Em meio aos desafios das mudanças climáticas, uma pesquisa inovadora desenvolvida pela ESALQ-USP, em parceria com o Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), revela que a integração de culturas de cobertura em plantações de soja no Cerrado brasileiro está transformando a agricultura sustentável. Os estudos, conduzidos há seis anos em Rio Verde (GO) e dez anos em Rondonópolis (MT) — dois dos maiores polos sojícolas do país —, demonstram que gramíneas e leguminosas, como braquiária, crotalária, milheto e feijão-guandu, não apenas melhoram a saúde do solo. Mas também elevam o sequestro de carbono e impulsionam a produtividade das lavouras.
Liderada pela engenheira agrônoma Victória Santos Souza, sob orientação do professor Maurício Roberto Cherubin, a pesquisa comprovou que sistemas diversificados superam os modelos tradicionais de monocultura. A combinação de braquiária, crotalária e milheto, por exemplo, aumentou em 19% o estoque de carbono no solo, elevou a saúde da terra em 13% e ampliou a produtividade da soja em 11% em comparação com cultivos convencionais, como soja-milho ou soja em pousio. “A diversidade vegetal gera mais matéria orgânica, tornando o sistema mais resiliente e capaz de mitigar emissões de gases de efeito estufa”, explica Souza.
Braquiária é destaque
Um dos destaques do estudo é o papel da braquiária, que produz até 9 toneladas de biomassa por hectare, protegendo o solo contra temperaturas extremas e melhorando a retenção de água. Além disso, solos mais saudáveis reduzem em 26% a variabilidade na produtividade da soja, garantindo estabilidade mesmo em condições climáticas adversas.
Os resultados ganham ainda mais relevância diante da urgência em reduzir emissões no Cerrado, bioma responsável por 48% da produção nacional de soja. E que, segundo o SEEG (2022), tem o Mato Grosso como maior emissor de gases do efeito estufa no agro. Com práticas como essas, o Brasil avança na criação de sistemas agrícolas que combinam alta produtividade com sustentabilidade — um modelo que, se expandido, pode colocar o país na vanguarda da agricultura de baixo carbono. A próxima fase da pesquisa focará no refinamento do balanço de carbono em nível de talhão, abrindo caminho para políticas públicas e adoção em larga escala por produtores rurais.
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