Os clones de cacau CCN51, PS1319 e BN34, adaptados ao clima paulista, apresentam grande potencial produtivo. Essas cultivares fazem parte do Programa Cacau SP, desenvolvido pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA), por meio da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), em parceria com o Instituto de Tecnologia dos Alimentos (ITAL) e a Apta Regional. As plantas se desenvolveram bem, atraindo o interesse dos produtores rurais, especialmente na região de São José do Rio Preto.
Para o produtor Diego Francisco Ferreira da Silva, o cultivo de cacau representa uma oportunidade para diversificar a renda e agregar valor a uma cultura promissora. Durante a pandemia, em 2020, Diego intensificou sua participação nas atividades agrícolas da família, na propriedade localizada em Mendonça. Em 2021, a família trabalhava com silagem, pecuária leiteira e plantio de grãos. Por sugestão dos técnicos da CATI, Diego decidiu conhecer melhor o cultivo de cacau.
Em 2024, a família destinou um hectare para plantar as primeiras mil mudas de cacau, em sistema consorciado com bananeiras. “O sistema se mostrava vantajoso, pois teríamos renda já nos primeiros anos e agregava valor numa cultura promissora, que ainda estava por vir”, afirma Diego. Agora, eles expandem a área cultivada para mais um hectare e esperam colher a primeira safra no início de 2026. A propriedade, chamada Rancho do Cacau, já desenvolve um projeto voltado à produção de chocolates.
“Trabalhamos por meio da agricultura familiar e o cacau se tornou algo atrativo comercialmente. Além disso, também abrimos as portas para o turismo rural. Queremos divulgar um pouco mais sobre a cultura da amêndoa, desenvolver experimentos e dados científicos”, reforça Diego.
Crescente interesse pelo cacau paulista
O Programa Cacau SP também atrai produtores de outras regiões do Brasil, como Joilson dos Santos de Jesus, técnico agrícola e produtor de cacau que saiu de Igrapiúna, Bahia, em busca de mais conhecimento e oportunidades em São Paulo. Ele se surpreendeu positivamente com a região de Rio Preto.
A empresária Renata Martucci, de Jaboticabal, também se interessou pelo programa. Antes, sua matéria-prima vinha da região baiana de Ilhéus, o que gerava problemas de fornecimento pela longa distância. Após conhecer o Cacau SP, Renata mudou de fornecedor. “Essa proximidade com os produtores encurta distâncias e sana alguns gargalos que tínhamos quanto à matéria-prima”, explica. Adepta do movimento Bean to Bar e da produção sustentável, ela produz chocolates artesanais sem adição de ingredientes artificiais.
Programa Cacau SP
Atualmente, o cacau já cresce em 60 propriedades distribuídas em 38 municípios paulistas, todas apoiadas pelo Programa Cacau SP, conforme explica Fernando Miqueletti, diretor da CATI Rio Preto. As regionais da CATI com propriedades cultivando cacau incluem Andradina, Araçatuba, Araraquara, Avaré, Barretos, Campinas, Catanduva, Dracena, Jales, Limeira, Marília, Mogi Mirim, Piracicaba, Presidente Prudente, Registro, Ribeirão Preto, São João da Boa Vista, Rio Preto e Votuporanga. “Este fato mostra a crescente evolução do programa, que tem ampliado sua capilaridade por boa parte do estado”, destaca Fernando.
Fioravante Stucchi Neto, assistente agropecuário da CATI, informa que o cacau começa a produzir aos três anos, aumentando a produção até os cinco anos. “Em áreas experimentais, já colhemos de dois a três mil quilos da fruta por hectare, superando a média nacional de 350 quilos por hectare”, aponta. Ele lembra que a região de Rio Preto cultiva cacau desde 2012, integrado à seringueira.
Em parceria com o ITAL, a CATI capacita produtores no pós-colheita e no processamento das amêndoas, permitindo a produção de chocolate, farinhas, chás e achocolatados. Além da venda direta para fábricas ou consumidores finais, Fioravante destaca que os produtores podem firmar parcerias com governos municipais para inserir os produtos na merenda escolar. “Um bom exemplo ocorre em Mendonça, onde os produtores de cacau já atendem 50% das escolas da cidade”, ressalta.
Unidade de manejo e processamento das amêndoas
Para facilitar o processamento, a CATI criou uma unidade de manejo e processamento das amêndoas em Mendonça, equipada com descascador, torrador e moedor, disponíveis para uso dos produtores. O órgão oferece cursos gratuitos, orientação técnica e assessoria completa para o cultivo de cacau. Tudo isso com foco na sustentabilidade e na ampliação da rentabilidade no campo. O cacau pode crescer isoladamente ou integrado a outras culturas, como seringueira, banana ou sistemas agroflorestais.
Além disso, a CATI Sementes e Mudas resolveu um gargalo importante na cadeia produtiva do cacau: a qualidade das mudas. O viveiro em Pederneiras produz até 100 mil mudas por ano, incluindo estacas, enxertia e mudas micropropagadas. A equipe também orienta e forma viveiristas para ampliar a produção de mudas de cacau em São Paulo, fortalecendo a extensão rural.
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