Com a demanda por carne ovina em alta no Brasil, o Ovino Pantaneiro surge como uma alternativa promissora para o Pantanal. Pesquisas lideradas pela Embrapa Pantanal e Embrapa Caprinos e Ovinos indicam que essa raça, adaptada há séculos ao bioma, pode impulsionar a produção regional com sustentabilidade. O projeto “Estratégias para o desenvolvimento de soluções genéticas para sistemas de produção de carne de ovinos no Brasil” visa selecionar animais mais resistentes e produtivos, garantindo competitividade ao setor.
Originário do ciclo das charqueadas no período colonial, o Ovino Pantaneiro descende de raças trazidas por portugueses e espanhóis. Por cinco séculos, sobreviveu a cheias, secas e geadas no Pantanal, desenvolvendo resistência a parasitas e eficiência nutricional. “São animais que dispensam suplementação intensiva e acumulam menos gordura, ideal para sistemas extensivos”, explica Adriana Mello, pesquisadora da Embrapa.
Estudos iniciados em 2005 por uma rede de universidades e a Embrapa confirmaram seu potencial: a raça possui alta prolificidade, precocidade reprodutiva (criação ao longo de todo o ano) e adaptação a pastagens nativas, características que reduzem custos para pequenos produtores.
Desafios da cadeia produtiva
Apesar do potencial, a falta de abatedouros na região é um entrave. Corumbá, cidade com o maior rebanho de Mato Grosso do Sul, não tem infraestrutura para abate, obrigando produtores a depender de frigoríficos distantes. “Isso encarece o processo e limita a escala”, afirma Mello.

Outro desafio é o manejo sanitário: vermifugações sem critérios técnicos geram resistência parasitária. Para resolver o problema, a Embrapa desenvolve protocolos específicos, incluindo alternativas naturais de controle.
Carne premium e oportunidade de mercado
A carne do Ovino Pantaneiro tem valor 30% superior à bovina, com custos de produção menores. “É uma oportunidade para agricultores familiares”, destaca João Pedro Rocha, produtor com 200 cabeças no Pantanal. O governo de MS já criou incentivos, como o Proape Ovinos, que viabiliza abates coletivos via Propriedades de Descanso de Ovinos para Abate (PDOA).
Hoje, 50% da carne ovina consumida no Centro-Oeste é importada, segundo o produtor Carlos Henrique Evangelista. “Há espaço para substituir importações e consolidar a produção local”, reforça.
A pesquisa também explora o conceito de “carne de terroir”, associando o sabor único do Ovino Pantaneiro às condições do bioma. “Chefs e consumidores premium buscam produtos rastreáveis e sustentáveis”, ressalta Adriana Mello. A estratégia pode agregar valor e abrir mercados internacionais.
Características únicas da raça
- Porte médio: adaptação à locomoção em áreas alagadas e vegetação densa.
- Lã seletiva: concentrada no dorso, evitando umidade excessiva em pernas e pescoço.
- Eficiência nutricional: menor exigência calórica e acúmulo de gordura.
- Precocidade: cordeiros atingem 30 kg em 5 meses, aptos para abate.
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