A recente proibição das exportações de carne de frango do Rio Grande do Sul, maior estado exportador do Brasil, devido à confirmação do primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial em Montenegro, pode impactar significativamente o bolso do consumidor brasileiro. A suspensão das vendas para países como China e União Europeia, principais importadores da proteína, aumenta a oferta interna de frango, o que tende a pressionar os preços para baixo no mercado doméstico nos próximos meses.
A China, que representa cerca de 10,9% das exportações brasileiras de frango, suspendeu as compras por pelo menos 60 dias, enquanto a União Europeia, que consome cerca de 7% do total exportado, também interrompeu as importações. Essa interrupção pode afetar entre 15% e 20% das exportações mensais do produto, segundo análises preliminares.
Oferta e procura
Com a maior disponibilidade do frango no mercado interno, a proteína deve ficar mais acessível para as famílias brasileiras, aliviando o orçamento doméstico. A produção, que estava planejada para atender a uma demanda maior no exterior, agora enfrenta uma oferta excedente que pode reduzir os preços no curto prazo. Além disso, a queda no preço do frango pode provocar um efeito cascata, influenciando a redução dos preços de carnes substitutas, como a carne de porco e cortes bovinos mais baratos.
No entanto, a suspensão das exportações também traz prejuízos para o setor produtivo e para a economia do estado do Rio Grande do Sul, que em 2023 gerou receita de US$ 1,45 bilhão com exportações de carne de frango para 137 países. O governo brasileiro adotou medidas de emergência sanitária e está negociando a regionalização dos protocolos para limitar as restrições apenas à área afetada, buscando retomar o comércio internacional o mais rápido possível.
Assim, a proibição temporária das exportações de frango devido à gripe aviária deve beneficiar o consumidor brasileiro com preços mais baixos no mercado interno. Mas representa um desafio econômico para os produtores e para o setor exportador do país.
Em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 10 bilhões em carne de frango, representando 35% do comércio global. A China, Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos figuram entre os principais destinos da produção brasileira. Qualquer sinal de instabilidade sanitária pode gerar restrições comerciais imediatas, como ocorreu anteriormente com o Japão.
Especialista avalia que reação do mercado pode ser maior que risco real
Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, alerta para a necessidade de cautela antes de tirar conclusões precipitadas sobre os impactos no mercado. Ele destaca que notícias desse tipo costumam gerar medo e chamar atenção, mas é fundamental analisar com calma. O Ministério da Agricultura e a Vigilância Sanitária mantêm protocolos claros para conter riscos de doenças, atuando rapidamente para mitigar os efeitos, tanto por parte do governo quanto dos produtores.
O especialista aponta que os impactos mais imediatos podem afetar ações de empresas com forte exposição ao setor avícola. Vasconcellos menciona que pode haver impacto de curto prazo em companhias como a BRF, mas também existe grande chance de uma sobre-reação do mercado diante de um evento ainda controlado.

Além disso, a fusão entre a Marfrig (MRFG3) e a BRF (BRFS3) movimentou o mercado em 16 de maio. A operação prevê a incorporação total das ações da BRF pela Marfrig, criando a MBRF Global Foods Company, com receita combinada de R$ 152 bilhões. A relação de troca é de 0,8521 ação da Marfrig para cada ação da BRF, acompanhada da distribuição de R$ 6 bilhões em proventos. Como resultado, as ações da Marfrig subiram mais de 17%, enquanto as da BRF caíram cerca de 2%, refletindo as percepções do mercado sobre os termos da fusão.
Vasconcellos ressalta a importância de acompanhar os desdobramentos nos próximos dias. Ele afirma que alguns países podem impor embargos temporários, mas se o Brasil mantiver transparência com seus parceiros internacionais e focar no controle da situação, os efeitos devem ser limitados. Historicamente, a sobreoferta de frango no mercado interno pode levar a uma redução pontual de preços, mas ainda é cedo para projeções concretas.
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