Em meio ao novo capítulo da guerra comercial entre China e Estados Unidos, Pequim surpreendeu o mercado agrícola global ao fechar, nos primeiros dias desta semana, uma compra gigante de soja brasileira. Os chineses contrataram pelo menos 2,4 milhões de toneladas, volume que equivale a quase um terço de toda a soja que costumam processar em um mês.
A informação foi revelada pela agência Bloomberg, que classificou a movimentação como “excepcionalmente grande e rápida”. Nada menos que 40 cargas do grão foram adquiridas para entrega entre maio e julho — período estratégico em que a China tenta garantir seus estoques sem depender dos americanos.
E não foi por acaso. A decisão veio na esteira do aumento das tarifas impostas por Washington sobre produtos chineses, com retaliações à altura por parte de Pequim. Resultado: o comércio bilateral azedou, e os chineses saíram em busca de fornecedores mais confiáveis — e menos custosos.
O Brasil, claro, estava na mira. Maior exportador global de soja, o país já abastece a maior parte das demandas chinesas. Mas essa nova leva indica algo mais: uma tentativa explícita da China de reduzir a dependência da soja americana, principal item agrícola exportado pelos EUA ao país asiático.
Exportação brasileira
Além das questões geopolíticas, o preço ajudou. Depois de meses em alta, os valores da soja brasileira recuaram nas últimas semanas, abrindo espaço para negociações mais agressivas. Do outro lado do mundo, os processadores chineses viram uma chance de ouro: compram mais barato, garantem o abastecimento. Além disso, ainda aproveitam a valorização do farelo de soja no mercado interno, um subproduto essencial para a indústria de ração animal.
Mesmo com o avanço do Brasil, especialistas alertam que é cedo para cravar uma substituição total da soja dos EUA pela brasileira. A infraestrutura logística, os contratos em andamento e a própria volatilidade do mercado ainda pesam. Mas o recado está dado: a China está disposta a diversificar suas apostas.
De acordo com a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), o Brasil deve exportar cerca de 98 milhões de toneladas de soja em 2025 e mais de 60% disso irá para a China. Ou seja, o protagonismo brasileiro tende a crescer.
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