A liderança do Brasil como maior produtor mundial de café está revolucionando o mercado de grãos especiais, com pequenos produtores mineiros conquistando paladares exigentes no exterior. A Fazenda Nova Aliança, em Monte Santo de Minas (MG), tornou-se símbolo dessa transformação ao exportar há 13 anos para a renomada Ozone Coffee, do Reino Unido.
Juliana Paulino, produtora à frente da propriedade, detalha o segredo do sucesso: “Enviamos uma amostra sem expectativas e, aos poucos, os pedidos foram aumentando. Todos os anos, eles vêm pessoalmente nos visitar para ver nosso trabalho. Essa proximidade gera confiança, que faz toda a diferença nas negociações.”

Seus cafés, protegidos pela Indicação Geográfica (IG) do Sudoeste de Minas, alcançam hoje mercados como Irlanda e Nova Zelândia, com embarques anuais de seis a oito contêineres.
Fermentação controlada e microlotes: a aposta da Fazenda Nakamura
No Vale do Jequitinhonha, a Fazenda Nakamura surpreendeu o mercado ao desenvolver grãos fermentados que superam 85 pontos na escala de qualidade. Cláudio Nakamura, produtor da propriedade, explica a estratégia:
“Esse tipo de café é muito apreciado lá fora e já começa a ser mais consumido no Brasil. O mercado internacional valoriza boas práticas, então mantemos processos sustentáveis mesmo com desafios na mão de obra.”

Apesar de adotar maquinário recentemente, Nakamura mantém a filosofia artesanal: “Prefiro trabalhar com pessoas. A colheita manual é feita com cuidado e carinho com as plantas – isso se reflete no produto final.”
Seus microlotes, comercializados via Noca Coffee, já alcançam EUA, Canadá e Europa.
Estratégias comprovadas para exportação de sucesso
Gustavo Reis, analista do Sebrae Nacional, destaca três pilares para competir globalmente: “O café brasileiro como commodity já alcança vários países. O diferencial está em agregar valor através da história do produtor, exclusividade dos lotes e certificações como a Indicação Geográfica.”
Ele reforça que a união em cooperativas tem sido decisiva: “Quando pequenos produtores contam sua história coletiva, atraem compradores para um turismo de negócios que gera resultados concretos.”
A IG do Sudoeste de Minas, conquistada com apoio do Sebrae, reúne 21 municípios e funciona como selo de qualidade reconhecido internacionalmente.
Sustentabilidade como exigência mínima
Ambos os produtores enfatizam que práticas ambientais responsáveis deixaram de ser diferencial para se tornarem requisito básico. Juliana Paulino explica:
“A qualidade é obrigatória, mas o mercado internacional exige responsabilidade em todos os níveis – desde o tratamento dos colaborares até o manejo do solo.”
Nakamura complementa: “Investimos em técnicas que preservam os recursos hídricos e a biodiversidade local. Sem isso, não conseguiríamos manter clientes no exterior.”
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