Pesquisas conduzidas pela Embrapa, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), prefeituras locais e agricultores familiares, estão revolucionando o cultivo de tomates híbridos no estado. Com foco em sistemas de cultivo protegido, os experimentos têm alcançado índices de produtividade superiores a 70 toneladas por hectare (t/ha), um número impressionante quando comparado à média estadual de 56 t/ha.
“Estamos colhendo resultados muito positivos. O tomate cultivado sob estruturas protegidas não apenas atingiu altas produtividades, mas também apresentou frutos de qualidade superior, com sabor agradável e aparência destacada”, afirma Flávia Teixeira, supervisora de Transferência de Tecnologia da Embrapa Hortaliças, atualmente atuando em Alagoas pela Embrapa Alimentos e Territórios.
Inovação no sertão: cultivo protegido é destaque
Os experimentos incluem o uso de telas de ráfia em cores preta e vermelha, associadas a técnicas de cobertura do solo, como o mulching, e métodos mais tradicionais de solo nu. “As telas de ráfia proporcionam conforto térmico às plantas, reduzindo os impactos das altas temperaturas e insolação no sertão alagoano. Isso se reflete diretamente na produtividade e na qualidade dos frutos”, explica Teixeira.
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Os testes revelaram que os tomates híbridos avaliados, além de suportarem altos níveis de salinidade na água, conseguiu produzir tomates competitivos em relação àqueles cultivados com água doce. O uso de tecnologias como o mulching também reduziu custos e otimizou a produção.
Produção expandida para outras regiões e culturas
Além de Delmiro Gouveia, os experimentos se expandiram para propriedades ao longo do Canal do Sertão, em Olho d’Água do Casado, e para o Agreste, em Arapiraca. Nessas áreas, a viabilidade econômica para pequenos produtores está sendo avaliada, com resultados promissores.
João Raimundo dos Santos, produtor orgânico da Chácara Santa Luzia, em Arapiraca, destaca o impacto positivo da parceria com a Embrapa e a prefeitura local. “Estamos há 30 anos trabalhando com cultivo orgânico. Agora, com a assistência técnica e o conhecimento fornecido por esses especialistas, conseguimos aprimorar nosso solo e nossa produção. Só tenho a agradecer por essa parceria”, comemora.
A diversidade na produção também é uma marca do projeto. Em Olho d’Água do Casado, o fruticultor Cícero Robério dos Santos obteve produtividade recorde no cultivo de melão BRS Anton, alcançando 45 t/ha em uma área reaproveitada após o cultivo de tomate. Ele relatou ter colhido cerca de cinco frutos por planta, com praticamente custo zero para a última safra.
Tecnologia e sustentabilidade na agricultura familiar
A iniciativa busca trazer inovações tecnológicas para pequenos produtores e incentivar a diversificação da produção. Anderson Soares, extensionista da Prefeitura de Arapiraca, destaca que o projeto introduziu o tomate BRS Equatorial como alternativa viável para a região. “Estamos mostrando aos agricultores que é possível agregar valor à produção com um produto de maior qualidade e menor custo de cultivo”, observa.
Magda dos Santos, filha de João Raimundo, reforça a importância das pesquisas para a agricultura familiar. “Os experimentos da Embrapa enriqueceram nosso trabalho. O uso do telado vermelho mostrou melhor produtividade, tanto na quantidade de frutos quanto no desenvolvimento das plantas”, avalia.
Os dados gerados pelos experimentos também têm contribuído para a formação acadêmica. Laiane da Silva, aluna de agronomia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), utiliza os resultados do projeto como base para seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). “Esses estudos permitem compreender como superar adversidades climáticas, como altas temperaturas e salinidade, fortalecendo a horticultura no estado”, ressalta Teixeira.
Parcerias estratégicas e impacto regional dos tomates híbridos
O projeto, intitulado “Produção de tomate pela agricultura familiar no Agreste através de práticas conservacionistas para aumento de produtividade e qualidade de fruto”, é realizado em colaboração com diversas instituições, incluindo Fapeal, Ufal, Sebrae AL, Senar AL, Emater AL e secretarias municipais de agricultura de Arapiraca, Delmiro Gouveia e Olho d’Água do Casado. A iniciativa também conta com o apoio da Superintendência Federal de Agricultura de Alagoas, da Cooperativa Terragreste e da empresa Agrocinco Sementes.
Com os resultados alcançados, espera-se fortalecer a profissionalização do setor agrícola no estado, promovendo a sustentabilidade e a competitividade da horticultura alagoana. Além disso, o projeto contribui diretamente para o desenvolvimento da agricultura familiar, aumentando a renda dos pequenos produtores e incentivando práticas mais eficientes e conservacionistas.