O Papa Leão XIV, nascido Robert Francis Prevost, construiu parte fundamental de seu ministério religioso nas comunidades rurais do Peru, onde atuou por mais de duas décadas como missionário, bispo e defensor dos pequenos produtores. Sua história está profundamente ligada à realidade agrícola e social do país, especialmente nas regiões de Piura, Trujillo e Chiclayo, áreas marcadas pela agricultura familiar, cultivos tradicionais e desafios socioeconômicos.
Atuação pastoral e desenvolvimento comunitário
Prevost chegou ao Peru em 1985 como membro da Ordem de Santo Agostinho, inicialmente na Prelazia de Chulucanas (Piura), região conhecida pela produção de manga, limão e café — cultivos essenciais para a economia local. Sua missão combinava evangelização com projetos sociais:
- Educação rural: criou escolas técnicas para jovens agricultores, ensinando técnicas sustentáveis de cultivo.
- Infraestrutura: impulsionou a construção de poços artesianos e sistemas de irrigação em áreas semiáridas, beneficiando cultivos como milho e feijão6.
- Apoio a migrantes: acolheu famílias deslocadas por conflitos e desastres climáticos, integrando-as a cooperativas agrícolas.
Em Chiclayo, onde foi bispo (2015–2023), destacou-se pela defesa dos trabalhadores rurais, especialmente os envolvidos na produção de cana-de-açúcar e arroz, bases da economia da região de Lambayeque. Promoveu feiras para escoamento direto da produção, reduzindo a dependência de intermediários.
O que produziam as comunidades rurais peruanas
As comunidades rurais do Peru são reconhecidas por sua diversidade produtiva. Entre os principais cultivos tradicionais estão arroz, batata, milho, cana-de-açúcar, banana e mandioca, alimentos essenciais para o abastecimento interno. Nos últimos anos, o Peru também se destacou internacionalmente com a produção e exportação de mirtilos, uvas, quinoa, aspargos, frutas cítricas, abacates, alcachofras, mangas, cacau e café, produtos que ganharam relevância tanto no mercado interno quanto externo.
Além dos cultivos convencionais, práticas como agrofloresta e sistemas tradicionais, como o “Waru Waru” nas regiões andinas, e a “Chacra Huerto” na Amazônia peruana, são comuns. Essas técnicas mesclam produção de alimentos, árvores frutíferas, espécies madeireiras e criação de animais, promovendo sustentabilidade e resiliência frente às mudanças climáticas.
Agricultura familiar e inovação social
Durante sua missão, Prevost esteve próximo de agricultores familiares que, além de produzir alimentos básicos, investem em métodos sustentáveis como agroflorestas e sistemas integrados. Nessas propriedades, é comum a produção de café, cana-de-açúcar (para melado e cachaça), frutas, madeira, arroz, leite e carne, além do uso de técnicas ecológicas e construção de moradias sustentáveis.
Legado: uma Igreja conectada ao campo
Seu trabalho enfrentou obstáculos como mudanças climáticas (secas no norte) e conflitos por terra, comuns em áreas de expansão agroindustrial. Em resposta, ele incentivou práticas agroecológicas e mediou diálogos entre agricultores e o governo. Prevost deixou um modelo de pastoral rural baseado em:
- Crédito solidário: parcerias com cooperativas como Cresol para financiar pequenos produtores.
- Resiliência climática: projetos de reflorestamento e captação de água na Serra Piurana.
- Valorização cultural: festivais para promover produtos nativos, como a batata-doce e a quinoa.
Em seu primeiro discurso como Papa Leão XIV, mencionou Chiclayo de forma emocionada. E lembrou de “um povo fiel que partilha sua fé e seu suor na terra”.
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