A possível retirada do herbicida Roundup do mercado norte americano está gerando preocupação entre agricultores, especialistas e a empresa Bayer. Ela enfrenta uma avalanche de processos judiciais relacionados ao produto. O herbicida, amplamente utilizado na agricultura mundial, tem como ingrediente ativo o glifosato, substância acusada de causar câncer em humanos. Segundo matéria do Wall Street Journal, a Bayer planeja descontinuar o produto depois de tantos processos.
Desde que adquiriu a Monsanto em 2018, a Bayer tem enfrentado milhares de ações judiciais. Elas alegam que o glifosato é carcinogênico e que a empresa falhou em alertar os consumidores sobre os riscos à saúde. Em 2020, a Bayer concordou em pagar cerca de US$ 11 bilhões para resolver grande parte das reivindicações, mas ainda há muitos casos pendentes. Recentemente, um tribunal nos Estados Unidos ordenou que a empresa pagasse US$ 2,1 bilhões em um único caso envolvendo um consumidor diagnosticado com linfoma não-Hodgkin após anos de uso do Roundup.
Esses processos têm causado impactos financeiros significativos à Bayer, que agora considera encerrar a produção do herbicida devido aos custos crescentes com indenizações e à pressão regulatória. A empresa pode decidir o assunto nos próximos meses e deve ter implicações profundas para a agricultura global.
Dependência agrícola e impactos econômicos
Agricultores consideram o Roundup uma ferramenta essencial devido à eficácia no controle de ervas daninhas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o glifosato é usado em cerca de 87% das áreas cultivadas com milho, soja e algodão. Um estudo recente aponta que sua retirada do mercado resultaria em aumento significativo dos custos de produção de até 2,5 vezes por acre. E poderia gerar impactos ambientais negativos, como aumento nas emissões de gases de efeito estufa devido ao retorno de práticas agrícolas mais intensivas, como o preparo do solo.
Pequenos agricultores seriam os mais afetados por esses custos adicionais, enquanto consumidores enfrentariam preços mais altos nos alimentos devido à inflação nos insumos agrícolas. Além disso, alternativas ao Roundup ainda são limitadas e podem levar anos para serem desenvolvidas e regulamentadas.
O que é o glifosato?
Trata-se de um princípio ativo, isto é, uma molécula desenvolvida na fabricação de produtos químicos. Inicialmente, o glifosato surgiu na indústria farmacêutica e também chegou a ser usado para limpar metais. Porém, se popularizou nos herbicidas da Monsanto, que hoje pertence à Bayer.
O herbicida à base de glifosato é aplicado nas folhas de plantas daninhas, aquelas que nascem espontaneamente no meio das lavouras e prejudicam a produção agrícola. Ele bloqueia a capacidade da planta de absorver alguns nutrientes.
Alternativas ao glifosato
Embora existam opções naturais e orgânicas para substituir o Roundup, como herbicidas à base de vinagre, sal ou ferro, essas alternativas têm limitações em termos de custo e eficácia. Métodos manuais, como cobertura do solo (mulching) ou remoção manual das ervas daninhas, também são sugeridos. Mas são menos práticos para grandes áreas agrícolas.
A controvérsia sobre o glifosato persiste. Enquanto estudos apontam uma ligação entre o químico e o câncer — levando a sua classificação como “provável carcinógeno” pela Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer — Bayer continua defendendo sua segurança com base em evidências científicas e pareceres regulatórios globais. Nos Estados Unidos, a EPA (Agência de Proteção Ambiental) deve concluir sua revisão sobre o registro do glifosato até 2026.
A possível descontinuação do Roundup marca um ponto crítico na história da agricultura moderna. Para os agricultores que dependem dessa tecnologia há décadas, o desafio será adaptar-se a um futuro sem o “herbicida do século”.
Posição no Brasil
Entramos em contato com a assessoria da Bayer no Brasil, para saber se essa mudança afetaria o Brasil. Publicamos a resposta na integra abaixo.
“Apesar do histórico científico claro, a indústria de litígios dos EUA continua a usar informações enganosas para questionar a segurança do glifosato em busca de retornos financeiros. A luta contra a indústria de litígios já custou mais de US$ 10 bilhões até o momento, sem uma resolução clara. Uma coisa é certa: não podemos continuar a vender um produto já aprovado e perder bilhões de dólares fazendo-o. Infelizmente, estamos nos aproximando de um ponto em que os esforços da indústria de litígios vão nos forçar a parar de vender este produto.
E por mais que glifosato seja o assunto hoje, não há dúvidas de que todos os produtos de proteção de cultivos podem ser alvo da indústria de litígios. É por isso que, nos EUA, estamos ativamente engajados em esforços legislativos, nas esferas federal e estaduais, para apoiar políticas que protejam o acesso de agricultores a um produto essencial de proteção de cultivos. A agência regulatória americana (EPA) tem afirmado repetidamente que o glifosato é seguro para uso conforme instruções de bula. E a legislação que apoiamos reforça o a autoridade da EPA em suas decisões rigorosas e embasadas em ciência. Essa consistência garante que o rótulo segue a lei, ajudando a eliminar as premissas infundadas dos ataques legais que têm solicitado uniformidade nos rótulos nos EUA.
Nenhuma decisão foi tomada até aqui e nós não trabalhamos com um cronograma específico. Conforme mencionamos na nossa mais recente divulgação de resultados, estamos focados em uma série de itens prioritários neste ano para contermos o litígio relacionado a glifosato. Esperamos que possamos encontrar uma solução para que não sejamos obrigados a interromper as vendas desse produto.”
Leia mais:
+ Agro em Campo: Fazenda amplia produção com investimento em robôs
+ Agro em Campo: Abril Vermelho: como o produtor rural deve agir em caso de invasão de terras