Pesquisadores da Universidade de Tóquio anunciaram um marco na carne cultivada em laboratório: o maior nugget de frango sintético do mundo, com 7 cm de largura e um sistema de “veias” artificiais que imitam a distribuição de nutrientes em tecidos vivos. O avanço, publicado na revista Trends in Biotechnology, promete acelerar a produção de cortes inteiros de carne artificial, aproximando-a da textura e estrutura de produtos tradicionais.
Bioreator com fibras ocas: o segredo do sucesso
O segredo está em um bioreator inovador que usa 50 fibras ocas — semelhantes às de filtros de água — para simular um sistema circulatório. Essas estruturas guiaram o crescimento das células, entregando oxigênio e nutrientes de forma precisa. O resultado foi um pedaço de frango de 10 gramas, quase 70 vezes mais espesso que os aglomerados celulares anteriores (menos de 1 mm).
“Essas fibras minúsculas mostraram ser essenciais para criar tecidos complexos”, explicou Shoji Takeuchi, coautor do estudo e professor de bioengenharia. A técnica, inspirada em máquinas de diálise, pode revolucionar não apenas a indústria alimentícia, mas também a medicina regenerativa e a robótica biohíbrida.
Desafios para chegar ao prato
Apesar do avanço, o caminho até o mercado é longo:
- Sabor e textura: replicar a experiência de carne tradicional ainda é um obstáculo.
- Automação: ss fibras usadas no cultivo são removidas manualmente — processo inviável em larga escala.
- Regulamentação: o nugget foi feito com materiais de laboratório, não alimentícios.
Takeuchi admite: “Porém, precisamos de ingredientes seguros e métodos escaláveis para tornar a carne cultivada acessível”.
Consumidores relutantes e barreiras legais
Nos EUA, 33% rejeitam frango cultivado, segundo pesquisa de 2024 da Universidade Purdue. Preocupações com “artificialidade” e riscos à saúde são entraves, reforçados por leis estaduais: Flórida e Alabama proibiram a venda, enquanto apenas duas empresas californianas têm autorização federal.
Atualmente, só Singapura, EUA e Israel permitem comercialização — e em escala mínima.
O primeiro hambúrguer de laboratório, criado em 2013 com células-tronco bovinas, foi considerado “seco” por críticos. Uma década depois, o nugget japonês mostra que a tecnologia evolui, mas ainda depende de:
- Investimento em automação;
- Aprimoramento de sabor;
- Redução de custos.
Enquanto startups correm para dominar o setor, a pergunta persiste: quando a carne cultivada chegará aos supermercados?
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