cerca de 4 mil hectares já usam o sistema integrado com pecuária.
Retorno financeiro e desafios: vale a pena investir?
Dados da Embrapa mostram que, em propriedades como a Bacaeri, o sistema gera R$ 4,70 para cada R$ 1 investido. O custo inicial é alto — cerca de R$ 3,2 mil por hectare —, mas a renda começa a vir antes mesmo do corte das árvores, com a venda de madeira em desbastes a partir do oitavo ano. O grande lucro, porém, vem entre o 18º e 25º ano, quando a teca atinge seu valor máximo.
Mas Behling faz um alerta: “Não adianta plantar e esperar o dinheiro brotar. É preciso manejo rigoroso, desde podas bem-feitas até controle de pragas e incêndios. Quem negligenciar terá prejuízo”. Passos reforça que a teca exige solos adequados e paciência: “O retorno leva mais de 20 anos, e muitos produtores não estão dispostos a esperar”.
Sustentabilidade que vira negócio
Além do ganho financeiro, o BoiTeca ajuda a reduzir emissões de gases de efeito estufa. As árvores estocam carbono, enquanto a pecuária integrada diminui a emissão de metano por quilo de carne produzida. Isso abre portas para certificações como Carne Carbono Neutro (CCN) e até créditos de carbono.
A empresa Teak Resources Company (TRC), parceira da Embrapa, já está implementando o sistema em 350 hectares no MT e Pará e planeja expandir para 12,5 mil hectares em cinco anos. “Pecuaristas mais inovadores já adotaram, mas até os conservadores estão se interessando”, diz Fausto Takizawa, diretor da TRC.
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