A Comissão Europeia deu um passo inédito ao aprovar o uso do verme-de-farinha (Tenebrio molitor) como “Novo Alimento” para consumo humano em toda a União Europeia. Esta decisão, anunciada recentemente, posiciona os insetos como uma alternativa sustentável e nutritiva no mercado de alimentos, em linha com as metas globais de inovação e redução de impacto ambiental.
De acordo com a regulamentação europeia, “Novos Alimentos” incluem produtos que não foram amplamente consumidos na UE antes de 1997. A inclusão do verme-de-farinha nesse grupo reflete um esforço para diversificar as fontes de proteína disponíveis, promovendo alimentos inovadores que atendam às necessidades de sustentabilidade e segurança alimentar.
A Nutri’Earth, uma startup francesa especializada em alimentos à base de insetos, já está preparada para aproveitar a novidade. A empresa planeja lançar produtos variados com o verme-de-farinha como ingrediente principal, incluindo barras energéticas, snacks e farinhas proteicas.
“Nossos produtos são projetados para oferecer uma alternativa acessível, sustentável e rica em nutrientes. Estamos entusiasmados em contribuir para um futuro alimentar mais consciente e eficiente”, afirmou um porta-voz da Nutri’Earth.
O que é o verme-de-farinha?
O Tenebrio molitor, popularmente conhecido como verme da farinha ou bicho-da-farinha, é a larva do besouro da família Tenebrionidae. As pessoas amplamente reconhecem este inseto por sua capacidade de infestar produtos alimentícios, especialmente grãos armazenados, como farinha e milho. O ciclo de vida do Tenebrio molitor envolve quatro etapas: ovo, larva, pupa e adulto, com um ciclo total que pode variar entre 280 a 630 dias, dependendo das condições ambientais.
As larvas do Tenebrio molitor medem cerca de 2,5 cm de comprimento e são de coloração esbranquiçada a amarelada. Os adultos, por sua vez, possuem uma coloração castanho-escura e variam entre 1,25 cm a 1,8 cm. A longevidade dos besouros adultos pode variar de 25 a 60 dias, dependendo das condições de alimentação e ambiente.
Esses insetos preferem ambientes secos e escuros, sendo frequentemente encontrados em locais como armazéns e depósitos de alimentos. As larvas se alimentam principalmente de farelo de trigo e outros grãos, contribuindo para a deterioração dos produtos armazenados.
Estudos mostram que o verme-de-farinha possui alto teor de proteína, ácidos graxos essenciais, vitaminas e minerais. Além disso, sua produção é significativamente mais sustentável do que a de fontes tradicionais de proteína animal, como carne bovina e suína. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a criação de insetos consome menos água, terra e energia, além de gerar emissões reduzidas de gases de efeito estufa. A utilização das larvas como isca para pesca também é comum devido ao seu alto valor nutricional.
Apoio à sustentabilidade e à inovação
A decisão da Comissão Europeia está alinhada às metas do Pacto Ecológico Europeu, que visa promover práticas agrícolas mais sustentáveis e reduzir o impacto ambiental da produção de alimentos. Usar insetos como fonte de proteína representa uma solução estratégica para enfrentar desafios globais, como o crescimento populacional e as mudanças climáticas.
Leia mais:
+ Agro em Campo: Técnica revoluciona o cultivo de curauá na Amazônia
+ Agro em Campo: Cobra gigante de pedra assusta e impressiona
Com a regulamentação aprovada, a Nutri’Earth espera liderar o mercado europeu na popularização dos produtos à base de insetos. Outros players do setor também devem seguir o exemplo, impulsionando a criação de uma nova categoria de alimentos no mercado.
Especialistas apontam que a aceitação do consumidor será crucial para o sucesso dessa nova indústria. Será necessário intensificar campanhas educacionais e de conscientização para demonstrar os benefícios dos alimentos à base de insetos e superar possíveis barreiras culturais.
Com o aval da União Europeia, o verme-de-farinha deixa de ser apenas uma curiosidade e se torna protagonista em um movimento global por uma alimentação mais sustentável e inovadora.