A estiagem tem causado sérios prejuízos à produção de soja no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul, segundo maior produtor do país. A escassez de chuvas neste verão, comum em anos de La Niña, já compromete lavouras em diversas regiões e reacende o alerta sobre a importância de estratégias de manejo agrícola para reduzir os efeitos do déficit hídrico sobre a produtividade.
De acordo com dados da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (FARSUL), nos últimos cinco anos, o estado deixou de colher cerca de 34,4 milhões de toneladas de grãos de soja devido à estiagem. As perdas se concentram, principalmente, no Centro-Oeste gaúcho, conforme apontam os últimos boletins da Emater/RS.
As lavouras semeadas no início do período recomendado já apresentam plantas com porte reduzido, desfolha acentuada e perdas produtivas irreversíveis. Já as plantações realizadas em dezembro, embora em estágio de floração e formação de vagens, mostram crescimento limitado e produtividade insatisfatória, com plantas que não ultrapassam 30 cm de altura.
Terceiro ano seguido de estiagem no RS compromete produtividade
O Rio Grande do Sul enfrenta o terceiro verão consecutivo com déficit hídrico significativo. Na safra 2021/22, a produtividade caiu para 1.400 kg/ha. Em 2022/23, houve quebra de 30%, com média de 1.980 kg/ha, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mesmo com chuvas em 2023/24, muitas lavouras ainda registraram rendimentos abaixo de 3 mil kg/ha.
Para o agrometeorologista Gilberto Cunha, da Embrapa Trigo, o cenário reforça a necessidade de adaptação às mudanças climáticas. “O produtor precisa investir em cultivos mais resilientes e aderir a instrumentos de seguridade rural, diante da variabilidade cada vez maior na distribuição das chuvas”, afirma.
Outros estados também sofrem com o estresse hídrico na soja
No Mato Grosso do Sul, o Informativo Siga/MS aponta que 46% da área cultivada com soja apresenta sintomas de estresse hídrico. As lavouras mais afetadas foram implantadas entre setembro e meados de outubro. A falta de chuvas em dezembro e janeiro, período crucial para o enchimento de grãos, agravou a situação.
O Paraná também apresenta perdas localizadas. Segundo o Deral/PR, 68% da soja ainda está em maturação, mas onde a colheita começou, os rendimentos são bastante irregulares. Em Santa Catarina, a Epagri/SC observa grande variação nas lavouras, com parte das plantações superando as expectativas e outras com queda significativa na produtividade.
Estratégias para minimizar os impactos da seca na soja
Pesquisadores da Embrapa indicam práticas que podem ajudar produtores a enfrentar os efeitos da estiagem. Confira as principais recomendações:
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Preparação do solo e perfil radicular profundo
A construção de um bom perfil de solo, com fertilidade química, física e biológica adequada, é essencial. O Sistema Plantio Direto e a utilização de espécies com raízes profundas, como braquiária e milheto, favorecem a infiltração de água e o crescimento do sistema radicular da soja, que pode alcançar até 2 metros de profundidade.
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Escolha de cultivares tolerantes à seca
Existem cultivares de soja adaptadas a condições de déficit hídrico. Embora nem sempre liderem em produtividade em condições ideais, essas variedades demonstram maior estabilidade sob estresse hídrico, com raízes vigorosas e boa sanidade.
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População adequada de plantas por hectare
Manter a população de plantas na faixa recomendada é essencial. Populações abaixo do ideal reduzem o fechamento das entrelinhas e aumentam a evaporação da água do solo. Por outro lado, excesso de plantas eleva a competição por recursos e o consumo de água, comprometendo o desempenho em fases críticas.
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Uso eficiente da irrigação
Onde for possível implantar irrigação, é preciso planejar o volume de água necessário com base na capacidade dos reservatórios. O potencial de resposta produtiva da soja à irrigação é alto, especialmente no sul do país. A adoção de boas práticas evita desperdícios e eleva a eficiência do uso da água.
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Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC)
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático é uma ferramenta oficial do governo federal que orienta o melhor período para plantio, considerando os riscos climáticos de cada município. Seguir o ZARC ajuda a reduzir perdas e garantir o acesso a políticas públicas de crédito e seguro rural.
A variabilidade climática tornou-se um fator constante na produção agrícola brasileira. Frente à intensificação das estiagens, especialmente nos estados do Sul, os produtores precisam adotar medidas preventivas e estratégicas para mitigar os prejuízos. Investir em práticas de manejo resiliente, irrigação planejada, escolha adequada de cultivares e o uso do ZARC são caminhos promissores para garantir a sustentabilidade da produção de soja no Brasil.
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