Pesquisa inédita baseada no conhecimento ecológico local de pescadores artesanais revela redução no tamanho e na quantidade de peixes-papagaio em comunidades do Nordeste brasileiro ao longo de 70 anos. O estudo, publicado na revista Reviews in Fish Biology and Fisheries, entrevistou 200 pescadores em 14 comunidades e identificou declínios em espécies endêmicas como Sparisoma axillare, Sparisoma frondosum e Scarus trispinosus.
Os pescadores adaptaram suas estratégias, buscando áreas mais profundas e aumentando o esforço de pesca, mas relataram diminuição nas capturas. Essas espécies exercem papel fundamental na saúde dos recifes de coral, controlando o crescimento de algas e abrindo espaço para novos organismos, segundo a Dra. Luísa Queiroz Véras, da Universidade Federal de Pernambuco, autora principal do estudo.
O Scarus trispinosus, conhecido como budião-azul, está na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) desde 2012. Outras espécies, como Sp. axillare, Sp. zelindae e Sp. frondosum, constam como vulneráveis pelo Ministério do Meio Ambiente. A fiscalização e regulamentação ainda enfrentam desafios para garantir a recuperação dessas populações.
Primeira pesquisa baseada no conhecimento dos pescadores
O estudo destaca o aumento da pesca com armadilhas, especialmente para Sp. axillare e Sp. frondosum. Essa prática pode mascarar o declínio ao explorar áreas mais profundas. O coautor Dr. João Feitosa ressalta que esta é a primeira pesquisa nacional baseada no conhecimento histórico dos pescadores, fundamental para o desenvolvimento de ações de manejo eficazes e participativas.
Os pesquisadores integram o Projeto Budiões, que promove a conservação dos peixes-papagaio e dos recifes de coral brasileiros. Ele contaa com apoio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. A iniciativa fomenta a colaboração entre comunidades locais, cientistas e gestores públicos.
Os dados do estudo devem subsidiar o novo plano federal de ação para a conservação dos peixes-papagaio, em elaboração. Entre as recomendações estão o fortalecimento do monitoramento, a melhoria na rotulagem do pescado para exportação e a criação de estratégias adaptadas às realidades locais, com participação ativa das comunidades pesqueiras.
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